Está marcada para esta quinta-feira da manhã, no Tribunal de Leiria, a leitura da sentença a aplicar à mulher que viveu com o pai morto dentro de casa, nas Caldas da Rainha, ocultando o cadáver e beneficiando da pensão de aposentação do idoso, no valor mensal de 1.167,20 euros, por ter trabalhado nos CTT.
O caso foi descoberto ao princípio da noite de 16 de junho de 2016, após denúncia de uma sobrinha. A mulher está acusada dos crimes de profanação de cadáver, burla tributária e burla informática. Jorge Mendonça, de 87 anos, morreu em casa e a filha, Amália Maria, que foi viver com ele antes de dezembro de 2015, nada disse à família nem às autoridades, acabando por manter o cadáver do pai na habitação, no primeiro andar do lote 4, na Rua Projectada à Rua da Estação, ao longo de, pelo menos, seis meses. O irmão e a sobrinha da arguida (neta do falecido) relataram que estranharam o facto do veículo de o idoso estar há vários meses num parque de estacionamento, com sinais de abandono e sem pagamentos em dia, e pediram à PSP para se deslocar a casa do mesmo. Quando a PSP e os bombeiros das Caldas da Rainha foram chamados, o cheiro nauseabundo que emanava do interior do apartamento não deixava dúvidas: o morador estava em avançado estado de decomposição. Vizinhas relataram que nunca se aperceberam de nada estranho. Uma referiu que sentiu um mau cheiro, mas atribuiu-o aos canos. Outra adiantou que a arguida tinha sempre as janelas fechadas e até pensou que ela acumulasse lixo. O corpo foi encontrado deitado no chão da cozinha coberto com café e chocolate em pó, usados para disfarçar o cheiro, e a cozinha estava fechada com a chave na porta. Sem provas de que tenha ocorrido um crime de homicídio, o Ministério Público arquivou o inquérito nesta parte, no entanto, mais de um ano depois do achado a mulher foi acusada de ter tido conhecimento da morte do pai durante vários meses e de não ter comunicado às autoridades para se aproveitar da pensão, que continuava a ser depositada na conta bancária do progenitor, e utilizar esse dinheiro para fazer compras. Amália Maria, com cerca de 60 anos, antiga educadora de infância, apesar de alternar a residência entre o apartamento e a sua própria habitação, a poucas centenas de metros de distância, ia todos os dias a casa do pai, pelo que o Ministério Público entende não ser credível a possibilidade dela não ter conhecimento de que ele estava morto. Como sofre de psicose esquizofrénica paranóide crónica, agravada pela presença de alucinações auditivas, foi-lhe aplicada, após primeiro interrogatório judicial, a medida de segurança de internamento por força. Nas alegações finais do julgamento, em cuja sessão a mulher faltou, tendo de pagar uma multa, o Ministério Público pediu a condenação da mulher.
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