O objectivo declarado do dito acordo é resolver o conflito israelo-plestiniano, mas sem consultar os palestinianos ou a Liga Árabe. Esta manobra de diversão parece ter resultado para Trump, que se livrou do impeachment. Já Netanyahu, apesar de ter ganhado as eleições de 2 de Março, aliado à extrema-direita e a ultra-ortodoxos, não conseguiu a maioria que lhe permitiria fazer uma lei retroactiva que lhe concederia imunidade e evitaria o julgamento em 17 de Março por suborno, fraude e abuso de confiança.
Trump e Netanyahu conceberam o futuro Estado palestiniano disperso por Gaza e Cisjordânia, com ligação por túnel. O vale e o rio Jordão ficarão para Israel, subtraindo-os à actividade agrícola dos palestinianos, assim como 30% da actual Cisjordânia. Passam a pertencer em definitivo a Israel os colonatos ilegalmente estabelecidos na Palestina e recusa-se o regresso dos refugiados palestinianos às suas casas, de onde foram escorraçados. Águas territoriais e espaço aéreo continuarão sob soberania israelita, claro.
Como se isto não fosse suficientemente absurdo e hostil, propõe-se compensar a Palestina com um pequeno deserto na fonteira com o Egipto e determinado montante em dólares. E, para finalizar o “Acordo do Século”, o novo “Estado” palestiniano não terá controlo de fronteiras nem forças armadas.
Trump e Netanyahu concordam que este futuro “Estado” palestiniano seja confinado a 11% do território e não tenha água nem meios de garantir qualquer espécie de soberania. Este “Estado” palestiniano terá a capital numa pequena parte periférica de Jerusalém. Trump até propõe que os palestinianos chamem a esse bairro limítrofe Al Quds (Jerusalém, em árabe).
O presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmoud Abbas, anunciou o fim de todas as relações, incluindo as de segurança, com Israel e EUA, fez saber que o “Acordo do Século” é um insultuoso exercício de arrogância, que Jerusalém não está à venda e a solução para a paz é a dos dois Estados com as fronteiras de 1967. A Liga Árabe também recusou o acordo, embora haja hesitação e ambiguidade de alguns dos seus Estados — Bahrein, Emirados Árabes Unidos e Omã —, por receio de afastar os EUA do papel preventivo das aspirações expansionistas do Irão.
Desde o chamado Plano de Partilha da Palestina, de 1947, este território é um barril de pólvora sucessivamente explodido por diversos rastilhos. Este novo plano de legitimação do colonialismo israelita é o mais recente e incomensurável rastilho, depois da Guerra dos Seis Dias, em 1967; da Guerra do Yom Kippur, em 1973; da Primeira Intifada, em 1987; do início da Segunda Intifada, em 2000; dos confrontos de 2014; e de um sem-número de atentados, assassinatos, agressões e violações de direitos humanos e de normas de direito internacional e resoluções da ONU, sempre com a complacência pusilânime da comunidade internacional.
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