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Manobras de diversão

Francisco Martins da Silva

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Donald Trump chamou “Acordo do Século” ao plano cozinhado com Israel para, atendendo exclusivamente aos interesses coloniais dos israelitas, desviar as atenções do seu processo de destituição e das acusações de corrupção que pendem sobre Benjamin Netanyahu.
Francisco Martins da Silva

Donald Trump chamou “Acordo do Século” ao plano cozinhado com Israel para, atendendo exclusivamente aos interesses coloniais dos israelitas, desviar as atenções do seu processo de destituição e das acusações de corrupção que pendem sobre Benjamin Netanyahu.

O objectivo declarado do dito acordo é resolver o conflito israelo-plestiniano, mas sem consultar os palestinianos ou a Liga Árabe. Esta manobra de diversão parece ter resultado para Trump, que se livrou do impeachment. Já Netanyahu, apesar de ter ganhado as eleições de 2 de Março, aliado à extrema-direita e a ultra-ortodoxos, não conseguiu a maioria que lhe permitiria fazer uma lei retroactiva que lhe concederia imunidade e evitaria o julgamento em 17 de Março por suborno, fraude e abuso de confiança.

Trump e Netanyahu conceberam o futuro Estado palestiniano disperso por Gaza e Cisjordânia, com ligação por túnel. O vale e o rio Jordão ficarão para Israel, subtraindo-os à actividade agrícola dos palestinianos, assim como 30% da actual Cisjordânia. Passam a pertencer em definitivo a Israel os colonatos ilegalmente estabelecidos na Palestina e recusa-se o regresso dos refugiados palestinianos às suas casas, de onde foram escorraçados. Águas territoriais e espaço aéreo continuarão sob soberania israelita, claro.

Como se isto não fosse suficientemente absurdo e hostil, propõe-se compensar a Palestina com um pequeno deserto na fonteira com o Egipto e determinado montante em dólares. E, para finalizar o “Acordo do Século”, o novo “Estado” palestiniano não terá controlo de fronteiras nem forças armadas.

Trump e Netanyahu concordam que este futuro “Estado” palestiniano seja confinado a 11% do território e não tenha água nem meios de garantir qualquer espécie de soberania. Este “Estado” palestiniano terá a capital numa pequena parte periférica de Jerusalém. Trump até propõe que os palestinianos chamem a esse bairro limítrofe Al Quds (Jerusalém, em árabe).

O presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmoud Abbas, anunciou o fim de todas as relações, incluindo as de segurança, com Israel e EUA, fez saber que o “Acordo do Século” é um insultuoso exercício de arrogância, que Jerusalém não está à venda e a solução para a paz é a dos dois Estados com as fronteiras de 1967. A Liga Árabe também recusou o acordo, embora haja hesitação e ambiguidade de alguns dos seus Estados — Bahrein, Emirados Árabes Unidos e Omã —, por receio de afastar os EUA do papel preventivo das aspirações expansionistas do Irão.

Desde o chamado Plano de Partilha da Palestina, de 1947, este território é um barril de pólvora sucessivamente explodido por diversos rastilhos. Este novo plano de legitimação do colonialismo israelita é o mais recente e incomensurável rastilho, depois da Guerra dos Seis Dias, em 1967; da Guerra do Yom Kippur, em 1973; da Primeira Intifada, em 1987; do início da Segunda Intifada, em 2000; dos confrontos de 2014; e de um sem-número de atentados, assassinatos, agressões e violações de direitos humanos e de normas de direito internacional e resoluções da ONU, sempre com a complacência pusilânime da comunidade internacional.

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