Este magnífico espécimen arquitetónico e religioso, originário do século XVIII, é um monumento notável. A sua inauguração remete-nos para o distante ano, de 1747, estava D. João V “O Magnânimo” (1689-1750) sentado no trono português (casado com Dona Maria Anna Josefa, arquiduquesa de Áustria (1683-1754). Este monarca possuía indubitavelmente uma grande visão cultural, basta, para o comprovar, ver os imensos vestígios do seu tempo de reinado: O Palácio Nacional de Mafra, a maior parte da coleção do Museu Nacional dos Coches, o Aqueduto das Águas Livres de Lisboa, a Biblioteca Joanina da Universidade de Coimbra, a Academia Real da História Portuguesa, a criação do Patriarcado de Lisboa, e o Tratado de Madrid de 1750. O risco da obra do Santuário do Jesus da Pedra é de autoria do arquiteto capitão Rodrigo Franco (1709?-1763), “e tem a particularidade de articular um volume cilíndrico (exterior) com um polígono hexagonal (interior), em planta centrada à qual se anexam três corpos (dois correspondentes às torres e outro que corresponde à sacristia). No seu programa de simetrias destaca-se o jogo de janelas invertidas. O seu interior apresenta três capelas: a capela-mor dedicada ao calvário, com uma tela de André Gonçalves, e as capelas laterais dedicadas a Nossa Senhora da Conceição e à Morte de São José, com telas de José da Costa Negreiros. A “estranha” imagem de pedra de Cristo Crucificado, em maquineta própria no Altar-Mor, esteve até à inauguração do Santuário recolhida numa pequena ermida junto à estrada para Caldas da Rainha onde era objecto de grande devoção, nomeadamente do Rei D. João V.”. O Santuário do Jesus da Pedra deve a sua nomenclatura a uma provecta cruz de pedra, cinzelada com uma efígie antropomórfica, em que se admitia existir um condão espiritual muito intenso. Conta a lenda que essa imagem do Senhor da Pedra foi encontrada, entre 1734 e 1735, por um agricultor – enquanto caminhava junto a um silvado – que rogava a Deus para que protegesse as suas searas. Existem outras lendas, mas essa é aquela em que acredito, pois foi-me passada pelo meu avô Manuel Calisto (nascido e criado dentro das muralhas, na vila de Óbidos) que a ouvira de seus antepassados. Refiro que, os meus sétimo-avós, do ramo paterno, no ano de 1734, residiam dentro das muralhas da vila de Óbidos, ali nascidos, segundo pesquisa cruzada, entre 1705 e 1709. Depois do aparecimento da Cruz do Senhor Jesus da Pedra, a devoção religiosa dos moradores da região levou-os a dar-lhe uma guarida. Fora, então, construída, no ano de 1739, uma modesta capela de madeira, que, durante oito anos, a protegeu, até que, em 1747, foi inaugurado o magnífico Santuário. Faço notar, também, que os meus sexto-avós, do ramo paterno, no ano de 1747, residiam dentro das muralhas da vila de Óbidos, ainda não casados, nascidos, segundo os mesmos moldes de prospeção, entre 1730 e 1734. Ainda segundo o meu avô Manuel, no ano de 1919 – estava ele com 10 anos de idade – pode ouvir o Oratório de Natal, de J. S. Bach (1685-1750) no interior daquele templo. Um acontecimento que, infelizmente, não ecoa nos dias atuais. Bendito instante em que adentrei as portas do Santuário do Jesus da Pedra, pois fez-me recordar de uma Óbidos cuja memória me fora sendo transmitida de um modo característico, muito peculiar, em tom de reminiscência, como só o meu avô Manuel sabia fazer.
Rui Calisto
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