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Grupo que assaltava multibancos com recurso a explosões vai ser julgado

Francisco Gomes

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Um gangue composto por 14 indivíduos - dez homens e quatro mulheres - com idades entre 24 e 60 anos, vai ser julgado em janeiro do próximo ano no Tribunal de Coimbra pelo envolvimento no assalto à bomba a 87 caixas multibanco, algumas nas Caldas da Rainha, de onde roubaram 2.105,780 milhões de euros, entre 4 de setembro de 2016 e 11 de dezembro de 2017. Nos treze assaltos realizados na região Oeste (entre Alcobaça e Arruda dos Vinhos) arrecadaram 322.58 mil euros.
Um dos assaltos foi ao multibanco instalado na Expoeste, nas Caldas da Rainha

Os assaltantes antes de concretizarem os roubos tentavam perceber se as caixas teriam muito dinheiro, pelo número de movimentos efetuados que lhe aparecia nos extratos das consultas de saldo, e verificavam também o modelo do equipamento, preferindo a versão mais antiga, com menos mecanismos de segurança. Também pulverizavam as câmaras de videovigilância com tinta em spray, para evitar serem filmados. Andavam fortemente armados com espingardas metralhadoras e revólveres. Usavam rádios para comunicar entre si, evitando o uso de telemóveis. Atuavam de cara coberta com capuzes e gorros. Regra geral o método consistia na utilização de uma botija de gás acetileno, que era explodido próximo do orifício de saída das notas do multibanco depois de incendiado um rastilho. Normalmente introduziam uma mangueira na ranhura de saída das notas e ligavam a botija de gás à outra extremidade da mangueira, provocando uma explosão, após a qual retiravam as gavetas com o dinheiro do multibanco, numa operação de poucos minutos. Fugiam em carros de alta cilindrada, onde por vezes colocavam matrículas furtadas a outras viaturas. Em alguns casos apareceram pessoas, que foram ameaçadas. O grupo foi alvo de uma investigação por parte da Polícia Judiciária, que localizou em Oeiras, a 13 de dezembro de 2017, a base do grupo de assaltantes. Os arguidos, cinco dos quais encontram-se em prisão preventiva, são originários dos distritos de Lisboa e Leiria. O núcleo duro do grupo era constituído por três indivíduos, de 29, 30 e 32 anos, residentes na zona de Sintra e Alcobaça. Duas mulheres tinham a missão de guardar armas e objetos usados. O grupo tinha apoio logístico em Loures, Cascais e em Évora de Alcobaça. Arrendava garagens e armazéns para guardar os veículos e o material utilizado nos crimes, entre armas, botijas de gás, baterias, mangueiras, fios elétricos e extintores. Os crimes foram cometidos em diferentes localidades do país, mas a situação considerada mais grave ocorreu em Vila Nova de Poiares e por isso será o Tribunal de Coimbra a julgar este gangue. O mega julgamento inicia-se em janeiro de 2020 e tem sessões marcadas durante quase todo o mês. O processo foi classificado como sendo de especial complexidade e durante as audiências a segurança deverá ser reforçada.

Desde bancos a padarias

Os multibancos que foram alvo de explosão estavam em diferentes tipos de estabelecimentos. Na Benedita, a 16 de setembro de 2016, o ataque rendeu 36.290 euros. A máquina multibanco estava instalada na padaria Jomafel, no IC2, e foi assaltada pelas 03h00. Tinha sido carregado na véspera. Quatro indivíduos foram vistos a saírem com o cofre nas mãos. Um deles estava armado com o que parecia ser uma caçadeira. Algumas notas ficaram espalhadas no chão. O assalto durou três minutos. O estabelecimento estava fechado mas no piso superior encontravam-se dois padeiros a fazer pão. Não sofreram nada, a não ser um grande susto. Os prejuízos no estabelecimento ascenderam a 50 mil euros, tendo em conta a destruição de uma obra de arte em vitrofusão e do vidro da padaria, entre outros estragos, como rachas nas paredes. Quatro dias depois o grupo atuava em Ferrel, no concelho de Peniche. De um banco no centro da localidade eram retirados 37.080 euros. Três homens encapuzados assaltaram a caixa multibanco, que tinha sido carregada com dinheiro na véspera. A população acordou em sobressalto ao ouvir uma explosão cerca das 03h30. O rebentamento provocou danos no edifício e num automóvel que se encontrava estacionado perto. No dia 19 de outubro, de um multibanco em Vimeiro, Lourinhã, foram subtraídos 23.280 euros. Faltavam quinze minutos para as 04h00 quando os moradores da Rua do Cabecinha foram acordados por um enorme estrondo proveniente das instalações de uma delegação bancária. A explosão danificou a máquina e as próprias paredes de vidro da instituição, por onde dois assaltantes entraram, enquanto outro os esperava num carro. O multibanco havia sido carregado no dia anterior. Acederam à gaveta-cofre e fugiram com o dinheiro. No dia 23 de outubro, a explosão no supermercado Frescos do Oeste, no Bombarral, rendeu aos larápios 41.800 euros. O alerta foi dado às 04h15 e os três assaltantes estavam armados e ameaçaram um funcionário que estava a trabalhar na padaria. Ficou um cenário de destruição. O carregado do posto ATM com dinheiro também tinha sido muito recente. No dia 13 de dezembro, de um banco em Alenquer foram roubados 31.970 euros. O assalto ao multibanco foi registado pelas 04h45. Em 2017 prosseguiram os assaltos. No dia 23 de fevereiro, por volta das 06h00, uma caixa de multibanco no exterior de uma agência bancária no Vilar, no concelho do Cadaval, ficou destruída. Os larápios levaram 15.910 euros. A 4 de março, pelas 05h30, foi a vez de um banco junto à rotunda da Fonte Luminosa, nas Caldas da Rainha. O facto de ser uma zona residencial não intimidou os larápios, que levaram 22.280 euros. As portas de vidro ficaram partidas, o que permitiu a entrada na zona do multibanco. Uma camara de vigilância ficou destruída com o impacto da explosão. A 13 de maio protagonizaram um assalto num banco em Óbidos (12.200 euros) e na junta de freguesia de Salir de Matos, nas Caldas da Rainha (9.750 euros). Eram 4h05 – a hora marcada por um relógio a pilhas que deixou de funcionar nessa altura devido à explosão, que fez estremecer o edifício da autarquia e cair as pilhas – quando os larápios atacaram a caixa multibanco. A atuação foi rápida e após a explosão foi forçada a entrada na junta de freguesia, com arrombamento da porta de alumínio, para terem acesso ao armário onde estava a caixa multibanco. Escancarada pela violência do rebentamento, foi fácil aos assaltantes levarem as maletas com o dinheiro. A caixa tinha sido carregada com notas dias antes. Os estragos provocados foram grandes – danos no monitor de um computador, numa fotocopiadora e noutros equipamentos. A caixa multibanco ficou inoperacional. Só recentemente – quase um ano e meio depois – foi instalado um novo multibanco em Salir de Matos. No dia 27 de maio de 2017, em Vimeiro, Alcobaça, os ladrões atuaram pelas 05h17, atacando o terminal de uma agência bancária na rua principal da localidade. A explosão provocada destruiu os vidros do banco e abriu o armário do ATM, de onde foi retirado o cofre com as notas (12.430 euros). No dia 3 de junho foram efetuados assaltos em bancos em Atouguia da Baleia, no concelho de Peniche, e na Foz do Arelho. O primeiro assalto ocorreu cerca das 04h00 em Atouguia da Baleia. Após a explosão três indivíduos entraram no banco e aí partiram o vidro que dá acesso à caixa Multibanco, levando o cofre (19.390 euros). Os três estavam cobertos com um capuz e tinham uma máscara branca. Fugiram num carro com matrícula espanhola. Uma hora depois aconteceu o assalto na praia do concelho das Caldas da Rainha. Um indivíduo ficou na rua a ver se vinha alguém, outro deu uma marretada na vitrina e depois um terceiro assaltante foi ajudado a carregar uma caixa com o dinheiro (46.020 euros). A camara de videovigilância foi pintada de negro para impedir a captação de imagens. Um carro alugado por turistas franceses que se encontrava junto ao banco sofreu danos devido à explosão. No dia 9 de setembro, o alvo foi o Pavilhão de Feiras e Exposições Expoeste, nas Caldas da Rainha. O crime ocorreu às 05h30 e, além da explosão da caixa multibanco, os suspeitos partiram os vidros laterais e entraram dentro do edifício para retirarem as caixas com o dinheiro (14.180 euros). Os assaltantes provocaram danos no edifício estimados em cerca de três mil euros. No dia 26 de outubro, atacaram uma agência de seguros no Carregado, Alenquer (9.580 euros). O assalto ocorreu pelas 05h45. A seguradora ficou com o vidro das montras partido e foram provocados danos em viaturas. Segundo o jornal Correio da Manhã, dos 87 assaltos, o grupo não conseguiu concretizar 16 porque a explosão não foi suficiente para abrir o cofre. Poderá ter sido o caso de tentativas de assalto em Arruda dos Vinhos (26 de janeiro de 2017) e Torres Vedras (8 de fevereiro de 2017).

Outros assaltos e tentativas

No período de atuação de gangue ocorreram assaltos semelhantes que poderão ter sido protagonizados por outros grupos. É o caso do assalto na agência de seguros Lusitania, no Bairro Azul, quando faltavam cerca de quinze minutos para as 06h00 de 11 de novembro de 2017. Os moradores revelaram ter visto três homens com um carapuço a tapar a cara, estando outro dentro de um carro que colocaram em cima do passeio. Um deles estava armado, com o que se supõe ser uma pistola metralhadora, enquanto dois chegaram até à caixa e carregaram as gavetas com o dinheiro, depois de consumada a explosão. O quarto indivíduo, o motorista, não saiu do carro. Para além da máquina ATM destruída, ficaram partidos os vidros da agência e um carro estacionado em frente sofreu danos. Há também registo de tentativas falhadas que poderão ter sido realizadas por outros grupos. É o caso do assalto ocorrido na madrugada de 18 de setembro de 2016, no Centro Social da Bufarda, no concelho de Peniche. A GNR ao chegar ao local avistou três indivíduos encapuzados, que se aperceberam da patrulha e colocaram-se em fuga num carro, deixando uma botija de gás e cabos. O teclado do multibanco e o dispensador de notas ficaram danificados com a tentativa de explosão. A 14 de outubro desse ano verificou-se igualmente uma tentativa de assalto no concelho da Lourinhã, num ATM de Moledo, instalado no edifício da União de Freguesias de São Bartolomeu dos Galegos e Moledo. Os planos não correram como os assaltantes previam, porque não conseguiram rebentar a parte em que estava instalado o cofre, tendo fugido sem dinheiro. No dia 18 de outubro, cerca das 04h0, no local mais central da vila da Serra d’El Rei, em Peniche, os ladrões tentaram retirar o cofre da caixa multibanco de uma dependência bancária. Usaram gás e gasolina (atearam fogo a um pano com o combustível) e provocaram danos. O plano falhou, tendo no local ficado uma garrafa com o combustível. O multibanco não explodiu mas acabou por ser vandalizado, ainda que isso de nada servisse aos autores da tentativa, que fugiram de mãos a abanar. Mas se tivesse havido explosão poderia ter tido consequências mais gravosas porque há várias casas à volta e por cima do banco está instalado um lar de idosos. A poucos quilómetros de distância, em Olho Marinho, no concelho de Óbidos, outra dependência bancária seria de seguida alvo dos ladrões, de novo com o mesmo método. Mas aqui a combustão queimou o teclado e o visor do multibanco. Uma vez mais de nada valeu aos ladrões, que fugiram sem conseguir levar o cofre onde está o dinheiro do ATM. Nas Caldas da Rainha, pelas três da manhã de 2 de maio de 2017, também houve uma tentativa falhada numa bomba de gasolina situada na estrada velha da Foz do Arelho (EN360), onde dois assaltantes injetaram gás no posto ATM. Após a explosão, outro dos comparsas usou uma marreta e partiu um vidro da loja e depois fez um buraco na cortina de proteção para abri-la e entrar, chegando até ao armário onde está a caixa multibanco. Mas ficou apenas quinze segundos no interior da loja, o tempo suficiente para constatar que o rebentamento teve pouco impacto e não deixou acessível o cofre do ATM. Numa altura em que o alarme já tocava, não restou aos três assaltantes senão regressarem ao carro com matrículas furtadas de outra viatura nas Caldas da Rainha, onde os aguardava o quarto suspeito. Fugiram sem levar nada, mas provocaram estragos que ascenderam a 3500 euros, para além do posto ATM ter ficado inoperacional. Tratando-se de um posto de combustíveis, a explosão podia ter corrido mal e causado um grande perigo.

Caixas multibanco diminuem

Entre 2013 e 2018, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística, fecharam 40 caixas multibanco na região Oeste, passando de 445 para 405. Nas Caldas da Rainha fecharam seis caixas (diminuíram de 67 para 61). Embora possam existir outras razões para este decréscimo – como por exemplo o recurso às operações bancárias através de computador e de telefone – o ataque aos ATM também provocou a sua redução, uma vez que há locais onde não voltaram a ser instalados.

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