Foi no dia 29 de outubro, nas instalações da fábrica de cerâmica caldense, que o prato decorativo foi apresentado pela primeira vez e onde foi unânime entre os convidados a “peça maravilhosa que nasceu”. A peça recupera a técnica secular de sobreposição de vidrados aplicada nas primeiras peças produzidas pela fábrica, combinando-as com o processo de gravação de superfícies em baixo relevo através da remoção parcial das camadas superficiais, de modo a criar composições através do contraste volumétrico, desenvolvido porVhils no âmbito do seu projeto profissional “Scratching the surface”. “Quimera” tem um rosto feminino em perfil e que representa e homenageia os funcionários da unidade fabril das Caldas da Rainha. “Quero agradecer como fui recebido. Isto é um processo de quase dois anos de trabalho intenso e de pesquisa, para encontrar um corpo de trabalho que fizesse sentido com o que eu já vou fazendo”, disse Alexandre Farto durante a apresentação da obra. “A minha parte é muito pequena, todo o outro lado é feito pelos trabalhadores da fábrica que estiveram abertos a novas ideias e caminhos”,referiu o artista, acrescentando que “a ideia foi recriar um rosto feminino, anónimo”. “Orosto que figura neste prato é também uma forma de humanizar a fábrica, homenageando as pessoas que fizeram e fazem parte dela e continuam a construir sobre o legado de Bordallo. Um símbolo desta nova fase e deste processo sem fim de reinvenção que a fábrica tem tido de puxar os seus limites, mantendo vivo este processo tradicional de produção”, adiantou. “Trazer uma nova geração de artistas para esta área é muito importante e, para mim, é uma honra passar a fazer parte desta história”, comentou Vhils que espera que esta colaboração com a fábrica da Bordallo Pinheiro não termine e possam nascer outras peças.
Grande novidade até ao final do ano
Nuno Barra, administrador da Bordallo Pinheiro, sublinhou que a fábrica tem tido uma projeção internacional grande. Abriu este ano duas lojas próprias em Paris e uma em Madrid. “Todos os anos a fábrica cresce e adicionamos novos nomes internacionais conhecidos que são amantes de Bordalo”, relatou, anunciando que “neste âmbito haverá até ao final do ano uma grande novidade, que não se pode ainda divulgar”. Destacou a colaboração da unidade com a arte contemporânea, referindo que “se Bordalo fosse hoje vivo tenho de certeza absoluta que faria colaborações com artistas contemporâneos como nós temos feito”. O administrador agradeceu o carinho que a Câmara tem tido com a fábrica porque “a recuperação de uma unidades destas não é uma coisa fácil e se não há colaboração de todos por muito que se queira sozinho não se consegue alcançar o objetivo”. Recorde-se que a colaboração com a pintora Paula Rego inaugurou a coleção WWB – World Wide Bordallianos, que promete ainda juntar mais artistas de renome internacional. A vereadora da cultura da Câmara das Caldas, Maria da Conceição, que esteve presente na apresentação da peça, frisou a coragem do Grupo Visabeira, que em 2009 comprou a marca Bordallo Pinheiro, e a revitalizou passando a ser um símbolo nacional e internacional de qualidade. “Penso que ao fim de alguns anos vimos que valeu a pena e hoje é um prazer circular nesta unidade recentemente renovada”, disse a autarca, acrescentando que “as couves do serviço de mesa das nossas avós são agora objetos de design usados para decorações contemporâneas”. “Souberam inovar e ao longo dos anos têm desafiado inúmeros artistas nacionais e internacionais a criar peças únicas sempre com a base Bordaliana”, referiu, sublinhando que “é um grande estímulo para os artistas caldenses associar Alexandre Farto aka Vhils à marca Bordallo Pinheiro”. A fadista Raquel Tavares esteve presente no evento de apresentação da nova peça e teve a oportunidade participar num workshop de cerâmica. A cantora gracejou que vai fazer “um curso de duas semanas na fábrica”.
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