Era uma época diferente. António de Oliveira Salazar (1889-1970) ocupava a cadeira de ministro das Finanças, e dois anos depois seria plebiscitada uma nova Constituição, dando, assim, início ao Estado Novo.
Rezam as crónicas antigas que a Igreja de Santa Maria (ou Igreja Matriz de Óbidos) fora sagrada em 1148 por D. Afonso Henriques (1109-1185), logo após a conquista da Vila. Este monarca, com o apoio de cruzados do norte da Europa, conseguiu conquistar Lisboa aos Mouros no ano anterior e, numa sucessão de vitórias, foi alargando as fronteiras territoriais, de todo o torrão que herdara.
Após a consagração do templo, São Teotónio (1082-1162), prior do Mosteiro de Santa Cruz em Coimbra e amigo de D. Afonso Henriques, recebe a incumbência de ali gerir um priorado simples.
Essa igreja foi, também, sede de uma Colegiada – semelhante ao Cabido de uma Sé Catedral, possuidora, portanto, de um conjunto de cónegos com dignidades e ofícios –, extinta aquando da legislação liberal em meados do século XIX.
O edifício, auferindo, com o passar dos séculos, um conjunto de melhoramentos e ampliações, chegou aos nossos dias sobraçado em elementos de diversos estilos: Manuelino, renascentista, maneirista e barroco.
Possuidor de uma riqueza pictórica e azulejar ímpar, está classificado como Imóvel de Interesse Público de Portugal, e fica situado, como sabem, dentro das muralhas do Castelo de Óbidos, este qualificado como Monumento Nacional.
O meu pai muito percorreu aquele largo defronte da Igreja, e eu, por tantas e tantas vezes, por ali passo para saudar a memória dos meus antepassados obidenses.
D. Afonso Henriques deve ainda pairar, juntamente com as suas hostes, por aquele períbolo, embora – como nada resta do edifício que conheceu, pois a antiga estrutura foi totalmente modificada, no início do Séc. XVI, por ordem da Rainha D. Leonor de Lencastre (1458-1525) – deva estar impressionado, por ter diante de si uma Igreja imponente e vetusta, que enche de orgulho os naturais da terra. Imagino o seu olhar de admiração. Percebo o seu contemplar pelo entorno, a coscuvilhar as emoções mais íntimas da sua bruta alma. Um espírito elevado na rudeza da lâmina. Certo de que é, foi e será o grande guardião de todo aquele território e, em particular, daquele templo. Um monarca que talvez não entenda a importância dos artistas João da Costa (Séc. XVIII) e Josefa de Ayala (1630-1684), mas, certamente compreende o significado da “Anunciação” ou do “Batismo de Cristo”, pois a sua espada sempre esteve ao dispor da sua religião.
Hosanas à Igreja de Santa Maria. Que ultrapasse, de pé, os séculos adiante.
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