O pescador, que cumpriu o último dia de faina na sexta-feira, contou que “houve peixe que apanhámos e que tivemos de deitar de novo à água porque já tínhamos atingido os 120 cabazes (2.700 quilos) permitidos”.
“Sardinha fresca agora só para o ano, quando pudermos voltar a pescar”, manifestou Joaquim Ricardo, esperando que as possibilidades de pesca para 2020, que estão a ser definidas para Portugal e Espanha pelo Conselho Internacional para a Exploração do Mar, sejam muito maiores do que as quotas de 2018 e 2019.
“Cumpre-se a lei mas não se justifica. Ainda na sexta-feira uma traineira apanhou sardinha que dava para quatro ou cinco barcos”, assegurou João Alves, funcionário do armazém de comércio de peixe fresco Xadeca, de onde saiu o último cabaz de sardinha do porto de Peniche.
“Há sardinha para carregar os barcos de norte a sul do país”, desabafou Alberto Cruz, da embarcação Mestre Combóio, que defende uma “paragem menos prolongada” porque “a costa de Peniche está cheia de sardinha e todos os dias não foi preciso ir para longe para apanhá-la”.
A posição é partilhada pela Associação Nacional das Organizações de Produtores da Pesca do Cerco (Anopcerco), que entende que nos dois últimos anos as quantidades autorizadas foram “irrisórias”.
Segundo Humberto Jorge, da Anoperco, dados dos cruzeiros de investigação científica, destinados a avaliar a biomassa de sardinha nas águas atlânticas da Península Ibérica “são muitos claros sobre a significativa melhoria da quantidade de sardinha adulta existente”.
O dirigente defende para 2020 uma possibilidade de pesca na ordem das 19 mil toneladas de sardinha para Portugal e Espanha, mais do que o dobro da atual quota (9 mil toneladas).
Em 2019 a pesca da sardinha teve início a 3 de junho, durando quatro meses e uma semana por se ter atingido o limite fixado. Os barcos podiam ir ao mar quatro dias por semana (menos às quartas-feiras, sábados e domingos).
Cavala ou carapau não rendem
Os pescadores são agora obrigados a capturar outras espécies, como o carapau ou cavala, mas “dá muito menos rendimento, porque a venda é muito mais barata”, relatou Joaquim António, pescador do Mestre Combóio.
Quem não é reformado tem como alternativa suspender a atividade e recorrer provisoriamente ao subsídio de desemprego, mas para Joaquim António esse é um cenário que não devia ser encarado.
“Apanhámos todos os dias o limite máximo de sardinha e há suficiente para não justificar esta paragem. Estamos indignados”, manifestou.
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