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Jorge Mangorrinha:

“Falta conhecimento e experiência para tornar as Termas das Caldas competitivas”

Francisco Gomes

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O especialista caldense em termalismo, Jorge Mangorrinha, considera que não existem recursos humanos com um patamar de conhecimentos e de experiência que alavanquem as Termas das Caldas para níveis competitivos a nível nacional e internacional.
Jorge Mangorrinha foi vereador do termalismo entre 2002 e 2005

Jorge Mangorrinha declarou respeitar o esforço da Câmara das Caldas e da União de Freguesias de Nossa Senhora do Pópulo, Coto e São Gregório (na gestão dos espaços verdes em redor das termas), mas o que lamenta é a “evidente escassez de recursos humanos com um patamar de conhecimentos e de experiência que alavanquem este projeto para níveis competitivos, seja junto da comunidade local, seja a nível nacional e internacional”.

“Essa necessidade, nas termas e no espaço envolvente, não se circunscreve a um diretor técnico em hidrogeologia e a um diretor clínico em hidrologia médica. O presidente da Câmara, a vereação e os seus assessores não têm background para um encargo destes. Podem viajar, mas convém perceber o que está em causa e os exemplos de excelência na Europa, e isso não se consegue, apenas, com quilómetros de voo e de um dia para o outro”, afirmou.

Esta cidade e a sua região têm ativos, referiu, “que nem sempre são potenciados de uma forma articulada e afirmativa, e há outros que não se sintonizam com a vanguarda contemporânea. As freguesias rurais estão distantes do papel central que o termalismo pode vir a ter de novo na região e uma larga camada da população urbana está descrente”. Jorge Mangorrinha sugere a receita: “A propósito do relançamento do termalismo nas Caldas, é importante a emergência de uma nova esperança coletiva”.

Em relação ao que é preciso mudar em concreto, o especialista caldense, que já foi vereador entre 2002 e 2005, disse que “nessa experiência nós tínhamos um projeto integrado de termalismo a diversas escalas e com uma visão alargada de benefício se o integrássemos numa ambição urbana própria dos pergaminhos das Caldas da Rainha. Agora que a Câmara gere as termas, urge darmos as mãos para um projecto ambicioso, onde os mais informados não sejam indesejados, técnica ou politicamente, mas potenciados por parte do poder local”.

Mangorrinha não descarta a possibilidade de, profissional ou politicamente, voltar às Caldas para este projeto. “Tenho tido uma visão crítica, mas construtiva de apontar caminhos, desde há trinta anos, mesmo exercendo em Lisboa, e tenho um percurso académico, técnico e de cidadania de que me orgulho. Não devo renegar esse meu capital no contexto local”, comentou.

O ex-autarca entende que o atual projeto “apenas poderá alcançar os mínimos para o termalismo nas Caldas da Rainha, e isso é, essencialmente, o que me distingue do presidente da Câmara”. “Creio que os caldenses esperam que um decisor político tenha uma ambição sustentada para além dos mínimos e, também, uma visão programática realista e transparente e o controlo de uma boa execução técnica e administrativa”, manifestou.

Relançar antigo projeto para o termalismo

Na década passada, sete pontos faziam parte da estratégia para o projeto termal das Caldas da Rainha, traçada por Jorge Mangorrinha, enquanto vereador do Planeamento Urbanístico, Património e Termalismo (2002-2005). Projeto, que segundo defende, está atual e pode ser relançado.

O primeiro ponto é a salvaguarda do Hospital Termal Rainha D. Leonor, com “medidas a adoptar nos domínios da refuncionalização, conservação, restauro, reabilitação do edifício hospitalar, cujo valor histórico, científico e artístico se revela decisivo para uma aposta estrategicamente sustentada”.

A salvaguarda justifica-se pela “necessidade de impedir a descaraterização do edifício e de modernizar as termas com novas instalações complementares”. “Qualquer intervenção no centenário edifício hospitalar deve ser realizada de acordo com novas e adequadas funções e a permanência de algumas outras atuais compatíveis com a conservação, integridade e valor patrimonial do imóvel. As obras de conservação devem incidir sobretudo nas patologias estruturais, desde a conservação das galerias subterrâneas à dos materiais pétreos (degradados pela sobrecarga estrutural ou erosão pelo efeito das águas e deficiente ventilação dos respectivos compartimentos)”, consta do projeto de Mangorrinha.

O segundo ponto passa pela classificação patrimonial do conjunto termal das Caldas da Rainha como monumento nacional e posterior candidatura a Património Mundial da Humanidade, com base na singularidade dos recursos hidrotermais e na universalidade do primeiro hospital termal do mundo e da história comparada do termalismo.

“A classificação justifica-se tanto pela singularidade e universalidade do património natural e construído como pelo seu valor histórico e identitário, constituindo uma condição da sua salvaguarda e valorização como património que é e como elemento de referência da estratégia de promoção das Caldas da Rainha como cidade termal e património das águas”, lê-se no projeto.

A construção de uma nova unidade termal contemplando as áreas de saúde e de lazer e da medicina desportiva, é outra das medidas, “respondendo às exigências atuais de prestação de serviços de saúde e oferta de equipamentos e infra-estruturas destinados à hidroterapia e ao lazer”.

A existência de uma nova unidade em condições de oferecer melhores e mais amplas condições de prestação de serviços de saúde e permitir alargar o número de utilizadores de equipamentos e infra-estruturas de recreio e de lazer “é condição de aproveitamento do recurso termal como fator de desenvolvimento”.

Paralelamente, a construção desta nova unidade “permite libertar o atual edifício e conjunto termal para usos compatíveis com a sua classificação como monumento nacional e núcleo de aproveitamento lúdico e cultural associado à sua história termal”.

Outra ideia é a criação de um centro reumatológico nacional, como unidade de investigação, ensino e terapia associada ao Hospital Termal Rainha D. Leonor e integrada no edifício. Este projeto “justifica-se pela oportunidade de aproveitamento das comprovadas qualidades terapêuticas das águas termais das Caldas da Rainha no tratamento das doenças reumáticas e pela sua natureza de âncora no processo de relançamento da capacidade de oferta de terapia clínica da estância termal e da formação avançada nos domínios da hidroterapia”.

A criação da Escola Nacional de Hidrologia e Termalismo, “como unidade de investigação e ensino, para formação complementar em hidrologia e termalismo de médicos e outros profissionais de saúde”, é também uma medida defendida por Mangorrinha. “A importância histórica das Caldas da Rainha no termalismo e a qualidade terapêutica das suas águas, num momento em que a hidrologia cresce de importância, e dada a escassez de formação específica neste domínio, justifica que, em complemento com os investimentos numa nova unidade termal, se crie uma escola superior para formação em hidrologia e termalismo de médicos e outros profissionais de saúde. O edifício do Hospital Termal potencia a integração desta escola nas suas instalações”, indica.

A estruturação de uma rede de hotelaria, com construção de novas unidades e qualificação das existentes, consta igualmente da estratégia do especialista, que reconhece ter sido concretizada a reabilitação arquitetónica do antigo Grande Hotel Lisbonense e estar em fase de arranque o projeto para os Pavilhões do Parque.

Por fim, mas não menos importante, a criação da marca “Caldas da Rainha: Património das Águas” deverá “ser associada a todas as iniciativas de promoção da cidade e da sua atividade económica, nomeadamente o termalismo, o turismo, o comércio, o desporto e a oferta cultural”.

“A existência de uma marca unificadora da entidade das Caldas da Rainha é condição de maior sucesso no âmbito das iniciativas de promoção e marketing da cidade e constitui uma referência para a consolidação interna e externa da imagem da cidade e para a sua identificação”, sublinha.

Património e turismo: oportunidades e constrangimentos

O especialista caldense publicou um artigo na revista Brotéria, referindo que a evolução de práticas termais induziu o espaço a ajustar-se aos tempos de terapia e bem-estar, mas também que o respeito pelo património arquitetónico e natural deve ser um fator primordial nos programas e nas ações de políticos e empresários.

O artigo intitula-se “Património e turismo: oportunidades e constrangimentos no caso singular das termas em Portugal”. Segundo o autor, “o termalismo é visto, presentemente, como uma área propícia à terapia holística e à ecologia. A água mineral natural, os pelóides, os vapores, os gases termais e o ar que se respira propiciam novas receitas terapêuticas e um campo de estudo alargado, desde a hidrologia médica à climatologia, áreas de compreensão fundamental para quem tem incidido a investigação nos aspetos urbanísticos, patrimoniais e turísticos”.

Adianta que os programas de intervenção nas termas se situam nos aspetos relacionados “com a análise, qualidade e quantidade do recurso hidromineral, com a concepção transdisciplinar da arquitetura, com a relação umbilical com o ambiente e a paisagem e com o design de equipamentos e acessórios”. Mas referiu constrangimentos do ponto de vista, por exemplo, da gestão direta dos balneários e das unidades de alojamento e do papel das autarquias e dos agentes concessionários e económicos.

Contatado pelo Jornal das Caldas sobre o papel das Caldas da Rainha, apontou que “o desafio da Câmara passará não só pela reabertura dos edifícios termais, como também pelo avanço para uma nova unidade de raiz e, inquestionavelmente, pela valorização do lugar e da cultura associados a espaços e funções específicos”. “Não conseguimos ter o funcionamento das termas em pleno e no sentido de alcançarmos o estatuto de “Cidade Termal” sem que se resolvam os aspetos da circulação automóvel, do património, da economia direta e indiretamente associada ao termalismo, dos usos do Parque e da Mata, da integração dos caldenses neste projecto e de uma promoção qualificada e eficaz”, frisou.

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