“O meu pai trabalhou nos barcos da linha “American Line” como cozinheiro e tinha colegas portugueses, muitos eram das Caldas da Rainha, e sempre que passavam na costa portuguesa dizia que queria visitar e conhecer Portugal. Os colegas tornaram-se amigos e convidaram o meu pai para vir a Portugal. Assim, nos anos 60 os meus pais foram de carro em direção às Caldas da Rainha. E porque eles gostaram tanto, depois, todos os anos, a nossa família (os meus pais e três filhas) passava as férias nesta zona e ficou amiga de mais pessoas das Caldas”, conta Alice Westerhout Bandeiras, uma das filhas.
Jan Westerhout, atualmente com 78 anos, tinha outra razão para voltar sempre às Caldas da Rainha: visitar a filha mais velha, Alice, o genro e os dois netos, no Chão da Parada. “Eu casei-me com um português (emigrante em Hamburgo, na Alemanha) e decidimos voltar para viver em Portugal em 2000 e escolhemos também esta zona”, relata Alice.
Em 2017 o pai ficou com problemas de saúde e as férias foram canceladas, mas ficou sempre com o desejo de voltar a Portugal e visitar a cidade. Só que em junho deste ano foi internado no hospital e “recebeu notícias muito tristes: Cancro de fígado. E já não dava para fazer nada. O hospital mandou-o para casa para esperar o dia final”, descreve a filha.
“O meu marido e eu ainda fomos à Holanda para me despedir, porque não sabemos quanto tempo ele ainda tem. Agora os meus pais receberam apoio dos médicos e apoio domiciliário e ainda aproveitam todos os momentos juntos”, conta.
A filha revela que “uma das enfermeiras do apoio soube o desejo do meu pai e contatou uma instituição que realiza os últimos desejos das pessoas doentes terminais. Esta instituição chama-se Ambulance Wens Nederland. A senhora foi inscrever o meu pai, sem ele saber, neste programa de desejos, e ele foi seleccionado, e a instituição vai realizar o desejo dele”.
No passado domingo saiu da Holanda uma ambulância especial com os pais de Alice, uma enfermeira especializada e um motorista, em direção a Portugal. Chegou um dia depois ao Chão da Parada. Jan Westerhout e a esposa vão ficar dois dias na casa da filha para “ver os netos, ver e falar com os amigos portugueses, ver a Praça de Fruta, ver o mar na Foz do Arelho, comer um pastel de bacalhau, entre outras coisas. E a equipa da ambulância fica sempre ao lado do meu pai para acompanhá-lo”. Na quinta-feira voltam todos para a Holanda.
“Veio para se despedir de uma cidade e das pessoas que ele gostou tanto. É uma viagem com um sorriso e uma lágrima, porque sabemos como vai acabar esta história. Mas ele vai conseguir realizar o último desejo. É um momento muito especial para nós todos”, sublinha Alice.
Francisco Gomes
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