Em novembro do ano passado, um grupo de cidadãos das Caldas da Rainha foi à Assembleia Municipal entregar um abaixo-assinado com cerca de mil assinaturas para contestar a demolição, exigindo a preservação da unidade fundada em 1947, que foi uma das principais produtoras e exportadoras da cerâmica caldense a partir de meados do século XX e que encerrou em 2008.
Os subscritores requeriram à Câmara Municipal que “reveja o projeto de investimento privado para a área do edifício principal da Secla, tendo em vista a salvaguarda da memória física da fábrica, como herança patrimonial da cidade e dos caldenses e recurso cultural e turístico”, indicando que o espaço “podia conter o espólio riquíssimo e diverso da Secla, na posse da Câmara Municipal [seis mil peças], e peças de outras origens da mesma época que existem em reserva no Museu da Cerâmica”.
Seria, segundo argumentaram, “um atrativo turístico e lastro cultural, acentuando o sentido de identidade e pertença por parte dos caldenses”.
O terreno e o edifício da fábrica foram adquiridos pela empresa Prime Unit, que assumiu perante a Câmara Municipal o compromisso de manter um pórtico com parte da fachada da fábrica, com a inscrição “Secla” no design original e localizado numa praça de fruição pública a criar aquando da construção do complexo.
O presidente da Câmara, Tinta Ferreira, comentou que “não estamos muito divergentes com o que o abaixo-assinado diz. Tem havido uma preocupação da nossa parte no sentido de convencer o proprietário a tomar algumas iniciativas que pudessem preservar o património da Secla”.
Lembrou, no entanto, tratar-se de “um investimento privado”, em que a autarquia “não pode impor aos promotores” a manutenção do edifício.
Ainda assim, afirmou, “para além do pórtico, a Câmara conseguiu que os investidores concordassem em integrar elementos da fábrica no projeto”, devendo existir no restaurante um núcleo de exposição de peças da fábrica e outros elementos decorativos no hotel e na superfície comercial.
“A Secla terá o seu espaço de memória, sem prejuízo da requalificação daquele espaço”, afirmou Tinta Ferreira, para quem “o que desrespeita a memória é o atual estado de degradação” do imóvel.
Vítor Fernandes, do PCP, frisou que “não faz sentido que não se preserve o património histórico”, recordando um projeto aprovado em 2003 que “preservava o espaço para o possível Museu da Cerâmica nacional”, mas que “ficou na gaveta”.
Arnaldo Sarroeira, do BE, deu apoio à pretensão dos cidadãos. Pedro Seixas, do PS, saudou a recolha de assinaturas, que vai ao encontro do que o PS defende.
Do lado de quem apoia o compromisso conseguido pela Câmara, Duarte Nuno, do PP, admitiu perceber que “haja uma ligação afectiva ao espaço”, mas mostrou-se mais preocupado com a qualidade arquitetónica do edifício que será construído, pelo que defendeu o acompanhamento do projeto na Assembleia Municipal.
Alberto Pereira, do PSD, que vai ao encontro das diligências encetadas pela autarquia, disse que “é de manter viva a memória desta importante unidade industrial que existe no concelho e devemos manter a parte mais relevante do antigo edifício, aquilo que é o pórtico de entrada, com o lettering Secla e toda a parte de azulejos de Hansi Staël. Defendemos também que a ampliação do atual Museu de Cerâmica incorpore todo o espólio da Secla”.
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