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Debate da Associação MVC

“O termalismo nas Caldas da Rainha. Porque é que não estamos todos de acordo?”

EXCLUSIVO

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A próxima edição de “21 às 21”, organizada pela Associação MVC-Movimento Viver o Concelho, terá como título: “O termalismo nas Caldas da Rainha. Porque é que não estamos todos de acordo?”. Como moderador é convidado Jorge Mangorrinha e como participantes no debate são convidados representantes de cada partido político.

A iniciativa desenrola-se no dia 21 de fevereiro, pelas 21h00, na sede da União de Freguesias de Nossa Senhora do Pópulo, Coto e São Gregório, na Rua das Montras.

Abrir o debate do projecto termal e hoteleiro em curso nas Caldas da Rainha, nas suas vertentes políticas, económicas e culturais, é o principal propósito desta sessão, bem como questionar a pertinência de algumas soluções e opções, no quadro do desenvolvimento turístico-termal e urbano das Caldas da Rainha.

Jorge Mangorrinha será de novo o moderador de uma sessão “21 às 21”. O JORNAL DAS CALDAS entrevistou o especialista caldense em urbanismo e património termal, a exercer em Lisboa como professor universitário e quadro superior da Câmara de Lisboa, que deixa recados e propostas, bem como torna pública a sua disponibilidade para colaborar no projeto termal das Caldas da Rainha.

Jornal das Caldas – O que espera do debate?

Jorge Mangorrinha – Que seja convergente quanto à necessidade de uma maior transparência e abertura no processo em curso.

JC – Como é que tem acompanhado este processo de relançamento do termalismo nas Caldas?

JM – Tenho acompanhado quanto baste para perceber que a Câmara Municipal tem um enorme desafio, mas os bons resultados estarão dependentes de opções corretas e de recursos humanos à altura, não só na capacitação dos edifícios, como também num projeto à escala da cidade, não só pela autarquia, como também por outras entidades, o que deve corresponder a uma visão ambiciosa de desenvolvimento.

JC – Mas mantém as reservas que, publicamente, tem apresentado em relação a algumas ações da Câmara?

JM – Nalguns aspectos essenciais tem havido uma sucessão de decisões que considero menos informadas e ponderadas, como a desvalorização da necessidade estratégica e funcional de um balneário de raiz, o modo de parceria com o Montepio e o programa funcional do concurso para a concessão dos Pavilhões do Parque. E estes são temas em que não houve unanimidade entre as diferentes forças políticas. Eu acho que governar bem é promover consensos em projetos estratégicos e estruturantes, e isso não foi feito.

JC – Vamos por partes. Considera que o balneário de raiz seria a opção certa?

JM – Obviamente. Aliás, isso sempre foi pretendido pela Direção Geral de Energia e Geologia, que tutela o setor, desde o tempo em que o Ministério da Saúde ainda possuía a gestão do Hospital Termal. Quando ninguém quis a concessão, por demissão do Ministério, e a Câmara assumiu recebê-la, honra lhe seja feita, o novo balneário foi de novo um desejo dessa Direção Geral, tal como quis que o Hospital Termal fosse um pólo de visitação patrimonial, mantendo nele alguma atividade termal, mas não a principal. Esta seria transferida para um novo balneário. Acontece que a Câmara não quis, preferindo mover-se politicamente para que esta obrigação fosse adiada e o foco fosse a reabertura do Hospital Termal. Assim sucedeu no documento assinado por ambas as partes. O Hospital Termal passou a ser visto como pólo a manter como central, só que terá sempre condicionalismos formais e funcionais e perderá mais património.

JC – Como as banheiras?

JM – Estas e as outras banheiras já retiradas são um património inestimável. O percurso que levaram é inadmissível, desde a sua saída do Hospital Termal até ao armazenamento. Agora, parece um fatalismo, mas urge dar-lhes uma função museológica ou artística, por boas mãos, e que sejam restauradas. Tal como as que se mantêm, defuntas, junto ao antigo Balneário das Águas Santas.

“Lamento que não se tenha convertido o Hospital num Centro de Medicina Física e de Reabilitação”

JC – E mantém o seu conceito para esta estância termal?

JM – Sim, aquele que há muitos anos defendo e veiculei, designadamente, na primeira e única vez que a Câmara teve um pelouro do termalismo, entre 2002 e 2005, mesmo sem ter a gestão da atividade, mas como estratégia de cidade. Defendo que este centro urbano se possa tornar num Parque de Saúde, potenciando tanto os ativos hospitalares e termais como a área ambiental e patrimonial. Mas para tal há que respeitar os valores patrimoniais, reabrir a atividade termal e melhorar os serviços no Centro Hospitalar do Oeste, articulando estes com as termas, no que for possível. Lamento que não se tenha convertido o Hospital num Centro de Medicina Física e de Reabilitação, especialmente preparado para a recuperação de doentes afetados por reumatismo, bem como concretizado a ideia de que as necessidades de tratamento termal da população estariam a crescer e de que não estaríamos, em Portugal, a conseguir dinamizar a oferta de serviços que podiam ser prestados às pessoas colocadas em lares e entregues aos cuidados continuados, o que seria uma oportunidade para as estâncias termais em geral e para as Caldas da Rainha em particular.

JC – A parceria com o Montepio seria positiva?

JM – Eu respeito a história da casa onde nasci, mas era evidente que aquele contrato seria chumbado pelo Tribunal de Contas. E isso deslustra.

JC – O que teria feito se fosse presidente da Câmara?

JM – Desde logo, eu teria tentado uma convergência entre todas as forças políticas, num assunto estratégico, porque essa é uma das qualidades políticas que se exige a um presidente de Câmara. Em segundo lugar, colocaria o Montepio em pé de igualdade com outros grupos, nacionais e estrangeiros, estes com experiência no setor. Admito que teríamos resultados e o Montepio até podia, e devia, ser um parceiro, mas não o único, numa lógica de abertura aos ativos da cidade.

JC – Qual é a sua opinião sobre o processo dos Pavilhões do Parque?

JM – A autarquia teve a enorme sorte de haver um programa, o Revive, sediado no Turismo de Portugal, que dá enquadramento à reabilitação de património do Estado. Admito que outros possíveis grupos não terão avançado por saberem do interesse da Visabeira. Mas há equívocos neste projeto. Da parte da Visabeira, para além da incorporação deste grupo hoteleiro no nome do hotel, desde logo desinteressante embora prática comum, mas creio que é historicamente incongruente chamar ao novo hotel “Bordallo Pinheiro”, pois Bordallo foi um crítico mordaz das obras de Berquó e, apesar da proximidade à Fábrica, pertença da Visabeira, e de se querer reforçar a marca “Bordallo Pinheiro”, seria justa a designação associada, não ao Bordallo, mas ao visionário arquiteto Rodrigo Berquó, que lutou contra quase tudo e quase todos, ou então “Pavilhões do Parque”, que é uma marca consolidada. Da parte da Câmara, o equívoco está no pressuposto funcional do programa, que prevê a entrada do hotel no largo.

JC – E, neste aspeto, a sua opinião é muito diferente?

JM – Se por um lado urge reabilitar os Pavilhões do Parque, estamos de acordo, porém, isso deve ser entendido no contexto em que se insere o edifício. Ora, considerar a entrada do hotel no largo levou a que inicialmente se previsse que a antiga Casa da Cultura fosse anexada e que fossem fechadas duas entradas simbólicas no Parque, atualmente de uso público, e também à ideia de um parque de estacionamento subterrâneo. Pelos vistos, o parque de estacionamento e o fecho do Céu de Vidro já foram anulados, reativamente. Lá diz o ditado, pior do que errar é não perceber o erro, o que induz que os erros se possam repetir pelas mesmas pessoas noutros assuntos importantes.

JC – E qual seria a sua solução?

JM – A solução passaria por fazer a entrada do hotel junto à antiga Parada Militar, que precisa de valorização, potenciando o espaço de estacionamento que já lá existe e ainda a construção futura de um balneário de raiz. Ambos os edifícios teriam uma mesma área de confluência de pessoas e viaturas nos seus acessos.

“O Parque a Mata precisam de um plano de salvaguarda e valorização eficaz”

JC – Quais os aspetos patrimoniais que mais o preocupam?

JM – Acredito na obra de melhoramentos no Balneário Novo, mas o meu lamento está noutras decisões. Centrar o relançamento do termalismo local no edifício velho do Hospital Termal é adiar o problema, não traz competitividade, mas perda de património. Dar usos indevidos ao Parque e à Mata faz feridas graves nos ecossistemas e nos recursos de flora e fauna. Sinto que nada disto vai ser atendido, mas fica escrito para memória futura.

JC – Mas o Parque e a Mata estão a ser mal geridos?

JM – O Parque a Mata precisam de um plano de salvaguarda e valorização eficaz, elaborado e monitorizado por técnicos e executores altamente qualificados, dada a sua importância. Não pode estar sujeito aos usos indevidos e a cortes e podas duvidosos, tal como se passa nalgumas zonas da cidade. Este património público merece outro cuidado por parte de quem o gere, que deve dar bons exemplos. A legitimidade moral deve estar acima da legitimidade eleitoral.

JC – Com estes problemas que refere, acha que ainda podemos ser uma cidade termal?

JM – Uma cidade termal caracteriza-se por ter o termalismo como importante na sua economia e numa cultura urbana específica. E o território mais importante não é apenas o que está imediatamente próximo dos banhos, por isso, o anel urbano à sua volta e alguns eixos estratégicos deveriam ter tido um cuidado extremo ao nível estético e funcional, em todas estas décadas mais recentes, período no qual nem sempre houve níveis de exigência aceitáveis por parte de diversos agentes.

JC – Na sua opinião, foram mais decisões erradas ou oportunidades perdidas?

JM – Ambas. Mas o que importa lembrar é o histórico essencial de atitudes para chegarmos ao estado presente das coisas. A autarquia não viu as quintas da Boneca e de Santo Isidro como estratégicas para o futuro do termalismo das Caldas, não para 10 ou 20 anos, mas para 100 ou 500 anos mais. Veja-se, também, que cometeu erros ao manter o futebol na Mata, aquando da construção de uma nova área desportiva. Veja-se a construção de um pavilhão na Mata e de um campo de futebol na Quinta da Boneca. Veja-se que não se exerceu o interesse público, tal como sugeri ao dr. Fernando Costa, na aquisição da Quinta de Santo Isidro, ao topo da Mata, por um empresário da construção civil. Veja-se que nunca se concluiu o plano da zona histórica, em termos de procedimento formal, o que potencia a decisão discricionária e o impedimento de intervenções fora do padrão actual.

JC – Lamenta que a candidatura a Património da Humanidade se tivesse gorado depois da sua saída do executivo em 2005?

JM – Essa pré-candidatura que lancei em 2002 e divulguei nacional e internacionalmente era um processo. Mais importante do que o final seriam as etapas intermédias de valorização urbana e patrimonial. Ora, essa pré-candidatura e outros projectos que introduzi na Câmara foram descontinuados, porque eu não tive condições políticas para continuar e houve uma espécie de branqueamento em relação ao que foi traçado pela equipa que constituí. A pré-candidatura do conjunto termal junto da UNESCO foi pioneira na temática do património termal. Sabe-se agora que diversas termas europeias estão a trabalhar em propostas semelhantes.

“Há quem considere que esta minha luta é inglória”

JC – Com o seu percurso de investigador e técnico no termalismo e um passado político local em que sempre defendeu esta causa, esperaria estar a contribuir para o processo termal?

JM – Não esperaria isso da maioria, que se instalou no conforto do seu eleitorado e da sua prática política, mas também a oposição não se soube organizar no sentido de criar maior peso de influência em prol do bem comum. O que me satisfaz é ler em diversos programas eleitorais ideias que advêm do projecto integrado de termalismo que tracei enquanto vereador e publicitei nos meus livros e artigos, mas depois falham outros aspetos e toda a gestão autárquica parece uma manta de retalhos. Nunca mais houve uma ideia estruturada e assente no conceito de cidade termal, como visão distintiva e propulsora da economia e de uma cultura e pedagogia específicas.

JC – E, agora, se não houver essa colaboração estreita com o projecto termal e mantiver a sua visão crítica, admite candidatar-se à Câmara?

JM – Admito voltar e ajudar as Caldas nesta nova etapa da minha vida em que já atingi patamares académicos e profissionais que viabilizam isso, embora haja quem considere que esta minha luta é inglória. Mas, enfim, se o presidente da Câmara considerar por bem potenciar os meus conhecimentos e as minhas experiências em prol de um tema e de uma realidade urbana que conheço, com lealdade mas liberdade de pensamento, admito colaborar ainda neste seu mandato, no qual, supostamente, muito se decide. Caso contrário, continuarei a ter uma visão construtiva e cidadã. O que está em causa é esta cidade onde nasci e uma disponibilidade séria de ajudar. Prefiro dizê-lo, abertamente, do que atuar por outros meios, mesmo parecendo imodesto, mas sei do que falo, pelo menos nestas matérias.

JC – Gostaria de ser presidente da Câmara?

JM – Nunca seria presidente da Câmara apenas por gostar, nem sei qual é o propósito do atual presidente para o seu futuro. Um desafio desse tipo acarreta muitas mais pessoas e uma estrutura sólida, partidária ou não. Não chega ter qualidades, mas são precisos apoios, e eu conheço o perfil e as motivações do eleitorado caldense, bem como a rede de dependências estabelecidas. O meu percurso político sempre foi em prol das Caldas, aparte as ideologias partidárias, assim se compreendem os convites que tive de todos os quadrantes, aceitando uns, declinando outros, uns que se tornaram públicos, outros não, mas talvez um dia revele essas histórias em livro.

JC – A propósito, é raro acontecer que uma pessoa tenha no seu percurso político convites tão diversos e, ainda, ter sido o principal promotor do Conselho da Cidade, uma iniciativa de cidadania com origem na autarquia e entregue à sociedade civil.

JM – A política e a cidadania devem convergir. O Conselho da Cidade é um caso singular no nosso país, no modo como foi originado e se mantém vivo e actuante, mas há sinais contra a cidadania. Veja-se a demissão dos órgãos eleitos desta autarquia em relação à sua participação directa no Conselho da Cidade como observadores e facilitadores, tal como foi pensado e cumprido inicialmente. Veja-se a dificuldade que existe, regularmente, nas ideias com origem no Conselho da Cidade quando é pedida a colaboração da autarquia.

JC – Sente-se, portanto, longe de uma participação mais manifesta nos destinos da cidade?

JM – Não depende apenas de mim, aliás, neste momento depende de se querer ou não, na autarquia, mais pessoas informadas nas diferentes áreas de atividade. O projeto termal pode ser um exemplo. Um exemplo para que, noutras áreas, convirjam caldenses que queiram ajudar as Caldas. Uma espécie de dar voz à diáspora caldense. O que eu acho é que dos caldenses mais esclarecidos muitos estão desiludidos, porque não chega termos este registo de gestão autárquica a que estamos habituados, nem a cidadania tem estímulos suficientes para ir mais além. Para além de que a colaboração de independentes nos partidos políticos ou em autarquias cristalizadas faz parte de uma mera retórica por parte de quem está instalado.

JC – Mas, para concluir, parece então que está disponível, apesar das reticências.

JM – Como cidadão ou político, estarei sempre disponível. Mas o meu pensamento não está à venda, o que é bem diferente de aceitar desafios em que acredito como oportunidade para melhorar propostas colectivas, tal como os desafios que recebi no passado e até com uma exposição pessoal a um certo escrutínio público primário. Aprendemos uns com os outros e com as experiências de vida, basta potenciar o melhor de cada um de nós. E isso é um dos papéis que deve ter um presidente de Câmara.

Uma nova pós-graduação em termalismo

Jorge Mangorrinha preparou uma nova pós-graduação em termalismo, de que é coordenador científico, para licenciados em diferentes áreas, a convite do Instituto Piaget e a realizar em Amarante, mas lamenta que “as Caldas não tenha aproveitado o interesse que havia há cerca de 15 anos num projeto pedagógico”, tal como defendeu, como investigador e vereador, “que até foi corroborado pelo Centro Hospitalar, embora a administração de então colocasse grãos na engrenagem nalguns aspetos”.

Para o docente universitário e investigador, “Amarante é uma escolha natural, porque se situa no centro geográfico da área com maior número de estâncias termais (Norte e Centro) e, sobretudo, porque se trata do balneário termal mais moderno e recente em Portugal, dado que é importante para que o ensino esteja na vanguarda do desenvolvimento, e vice-versa. Esta pós-graduação tem um programa verdadeiramente inédito, desde logo, prevendo um seminário e uma linha de investigação intitulados ‘Termas Criativas’”, sublinha.

Haverá ainda a possibilidade de utilização de meios online, durante as aulas, para alunos provenientes de locais mais distantes.

Recorde-se que Jorge Mangorrinha esteve na origem da programação de outros cursos em Termalismo e Turismo de Saúde, designadamente nas Caldas da Rainha, quando a Escola Técnica Empresarial do Oeste quis avançar com o Curso Técnico-Profissional em Termalismo para alunos do 10º ao 12º ano.

Aponta que “Caldas da Rainha tem condições para um projeto pedagógico e de investigação no termalismo, mas os decisores terão que privilegiar os valores das ideias aos preconceitos pessoais e aos jogos político-partidários. Seria sobretudo com este propósito e num projeto pedagógico com ligação estreita com o termalismo e a cultura termal que eu estaria disponível para colaborar futuramente nas Caldas da Rainha”.

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