Um grupo de cidadãos das Caldas da Rainha foi à Assembleia Municipal entregar um abaixo-assinado com cerca de mil assinaturas para contestar a demolição da antiga fábrica Secla, exigindo a preservação da unidade fundada em 1947, que foi uma das principais produtoras e exportadoras da cerâmica caldense a partir de meados de século XX, perfazendo agora dez anos sobre o seu encerramento.
O escultor Carlos Oliveira foi o porta-voz do grupo de cidadãos que entregou na Assembleia Municipal das Caldas da Rainha um abaixo-assinado com cerca de mil assinaturas para contestar a demolição da antiga Secla, pretendendo que se volte a discutir o assunto face ao projecto de transformação da área da fábrica para supermercado, hotel e fast food.
O grupo inclui “uma série de trabalhadores da Secla” e acaba por ter “representação das várias forças políticas da cidade, embora não de uma forma institucional”, pretendendo defender “a história de 70 anos desta empresa, que deu trabalho a mais de dez mil pessoas”.
“Existiu no passado um projeto que salvaguardava o edifício antigo da Secla”, frisou Carlos Oliveira. No abaixo-assinado lê-se que “numa cidade que se pretende ‘da cerâmica’ importa preservar as memórias que lhe deram esse estatuto”.
“Estamos na iminência, porém, de ver desaparecer, definitivamente, o testemunho físico mais relevante da história da Secla, em nome da instalação de uma operação urbanística que mesmo apresentando, em parte, benefícios para a cidade, não salvaguarda, convenientemente, essa memória e essa identidade. Importa, pois, preservar uma parte do edifício original, para nele se instalar um espaço de memória e aberto à criatividade”, é defendido no abaixo-assinado.
Os cidadãos subscritores requerem à Câmara Municipal que “reveja o projeto de investimento privado para a área do edifício principal da Secla, tendo em vista a salvaguarda da memória física da fábrica, como herança patrimonial da cidade e dos caldenses e recurso cultural e turístico”, indicando que o espaço “podia conter o espólio riquíssimo e diverso da Secla, na posse da Câmara Municipal [seis mil peças], e peças de outras origens da mesma época que existem em reserva no Museu da Cerâmica”.
Seria, segundo argumentam, “um atrativo turístico e lastro cultural, acentuando o sentido de identidade e pertença por parte dos caldenses”.
O terreno e o edifício da fábrica foram adquiridos pela empresa Prime Unit, que assumiu perante a Câmara Municipal o compromisso de manter um pórtico com parte da fachada da fábrica, com a inscrição “Secla” no design original e localizado numa praça de fruição pública a criar aquando da construção do complexo.
O presidente da Câmara, Tinta Ferreira, comentou que “não estamos muito divergentes com o que o abaixo-assinado diz. Tem havido uma preocupação da nossa parte no sentido de convencer o proprietário a tomar algumas iniciativas que pudessem preservar o património da Secla”.
Lembrou, no entanto, tratar-se de “um investimento privado”, em que a autarquia “não pode impor aos promotores” a manutenção do edifício.
Ainda assim, afirmou, “para além do pórtico, a Câmara conseguiu que os investidores concordassem em integrar elementos da fábrica no projeto”, devendo existir no restaurante um núcleo de exposição de peças da fábrica e outros elementos decorativos no hotel e na superfície comercial.
“A Secla terá o seu espaço de memória, sem prejuízo da requalificação daquele espaço”, afirmou Tinta Ferreira, para quem “o que desrespeita a memória é o atual estado de degradação” do imóvel.
O assunto já havia sido abordado em anterior reunião da Assembleia Municipal. Vítor Fernandes, do PCP, voltou a frisar que “não faz sentido que não se preserve o património histórico”, recordando um projeto aprovado em 2003 que “preservava o espaço para o possível Museu da Cerâmica nacional”, mas que “ficou na gaveta”.
Arnaldo Sarroeira, do BE, deu apoio à pretensão dos cidadãos. Pedro Seixas, do PS, saudou a recolha de assinaturas, que vai ao encontro do que o PS defende.
Do lado de quem apoia o compromisso conseguido pela Câmara, Duarte Nuno, do PP, admitiu perceber que “haja uma ligação afectiva ao espaço”, mas mostrou-se mais preocupado com a qualidade arquitetónica do edifício que será construído, pelo que defendeu o acompanhamento do projeto na Assembleia Municipal.
Alberto Pereira, do PSD, que vai ao encontro das diligências encetadas pela autarquia, disse que “é de manter viva a memória desta importante unidade industrial que existe no concelho e devemos manter a parte mais relevante do antigo edifício, aquilo que é o pórtico de entrada, com o lettering Secla e toda a parte de azulejos de Hansi Staël. Defendemos também que a ampliação do atual Museu de Cerâmica incorpore todo o espólio da Secla”.
Política municipal de juventude contestada
António Vidigal foi à Assembleia questionar a política municipal de juventude. O presidente da Juventude Popular das Caldas da Rainha manifestou que “dos muitos dos jovens que seguem o ensino superior poucos regressam ao concelho, porque falta uma estratégia que permita a criação de trabalho qualificado”.
Sustentou também que o Conselho Municipal de Juventude, criado no âmbito da Assembleia Municipal, “podia ser importante para a definição da estratégia do município, mas não funciona há sensivelmente um ano”.
Vítor Fernandes comentou que “só conseguimos fixar os jovens se tivermos um desenvolvimento harmonioso do tecido económico. Este executivo não tem planeamento para o desenvolvimento económico”.
“A autarquia não tem política de juventude”, manifestou Arnaldo Sarroeira. Pedro Seixas corroborou o conteúdo da intervenção de António Vidigal. Duarte Nuno reforçou que “o Conselho Municipal de Juventude permite ouvir os jovens e é importante que seja reativado”.
Alberto Pereira defendeu que “existe política de juventude e tem mostrado a sua qualidade”, exemplificando com “as bolsas de estudo para jovens que querem ir para a universidade, espaços de fruição para a juventude e condições para ensino de excelência”.
Outra intervenção no período dedicado ao público foi de Leonardo Duarte, de 14 anos. O jovem foi falar do Skate Parque, que apontou estar “muito degradado”.
Lalanda Ribeiro, presidente da Assembleia Municipal, elogiou a sua participação: “Não é habitual na Assembleia aparecerem jovens a falar e gostámos de ouvir transmitir esses problemas”.
Os deputados esperam que a Câmara resolva a situação.
Condições de trabalho dos funcionários da limpeza
Joana Agostinho, do PS, abordou as condições de trabalho dos assistentes operacionais dos Serviços de Higiene e Limpeza Urbana, comentando que as instalações dos Serviço na antiga fábrica Mattel, no Bairro de S. Cristóvão, estão “completamente degradadas”.
“As oficinas, o refeitório e os vestiários não têm condições mínimas de conforto e de higiene, nem isolamento térmico e, mais grave ainda, têm coberturas já com buracos que deixam passar a chuva – ainda mais composta por um material altamente nocivo para a saúde que é o amianto”, sublinhou.
Para além disso, “observa-se também a acumulação dos chamados ‘grandes monos’, nomeadamente sofás, móveis velhos e eletrodomésticos, à entrada dos serviços, que originam a proliferação de ratos e lixo acumulado”.
“Os assistentes operacionais necessitam também urgentemente de novas fardas e botas adaptadas à chuva e ao inverno”, frisou.
A deputada falou também da dificuldade na recolha do papelão na cidade, principalmente na Praça da Fruta.
Arnaldo Sarroeira apresentou uma proposta de recomendação à Câmara, pretendendo um plano de intervenção de emergência dos Serviços Municipalizados por causa da rede de abastecimento pública de água do concelho que se encontra “num estado calamitoso, com roturas sistemáticas das canalizações que, além da perda substancial de água, criam problemas de abastecimento e de qualidade da mesma durante e após as reparações, danificando equipamentos e demais bens dos munícipes”.
“A monitorização e controlo da qualidade da água não garantem condições satisfatórias para os utilizadores, tornando-se por vezes um problema de saúde pública”, referiu o deputado do BE, que pretendia “a elaboração e aprovação de um Plano de Emergência Plurianual que permita um faseamento claro das intervenções e o respetivo mapeamento, com cativação de verbas suficientes para aumentar a capacidade de resposta dos Serviços Municipalizados”.
A recomendação foi chumbada, tendo tido votos favoráveis apenas do Bloco de Esquerda e do PCP.
Aprovado foi um voto de louvor apresentado por Joana Agostinho, a congratular o Sporting Clube das Caldas pelo apuramento para os 16 avos de final da competição europeia Challenge Cup em voleibol.
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