Dividido em cinco capítulos (Autores, Folia, Educa, Ilustra e Paralelo), o festival este ano registou “um substancial aumento da participação nas várias atividades”, e em termos de qualidade foi “o melhor das quatro edições”. Para o presidente da Câmara de Óbidos, Humberto Marques, isso deve-se à escolha do tema para esta edição “Ócio, negócio e a invenção do futuro”, que “deixou muitas pessoas desassossegadas e outras muito entusiasmadas”.
Igualmente contribuiu a programação do festival que, “sem fugir muito do tema”, estava “calibrada entre o erudito e o popular”, e que permitiu “ser interessante para as elites”, bem como convidava “as outras pessoas a participar”.
Outro dos fatores que contribuíram para o sucesso foi, segundo Humberto Marques, “uma verdadeira territorialização do evento, com a participação nos diferentes capítulos do festival de pessoas que passaram da cadeira do espetador à cadeira do ator principal”, no âmbito de “uma política de democratização da cultura”. Além disso referiu que o festival “não ficou apenas amarrado ao livro”, tendo ampliado “a dimensão do pensamento” com as reflexões partilhadas entre autores e o público nas mesas do festival.
Outro aspeto destacado foi o “novo eixo criado e que foi muito interessante, o FOLIO Boémia”, sendo “um espaço de criação permanente para as próximas edições”.
Esta edição, segundo Humberto Marques, também ficou marcada pela participação de outros festivais literários de Portugal, dos Estados Unidos e do Brasil, no Folio, o que permitiu “criar uma rede de parcerias” que vão refletir-se na próxima edição. Igualmente destacou a parceria com a FLIP – Festa Literária Internacional de Paraty, que permitirá a abertura de “uma casa permanente de Óbidos Vila Literária naquela cidade”, e que levará a produção literária nacional ao outro lado do atlântico.
Por tudo isto, Humberto Marques espera que “uma vez por todas o país assuma a sua responsabilidade pública de financiar projetos que ajudem afirmar o maior ativo que temos”, visto que esta edição foi quase integralmente suportada pela autarquia, contando apenas com o apoio monetário do Ministério da Educação para a realização do seminário “Folio Educa”. Nesse sentido, o autarca considerou importante haver “um aumento de apoios institucionais”. Igualmente afirmou que “se havia dúvidas em relação à estratégia Óbidos Vila Literária e ao Folio, elas estão dissipadas e creio que agora é o momento de quem gere fundos públicos poder dar um sinal ao país”, já que o festival “não projeta apenas Óbidos, mas também Portugal”.
Já José Pinho, da Sociedade Óbidos Vila Literária, considerou que os resultados desta edição mostram “que este é o modelo a seguir em próximas edições, e de preferência sem repetir muito os autores”. Ainda se possível atingir, na quinta edição, o objetivo de que “todos os autores portugueses passem pelo Folio”.
Os organizadores também pretendem conseguir “trazer nos próximos anos novos autores de língua portuguesa”, de modo a contribuir para o aumento em Portugal da edição de autores da lusofonia.
A organização também revelou que o tema da próxima edição “andará à volta das grandes viagens e estará ligado aos 500 anos da viagem de Fernão de Magalhães”. O FOLIO 2019 irá realizar-se de 10 a 20 de outubro, para não coincidir com outros festivais nacionais.
“O FOLIO tem sido um milagre”
Numa vinda sem aviso prévio, como já é habitual, esteve presente o Presidente da Republica, Marcelo Rebelo de Sousa, na passada quarta-feira, para visitar o FOLIO e assistir ao concerto de música tradicional dos “Roncos do Diabo”.
Durante a visita, o Presidente da Republica aproveitou para passar pelas livrarias e ainda travou contacto com os visitantes do festival. Para Marcelo Rebelo de Sousa, o “FOLIO tem sido um milagre e só é possível um milagre na base da utopia”, recordando que é feito com “poucos ou nenhuns apoios, e pela iniciativa da própria autarquia, da população, daqueles que dão a vida do ponto de vista cultural, daqueles que aparecem e conseguem converter aquilo que não pode morrer num grande sucesso”.
Marcelo Rebelo de Sousa sublinhou que “o FOLIO é muito mais do que livros”, passando a ser livros e artes plásticas, depois música e vivência humana. Destacou também que a vila tem uma “capacidade humana de recriar, que é própria da cultura e a cultura não é só feita de livros, passa por tantas outras manifestações populares”, e nesse aspeto, considerou que o FOLIO conseguiu ser equilibrado em termos de programação.
Para o Presidente da República, “os que consideravam que podia ser erudito a mais, o FOLIO conseguiu ser erudito e popular, se é que há alguma oposição entre o que é mais erudito e o que é visceralmente popular”.
Garantiu que para o ano cá estará outra vez.
Gonçalo Ribeiro Telles homenageado
O arquiteto paisagista Gonçalo Ribeiro Telles foi homenageado no FOLIO, numa sessão que contou com a participação de companheiros de luta política, como Luis Coimbra e do escritor Vasco Rosa.
Os “lóbis do cimento, da celulose e da eletricidade” foram, ao longo da vida de Gonçalo Ribeiro Telles, de 96 anos, “os três monstros” contra os quais “nunca se cansou de alertar”, afirmou Luis Coimbra, que ao lado de Gonçalo Ribeiro Telles foi fundador do Partido Popular Monárquico.
A sessão terminou com a apresentação de uma medalha do município para ser entregue ao arquiteto, cuja presença no FOLIO foi anunciada pela organização mas acabou por não se confirmar.
“Contramapa” vence Prémio Latitudes Viagens & Vantagens
No dia em que encerrou as portas, o FOLIO entregou o galardão da primeira edição do Prémio Latitudes Viagens & Vantagens à autora do texto “Rio de Onor, uma das sete aldeias maravilhas de Portugal”, Diana Guerra, do blogue “Contramapa”.
O trabalho, segundo Francisco Esteves, diretor do programa Viagens & Vantagens, da Via Verde, foi publicado em outubro de 2017, tendo sido aquele que “maior curiosidade suscitou em visitar o destino que é descrito”.
A blogger premiada recebeu a possibilidade de passar um ano a viajar e conhecer doze destinos em Portugal, e ainda foi atribuída uma menção honrosa ao responsável pelo blogue “Porto Envolto”, que recebeu três meses de viagens e programas de lazer.
Os finalistas foram selecionados entre treze concorrentes ao prémio, que foi lançado em Óbidos, em abril deste ano, integrado no Festival “Latitudes”, e tinha como objetivo “fomentar o número e a qualidade dos blogues sobre viagens e turismo em Portugal”.
Este galardão, que foi nesta primeira edição voltado para a literatura digital, pode ser alargado a outras áreas, como as artes plásticas e música.
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