Na abertura do congresso o presidente da Comunidade Intermunicipal do Oeste (OesteCIM), Pedro Folgado, sublinhou que a região enfrenta vários desafios neste momento, quer ao nível da “competitividade”, com empresas e ecossistemas mais inovadores, quer ao nível do crescimento demográfico, do combate às alterações climáticas, da transição energética e da melhoria da qualificação da população.
Nesse sentido alertou para a questão da “preparação das gerações mais novas para um mercado de trabalho que requer novas competências”, de modo a “enfrentar o processo que assistimos de digitalização de economia”. Destacou ainda a necessidade de as empresas incorporarem o conhecimento e de aumentar a ligação entre a investigação e o mundo empresarial.
Outros imperativos que apontou prendem-se com o reconhecimento dos recursos endógenos da região, e a necessidade de “tirar o máximo proveito das potencialidades do território”, como o caso do mar, que tem “um enorme potencial económico”.
Mas para que isso aconteça, Pedro Folgado focou a necessidade de “uma rede viária” que aproxime os doze municípios, “nomeadamente o famigerado IC11″ (reclamado há décadas para ligar Torres Vedras ao Carregado) e a delegação de mais competências que afirmem a região.
Por fim, sublinhou que “um novo congresso” poderá repetir-se em 2020, com novas temáticas.
Presente também esteve o secretário de Estado das Autarquias, Carlos Miguel, que aproveitou para anunciar que a partir de janeiro de 2019 o Governo vai reforçar as competências das comunidades intermunicipais em matéria de planeamento regional, sem se sobreporem “às competências municipais”.
O governante explicou que a descentralização vai passar pelos julgados de paz, formação profissional, cartas sociais, promoção turística e gestão de captação de investimentos.
Esta atribuição vai ser replicada em todo o país e as comunidades intermunicipais vão também passar a dar parecer ao nível da oferta de cursos profissionais, verificando quais as necessidades de cada região, para evitar a sobreposição de oferta nos vários municípios e para “haver uma maior ligação entre as necessidades empresariais e a oferta educativa”.
No que diz respeito à promoção turística, “passam a poder fazer diretamente candidatura a fundos comunitários para eventos que considerem estruturais para a sua região”. Também vão ter “uma palavra na gestão de programas de captação e investimentos”, que deixam de ficar “só nas mãos da AICEP – Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal”. Ou seja, “temos aqui uma panóplia de competências que acabam por congregar aquilo que é planeamento da região e capacitação de ir à procura do próprio futuro”.
Igualmente referiu que as cartas sociais vão passar a “ter uma componente intermunicipal para que a cobertura regional possa ser mais equilibrada em cada um dos territórios”.
Em termos de execução de obra, a OesteCIM é a segunda da região Centro com um fundo executado e pago na ordem dos cinco milhões.
Ainda na abertura, o presidente da Câmara Municipal, Tinta Ferreira, referiu que “este é o momento de projetar o futuro dos tecidos económicos do país”.
Parcerias entre setores para alavancar economia
Dividido em cinco painéis, os autarcas, empresários e oradores analisaram as questões relacionadas com a inovação no setor agroalimentar e no mar, a definição de políticas públicas e o futuro empresarial, o futuro da indústria no Oeste, os novos paradigmas para o comércio e serviços, e o turismo e os desafios da sustentabilidade.
No que diz respeito ao futuro da indústria no Oeste alguns dos empresários convidados alertaram para as parcerias entre os setores, podendo assim ajudar a impulsionar a economia.
Carlos Barros, responsável do Grupo Barros e Moreira, sublinhou que “o ponto forte para as indústrias da região” também passa pelas parcerias, neste caso com os estabelecimentos de ensino superior. “Nós já fizemos muitas parcerias com a ESAD.CR, o que nos permitiu ganhar a nível internacional quatro prémios de design”, referiu o responsável, apelando ao investimento e criação de cursos industriais na região Oeste.
O presidente do Conselho de Administração da Solancis, Samuel Delgado, desafiou os empresários da região a apostarem nas sinergias, “dentro e fora dos setores”, dando como exemplo a parceria que desenvolveu com uma empresa ligada ao calçado, onde o empresário constatou a capacidade de vários setores se conseguirem complementar e assim angariar novos mercados. “Foi uma experiência agradável beber essa informação de outro setor e trazer essa mais-valia para a pedra. Hoje temos um produto diferenciador”, explicou o responsável, destacando que há setores que podem impulsionar outros, como o caso do turismo. “Porque não trazer os turistas e fazer uma visita à pedreira?”, questionou.
António Peralta, sócio-gerente da Ivo Cutelarias, referiu que “temos de pensar no futuro e tentar sermos donos do que produzimos até ao consumidor final”.
Estas empresas têm em comum a mesma problemática – a dificuldade de recrutamento de mão-de-obra qualificada e não só. “Isto é um problema sério, que se acentua em vários sectores, e por muito que se automatize e mecanize, há certas tarefas que não dispensam a atividade humana”, referiu José Lima, da Casa Santos Lima.
Em representação do secretário do Estado da Agricultura e Alimentação, o adjunto Luis Caiano alertou os empresários para percorrerem “um caminho de exigência”, aproveitarem o “quadro de oportunidades inerentes à abertura do mercado de exportação”, interagirem com a rede de investigação para internacionalizar conhecimentos para as organizações e investirem em processos, produtos e recursos humanos para atingir os níveis de competividade.
Relativamente às políticas públicas no futuro empresarial e do empreendedorismo, Isabel Damasceno, da CCDR-Centro, salientou a importância dos fundos comunitários no apoio a projetos empreendedores, destacando o ambiente comum para a competitividade que se sente na Região Oeste e o importante papel desenvolvido pela comunidade intermunicipal.
Ministro do Ambiente alertou para a economia circular
No encerramento do congresso, o ministro do Ambiente, João Matos Fernandes, destacou a importância da transição de um sistema económico linear para um modelo circular, e que até ao final do ano “mais de três milhões de euros vão ser dedicados à economia circular”.
De acordo com o ministro, a economia linear, “base de toda a atividade socioeconómica, está a falhar”, e se se quiser “alimentar, vestir, garantir a saúde e a habitação, produzir, comercializar e dar emprego aos dez mil milhões de pessoas que irão habitar este planeta” é preciso adotar “um modelo de desenvolvimento circular”.
Igualmente sublinhou que se até 2030 a transição para a economia circular for acelerada a estimativa de ganhos é de “1,8 biliões de euros, entre 1 a 3 milhões de empregos” e “a redução de 4% do total anual de emissões de gases que produzem efeitos de estufa na Europa”. E não querendo “ficar de fora deste movimento”, o Governo lançou o Plano de Ação para a Economia Circular, que engloba as medidas já lançadas de fiscalidade para os plásticos ou as agendas regionais que estão a ser desenvolvidas pelas comissões de coordenação.
João Matos Fernandes recordou ainda que “existem outras políticas em curso” como “a digitalização na administração pública, as compras públicas ecológicas ou o trabalho feito na indústria 4.0”. Por fim, desafiou o setor produtivo a não esperar “por soluções chave na mão” e a pôr em prática os princípios da economia circular no setor primário.
Caso contrário, “de um modelo linear que esgota esse recurso apenas decorrerá um resultado, a insustentabilidade”.
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