“Os ceboleiros das Caldas ajudam-nos a manter viva esta feira”, disse ao JORNAL DAS CALDAS, no dia da inauguração do certame, o vice-presidente da Câmara Municipal de Rio Maior, Filipe Santana Dias.
Segundo o autarca, “a cebola continua a ser a rainha da feira”, recordando que “chegámos a ter alguns produtores do concelho de Rio Maior, que foram desaparecendo naturalmente, uma vez que os filhos não deram continuidade à atividade agrícola”.
Filipe Santana Dias adiantou que em conversa com alguns produtores de cebola, verificou que já participam neste certame há mais de 60 anos.
“Existe aqui uma simbiose perfeita, porque sem os produtores da freguesia de Alvorninha seguramente não havia esta mostra, e sem a Frimor também não havia tantos produtores”, afirmou o autarca.
O vice-presidente da Câmara de Rio Maior, que está no seu primeiro mandato, não tinha a noção da quantidade de “pessoas, nomeadamente de Lisboa, que se deslocam ao certame para comprar cebolas para consumo durante o ano”.
O certame de 2018 teve como novidade um espaço novo para os ceboleiros, com sombra e iluminado durante a noite, com o objetivo de “dignificar a mostra”.
Ceboleiros caldenses
O JORNAL DAS CALDAS passou pelas bancas dos produtores de cebola, e entre os ceboleiros nenhum pertencia ao concelho de Rio Maior. “A freguesia de Alvorninha é a legítima “terra da cebola”, disse Paula Prisco.
Acompanha o seu pai, José Francisco Ferreira, de 83 anos, que vem a esta feira desde os seus 20 anos. “Foi aqui que ele começou a namorar com a minha mãe, quando ajudava a minha avó”, recordou a filha.
Paula Prisco tem 52 anos, é empregada, mas não falha uma feira para “ajudar o pai” e porque gosta. “É também um momento de risos e troca de conversa”, salientou.
“Há 15 anos veio a este certame um comprador de França com um camião e comprou a cebola que havia nessa altura na feira, e como a nossa foi que aguentou mais tempo, ficámos com o cliente, e agora todos os anos vendemos para França”, referiu.
Revelou ainda que este ano houve uma quebra de produção por causa do tempo. Vendeu os cabos da cebola a 70 cêntimos ao quilo, e os sacos de cebola a 50 cêntimos ao quilo.
Carlos Bom, da freguesia de Alvorninha, já vem a esta mostra desde criança, quando vendia com o seu pai.
Levou ao certame cerca de uma tonelada, alegando que continua a participar no evento pela “tradição, porque já não se vende como antigamente”. “Agora está tudo muito diferente. Era tudo mais tradicional, mas escoava-se muito mais produto”, referiu.
Quanto à produção, referiu que é a mesma que o ano passado, mas houve alguma cebola que queimou nos dias de calor em agosto. “O calor veio de repente e queimou algum do produto”, disse o produtor.
Apesar de ser um pouco mais dispendiosa, Carlos Bom levou vários quilos da cebola roxa, porque “está a ter procura, porque é mais doce, e dizem que tem vários benefícios para a saúde”. No entanto, revela que a branca a 60 cêntimos o quilo continua a ser a mais vendida.
Maria Rosa Ferreira, também da freguesia de Alvorninha, revelou que “são pelo menos 50 anos de Feira da Cebola”.
“Comecei a vir quando me casei. O meu marido tem 72 e eu tenho 70, e continuamos a trazer a nossa cebola, porque já é tradição”, salientou, recordando no entanto, que “há 50 anos era muito melhor, vendia-se de tudo e havia gente de todo o lado”.
O casal levou duas toneladas de cebola, mas deixou ficar muita em casa, até porque ainda não a apanhou toda, já que este ano “a colheita atrasou e alguma ainda está verde”.
A preparação para o certame “dá trabalho”. João Miguel escolhe e separa as cebolas por tamanhos, e faz os cabos, tendo por fio condutor as palhas previamente colhidas num rio na zona de Santarém.
Este é um trabalho difícil, devido ao tempo que estão sentados e a fazer o mesmo movimento.“O meu marido já está habitado, faz o trabalho muito mais depressa que eu”, revelando que há muitas pessoas que vão ao certame expressamente para comprar os cabos.
Maria Rosa Ferreira também levou à feira a cebola roxa, que “tem tido muita procura”. “Esta cebola é doce e cremosa e muito boa na salada”, salientou, acrescentando, que “é muita boa para a saúde e até há medicamentos feitos através da cebola roxa”. Esta produtora vendeu a maioria da cebola a 40 cêntimos ao quilo.
Carlos e Graça Leal, de Chãos, Alvorninha, continuam a participar nesta feira pelo “gosto e tradição”. “A minha filha veio a este certame quando ainda estava na minha barriga, e apesar de agora estar empregada, continua a participar no fim de semana, porque gosta disto”, salientou Graça Leal.
Carlos Leal revelou ainda que é uma forma de recordar a infância, porque “vinha com o pai vender a cebola que produziam na altura”.
Este ano, levou ao certame cerca de quatro toneladas de cebola, revelando que houve uma quebra na produção, por causa da chuva que veio tarde. “A cebola roxa tem saída, mas a amarela (valenciana), é aquela que tem mais procura”, salientou.
João Simões não é da freguesia de Alvorninha, mas é de Santa Susana, Landal, também das Caldas. Costumava participar todos os anos na Frimor, mas teve ausente alguns anos, e agora voltou, porque está à espera da reforma, e “é uma forma de passar o tempo e escoar a produção”.
Levou ao certame uma tonelada e meia, e vendeu a cebola a 50 cêntimos o quilo.
Maria de Lurdes Morgado, natural de Alvorninha, participa no certame há mais de 50 anos, sendo “já uma tradição”. Acompanhada pelos netos, a ceboleira contava mais uma vez vender toda a cebola que carregou para a feira, no total de duas toneladas, tal como tem acontecido em todos os anos. No entanto, mostrou-se pessimista pois este ano “as cebolas não têm saída e ninguém as quer”, mesmo a preços mais acessíveis, nos últimos dias do certame. ?Igualmente revelou, que “a cebola teve pouca produção este ano, devido ao tempo, mas mesmo assim, ainda deu para trazer qualquer coisa para a feira”.
Com o preço ao quilo de 70 cêntimos, a ceboleira mostrou-se reticente em relação à mudança da localização dos ceboleiros, “pois no outro lado as pessoas já sabiam onde nos encontrar. Agora, aqui não sei se foi muito boa escolha”. A produtora também revelou que o número de produtores na feira tem vindo a diminuir de ano para ano.
Fátima Marques também é umahabituéda Frimor, onde vai vender cebola há cerca de 40 anos, apesar de ter “estado uns tempos sem vir”. Há três anos, decidiu “retomar a tradição”, até porque”isto é divertido e quando falhamos um ano, sentimos logo falta”.
Para a edição deste ano, levou mais de duas toneladas de cebolas.”A venda esteve fraca”, afirmou a ceboleira, que também é natural da freguesia de Alvorninha (São Clemente). Mesmo assim, acredita que”vale sempre a pena”voltar à Frimor, onde além dos cabos de cebola branca, também tinha tranças da roxa para vender a 70 cêntimos o quilo.
“Tanto uma como a outra vende-se bem”, referiu a ceboleira, adiantando que ”quem compra a roxa, diz que é mais doce para cozinhar do que a valenciana”.
Segundo a vendedora,”a produção este ano não foi má, apesar da chuva ter estragado alguns dos canteiros que se semeou mais cedo”. Mesmo assim, houve algumas cebolas que foram semeadas um “bocadinho fora da época, que cresceram e vieram a tempo de ajudar a produção”.
Relativamente à nova localização dos ceboleiros, Fátima Marques esclareceu que “já estávamos habituados estar no outro lado do pavilhão, e as pessoas igualmente já sabiam onde nos encontrar, apesar de que este ano temos melhores condições”.
“Este ano a Frimor já é um certame de âmbito nacional”
O presidente da Entidade Regional de Turismo do Alentejo/Ribatejo, Ceia da Silva, e a presidente da Câmara de Rio Maior, Isaura Morais, inauguraram na tarde de 29 de agosto mais uma edição da Frimor, no pavilhão multiusos de Rio Maior.
Com as alterações promovidas nesta edição, a organização pretende imprimir uma nova dinâmica ao certame e atrair novos públicos, reposicionando-a “novamente no calendário nacional dos eventos” e devolvendo-lhe o cunho de montra do setor agrícola e empresarial do concelho.
Quem o garante é a presidente da autarquia riomaiorense. Reeleita em outubro do ano passado, a autarca reconhece que a Frimor representa “as nossas tradições e raízes, bem como aquilo que melhor se produz neste concelho”.
Aproveitou o ato inaugural, ainda, para agradecer aos anteriores organizadores do evento, pois “permitiram que a Frimor não morresse”. Aliás, referiu, que “em determinada altura nós, riomaiorenses, não acreditávamos que esta feira pudesse a vir ter continuidade”, mas ahistória do certame e”o património de saudade, que aos mais antigos suscita”, exigiram que lhe fosse dada uma força renovada, cabendo agora à autarquia a “responsabilidade e a missão de levar às gerações futuras aquilo que foi e aquilo que queremos que a Frimor volte a ser”.
Ceia da Silva afirmou que ”a Frimor é um certame de âmbito nacional”, elogiando a organização pelo facto ter melhorado o evento “sem esquecer os seus 250 anos de história”.
Depois da cerimónia, todos os convidados foram visitar o certame, que se concentrava na zona interior e envolvente do Pavilhão Multiusos.
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