Com chancela da editora Alma Azul, “A Incerta Viagem” reúne 40 poemas sobre temas diversos, todos inéditos, escritos desde 2013. Estão divididos em quatro áreas: ideias/pensamentos, emoções factuais, vigílias/sonhos e poemas introspetivos.
Elsa Ligeiro, responsável pela Alma Azul, apresentou o livro, num encontro que reuniu a família da autora e amigos, alguns dos quais tinham servido de mote aos poemas que constam no livro.
Sendo o espólio de uma vida, é sobretudo uma “obra que a autora gosta que seja lida, porque é a maior homenagem que podem dar”.
É um livro escrito com muita paixão e há quem diga que os poemas são “luminosos”, retratando ainda “coisas da vida, umas melhores que outras, no fundo, como a vida de qualquer um de nós”.
Isabel Gouveia já escreveu diversos livros e considera que são todos “diferentes uns dos outros” e correspondem “a uma determinada fase” da sua vida.
“A Incerta Viagem”, que pode ser adquirida em várias livrarias do país e nas Caldas da Rainha na Bertrand, tem na capa um Disco de Festo. Foi encontrado em 1908 pelo arqueólogo italiano Luigi Pernier, nas ruínas do palácio de Phaistos, na costa sul de Creta e desde aí que os investigadores tentam desvendar o mistério gravado na argila.“Este disco representa a primeira escrita humana que se conhece e tem duas faces. De um lado representa uma mulher grávida e do outro um trabalho de parto e é uma oração à Deusa Mãe”, explicou a autora.
Neste momento está a trabalhar num novo livro sobre contos, mas não sabe quando vai ser publicado porque está “sempre a emendar”. “Cada vez que leio considero que há coisas que estão mal e faço correções”, explicou, revelando que gosta muito de escrever à noite porque é quando está “mais inspirada”.
Isabel Gouveia é o nome literário de Isabel Pereira Mendes, nascida em Aldeia das Dez, concelho de Oliveira do Hospital. Licenciada em Direito pela Universidade de Coimbra, ali concluiu também o Curso Complementar de Ciências Jurídicas. Foi conservadora do registo predial e, posteriormente à sua aposentação, exerceu também a advocacia.
Além de um grande número de trabalhos de índole jurídica, publicou também alguns livros de direito com elevado número de edições.
No campo das letras publicou variadas obras em poesia e em prosa. Obteve alguns prémios, tanto pela sua atividade jurídica como pela atividade literária. O seu livro de ficção intitulado “A Porta Estreita” venceu, na Sociedade Portuguesa de Autores, o Prémio José Galeno 1985.
Em 2005 foi homenageada, em sessão pública, pela Câmara Municipal de Oliveira do Hospital, que editou e lançou o seu livro de poesia intitulado “Escuta o Coração do Mundo”. Mais recentemente, em 2009, foi agraciada pela Câmara Municipal das Caldas da Rainha com uma medalha de mérito.
Poema do Livro
Os Remorsos “A Incerta Viagem”
Os remores são restos de passado,
gavinhas enroladas na memória
que a vão entretecendo vagamente,
docemente, quais críticos serenos
que não matam mas ferem como agulhas
espetadas no nosso coração.
Arrancar as agulhas é difícil,
essa dor que nos causam, recorrente,
aparece nos dias sem amparo,
nos dias de neblina mais cerrada,
em que o gelo recobre o coração
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