Como é do conhecimento geral, a cultura portuguesa foi, através dos séculos, fortemente determinada pela fé católica, e o seu traço religioso está patente em todas as aldeias, vilas e cidades do país, através de um extenso património arquitetónico, artístico, cultural e histórico.
Em Portugal, existe um organismo que estimula a preservação desse património, o Secretariado Nacional dos Bens Culturais da Igreja. Não sei até que ponto este organismo consegue avaliar, proteger e preservar todos os bens que deveriam estar sob a sua alçada, mas, o que sei, porque vejo em diversas regiões, é que há muito a fazer, no que trata à apreciação e resguardo do que a consciência arquitetónica, artística, cultural e histórica religiosa deixou de herança ao país.
Caldas da Rainha pertence a um desses casos. Neste concelho existe um número interessante de bens, relacionados com o património arquitetónico, artístico, cultural e histórico religioso, porém, falta agregar-lhe um cuidadoso roteiro turístico, aliado a uma ampla recuperação patrimonial.
Os deveres de conservação e defesa desse mesmo património devem estar de acordo com duas situações claras: 1) Consonância com as normas da Igreja; 2) Ampla visibilidade turística, para atrair todo e qualquer apreciador da arte religiosa e, assim, movimentar o comércio, a indústria e a cultura geral local.
A Câmara Municipal das Caldas da Rainha, com o apoio das Juntas de Freguesia, poderia criar um organismo (Departamento de Património Arquitetónico, Artístico, Cultural e Histórico Religioso?) que pudesse classificar todo o património arquitetónico religioso existente (sem apelo partidário, apoiando profissionais isentos, que sejam amplos conhecedores dos temas envolventes. Indivíduos, íntimos da história da arte, da arquitetura e da arqueologia, que façam um levantamento patrimonial honesto e cuidadoso, dando ênfase à valorização do legado que o concelho recebeu).
Que legado? Todas as igrejas, capelas e paróquias existentes no concelho. Lembrando que, no interior de cada, uma temos esculturas, pinturas, azulejos e retabulária, bem como os mais diversos paramentos (como as alfaias litúrgicas), que podem receber classificação histórica pelos mais variados motivos, e (aqui é um ponto delicadíssimo) todo o seu espólio documental, que é sem dúvida, a memória escrita daqueles locais.
Para concluir: Se a Câmara Municipal das Caldas da Rainha possuísse um departamento que tratasse da salvaguarda de todo o seu património arquitetónico, artístico, cultural e histórico religioso, a Igreja de Nossa Senhora do Pópulo não estaria tão degradada, o seu órgão de tubos não estaria no estado lastimável em que se encontra, e, outros exemplos patrimoniais, não seriam tão desconhecidos dos caldenses e dos turistas.
Caldas da Rainha, desde o século XV, vem construindo a sua identidade patrimonial religiosa, será que só um ateu, como eu, é que se preocupa com ela?
0 Comentários