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Europa pós-colonial

Francisco Martins da Silva

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O mundo é composto de mudança, e até a mudança já não é como soía, como sintetizou Camões. Houve um tempo em que o cidadão comum, confinado à sua região, vivia placidamente e a posteriori a mudança, não se apercebendo da sua urgência e do seu sentido global.

Mas hoje o cidadão comum sabe em tempo real o que acontece nos antípodas e apercebe-se de que a permanência não existe. E como o que é noticiado é quase só a catástrofe, o cidadão comum sente-se ameaçado. E quando os europeus estão a tornar-se minoria nos seus próprios países, o medo instala-se. It’s a jungle out there, confirma a canção de Randy Newman. É o momento oportuno para os radicalismos vencerem os ideais democráticos. Imaginando-se rodeado de uma selva de perigos terríveis, o cidadão comum europeu fica receptivo à ideia de segurança total, ao medo dos refugiados, ao extremismo e ao renascer dos nacionalismos. Como os políticos dependem dos seus eleitores, a política europeia trata sobretudo de como evitar que os europeus se tornem uma minoria.

Os nacionalistas tendem a apresentar os refugiados e os migrantes económicos como figuras abstractas, para as poderem deformar convenientemente. Na verdade, os refugiados ou requerentes de asilo (expressão cunhada pela actriz e activista dos direitos humanos Vanessa Redgrave) e os migrantes económicos, não representam nada em abstracto, não são generalizáveis. São pessoas muito concretas, cada uma com a sua história particular. Trazem consigo línguas e culturas e constituem movimentos sociais.

O capitalismo, desde a sua concepção no período mercantil dos séculos XV a XVIII, vem da supremacia branca. A supremacia branca, europeia, criou a escravatura, o colonialismo, os genocídios, as ideias racistas legitimadas pela religião e a exploração do trabalho consoante a raça. O colonialismo, o esclavagismo e o capitalismo destruíram comunidades e modos de vida tradicionais que eram sustentáveis.

Depois do “ano de África”, 1960, quando 17 novos países africanos surgem libertos da ocupação colonial, adoptou-se o conceito de multiculturalismo como meio de atenuar a má consciência do passado colonial através de uma coexistência artificial com não brancos, iludindo sempre o verdadeiro reconhecimento da diferença. E essa diferença é muito mais do que cultural, é histórica, é feita da história dos povos.

Ora, qual é, no presente e no futuro, o lugar da supremacia branca, que historicamente manipulou as relações sociais e moldou a existência dos povos colonizados e se vê agora assolada pelos descendentes desses povos?

Os multiculturalistas falam na coexistência entre as minorias de migrantes, económicos ou requerentes de asilo, considerando estas minorias como novos europeus assimilados,?acreditando que a Europa vai permanecer como está, mantendo-se a supremacia branca. Mas o movimento social dos migrantes é tão vasto que será inevitável redefinir a sociedade europeia através de uma assimilação recíproca, cruzando-se as sociedades, e não apenas através da aculturação por parte dos migrantes. A supremacia branca diluir-se-á. É uma inevitabilidade histórica.?Não há europeus suficientes para uma regeneração que sustente o Estado social. Foi a supremacia branca e o capitalismo que geraram este desequilíbrio populacional entre Norte e Sul, e, em simultâneo, criaram assimetrias insustentáveis de condições de vida. O movimento migratório é, pois, uma consequência inevitável.

Estes migrantes vêm de países que foram colonizados. São migrantes pós-coloniais que procuram na terra dos antigos colonizadores uma existência segura. Várias gerações depois, estas pessoas confrontam a Europa com as consequências da sua acção colonial.

É a oportunidade de a Europa se redimir, de construir novas relações sociais expurgadas do passado colonial racista, e de se tornar verdadeiramente pós-colonial.

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