Noite agradabilíssima, a de 16 de dezembro, no Centro Cultural e de Congressos de Caldas da Rainha, proporcionada pelo pianista Tiago Mileu. O pequeno auditório, com uma lotação muito interessante, foi, durante duas horas, o local por onde desfilaram composições de Ernesto Nazareth (1863-1934), Ludwig van Beethoven (1770-1827) e Frédéric Chopin (1810-1849).

Interpretar Ernesto Nazareth foi um mimo de Tiago Mileu, para com a atenta plateia, tão pouco acostumada a ouvir compositores brasileiros de épocas remotas. A contribuição de Nazareth para a riqueza rítmico-melódica da música de sua época é imensa e o seu repositório alcança os géneros mais diversos, tais como a Polca, os Tangos, as Valsas, as Mazurcas, os Schottisches (Chotiças ou Xotes, que são uma espécie de Polca lenta, de ritmo binário ou quaternário), as Marchas e as peças de cariz mais Erudito. Nazareth foi um estudioso da música da sua época, e de todo um leque de compositores eruditos, entre estes, aquele que mais o influenciou foi Frédéric Chopin, cuja obra estudou com minúcia.

Tiago Mileu, depois da dádiva, atira-nos com o Génio de Bonn, o ciclópico Beethoven. Este compositor alemão, de origem flamenga, pertencente ao período de transição entre o Classicismo e o Romantismo, conquistou rapidamente o respeito e a admiração da aristocracia da sua época, sendo arrebatado pelo sentimentalismo dramático e pela liberdade de expressão. Toda a estabilidade emotiva de Beethoven estava agregada e regulada por um exacerbado bem-querer para com a natureza e para com esplêndidas aspirações humanitárias. A sua “visão de mundo” englobava o desenvolvimento da linguagem, da expressão e do conteúdo musical, o que se nota, perfeitamente bem, em suas composições, podemos, então, resumir toda a sua obra numa só palavra: Liberdade. E, é através dela que o seu génio se amplifica, ganhando contornos incomensuráveis.

Concluindo a noite musical, Tiago Mileu ofereceu-nos algumas interpretações de peças de Frédéric Chopin, o compositor e pianista polaco (naturalizado francês) que morreu prematuramente, aos 39 anos, e que deixou registos musicais extraordinários. Chopin foi um estudioso do folclore polaco e dos ritmos populares, porém, foi na composição que se destacou, graças ao seu conhecimento acerca do instrumento (piano), pois soube tirar dele todas as sonoridades, investigar todos os meios musicais factíveis, tanto na dedilhação quanto na utilização dos pedais e no trato do teclado.

Em conclusão: Foi, realmente, uma grande noite. Como nota negativa, deixo a minha consternação no que trata ao descaso com que Tiago Mileu é tratado nas Caldas da Rainha. A classe política local ainda não compreendeu que deve dar todo o apoio possível a este jovem, facultando-lhe ad aeternum uma sala de estudo (com um piano de cauda), nas dependências do CCC, além de desenvolverem um esforço conjunto para conceder-lhe uma bolsa de estudos permanente.

Tiago Mileu é, hoje, o único músico, radicado nas Caldas da Rainha, que pode levar para o mundo o nome deste concelho. Será que podemos almejar a tanto?