Q

Previsão do tempo

14° C
  • Friday 23° C
  • Saturday 19° C
  • Sunday 24° C
15° C
  • Friday 24° C
  • Saturday 19° C
  • Sunday 25° C
15° C
  • Friday 25° C
  • Saturday 21° C
  • Sunday 26° C

Professores, é um luxo tratá-los mal

Francisco Martins da Silva

EXCLUSIVO

ASSINE JÁ
Tudo o que a classe docente tem conseguido em matéria de direitos laborais, tem sido sempre com a oposição e o desprezo da sociedade (o mais recente insulto veio de um ex-bastonário da Ordem dos advogados que classificou os professores como uma raça). Os governos apenas traduzem essa ingratidão odiosa e hipócrita. Porque, vejamos, o que seria a sociedade sem os professores? Haveria sequer sociedade?

Não vale a pena tratar este assunto de modo abstracto. Vamos, então, a factos.

Os comentadores encartados dizem que os professores não são e não querem ser avaliados e que as progressões são automáticas. Como é que se pode acreditar em afirmações destas? É simples, trata-se de uma mentira útil criada por fonte fidedigna: houve uma ministra mal-intencionada que não teve nenhum escrúpulo em propagá-la. O objectivo de então era denegrir a classe docente para que fosse justificável perante a opinião pública todo o prejuízo que lhe veio a ser feito. Mas a verdade é que os professores são, sempre foram, avaliados. Nunca pôde estar em causa se gostam ou não, se querem ou não. Para além do tempo de serviço (e o tempo, a experiência, é fundamental), têm de cumprir, com avaliação positiva, um mínimo de vinte e cinco horas de formação por ano (a que corresponde um crédito), e têm de ter pelo menos Bom na avaliação do seu desempenho profissional. Ora, isto é avaliação, e se esta avaliação não verificar os critérios referidos, não há progressão. Além disto, a passagem para o 5º e para o 7º escalões depende de vagas, tendo os docentes que ultrapassar também esta barreira administrativa.

Outro mito muito do agrado dos media é o de que os professores faltam muito. Vejamos, um docente é uma pessoa adulta que pode adoecer, pode ter um filho que adoeça, pode ter pais idosos que necessitem de assistência, pode ter um assunto urgente e inadiável a tratar. Um docente também pode ter de faltar! Acontece que, contrariamente à ausência de um operário que só é notada pelo chefe de secção e pelo colega mais próximo, a ausência de um professor é notada pelos cerca de cem alunos das três ou quatro turmas a que leccionaria nesse dia, e será notada pelos cerca de duzentos pais e mães desses alunos. Mais de trezentas pessoas ficarão desapontadas com a falta de um único professor. Os professores não faltam mais do que quaisquer outros profissionais, as suas faltas são é mais notadas e comentadas. No entanto, essas faltas serão cada vez mais frequentes no futuro, pois além de os professores estarem a envelhecer (a maioria já tem mais de 50 anos e só 0,4% tem menos de 30), mantém-se a obstinação de não se criar um regime especial de aposentação e há muito que deixou de haver a normal renovação.

Mas a mentira preferida da sociedade, quando se trata de destratar os professores, é que eles, em Portugal, ganham muito, sendo mesmo dos mais bem pagos da Europa e do mundo. Querendo fazer coro com a tal ministra mal-intencionada, um conhecido escritor e vendedor de opiniões chegou mesmo a afirmar que os professores são os inúteis mais bem pagos! Bom, há actualmente dez escalões no modelo de progressão da carreira docente: no 1º escalão, o docente aufere um vencimento ilíquido de 1.518,63 euros, recebendo na sua conta da CGD 1.061,53 euros (455,10 euros de descontos); e termina, no 10º escalão, a vencer 3.364,29 euros ilíquidos — não há, nem nunca houve, nenhum docente neste escalão, mas se houvesse receberia na sua conta bancária 1.923,32 euros (1.440,97 euros de descontos). Um docente a meio da carreira, desejavelmente no 5º escalão, tem um vencimento ilíquido de 2.137,00 euros, recebendo efectivamente, depois de descontados os impostos (que somam 790,73 euros) apenas 1.346,27 euros. E, atenção, estes valores já incluem a reposição dos cortes e referem-se a horários completos. Demasiadas vezes os docentes apenas conseguem um horário incompleto, auferindo, naturalmente, a fracção proporcional.

Por esta simples amostra percebe-se o imenso contributo que a classe docente dá ao Estado com os seus impostos, que são sempre retidos automaticamente na fonte. Também por esta simples amostra se poderá perceber o sentimento de aviltamento de quem, no final de cada mês, depois de ter cumprido tudo o que lhe foi exigido, depois de ter aturado tudo que teve de aturar (não sendo professor, não se faz ideia do que é hoje dar aulas a crianças e adolescentes e lidar com os pais), olha para uma folha salarial destas. É de valores humilhantes que se trata, quando se refere os vencimentos dos professores.

A questão que se deve pôr é se o país se pode dar ao luxo de fingir que remunera os seus professores. Por norma, quando a entidade patronal finge que paga, o trabalhador acaba a fingir que trabalha. Se os professores não fossem movidos por um profundo sentido de missão, de ética e de profissionalismo, também fingiriam que trabalham. Mas, felizmente para os sucessivos governos e para o país, não é isso que acontece. Apesar dos cortes salariais draconianos, somados ao congelamento das carreiras e ao agravamento deliberado das condições de trabalho nas escolas, antes, durante e depois dos anos da jihad troikista, os professores estiveram sempre presentes e cumpriram o seu trabalho com igual rigor e dedicação. Entretanto, esta política de baixos salários no Ensino, somada ao elevado desgaste da profissão e ao opróbrio a que a sociedade a vota, faz que, hoje, não haja jovens que desejem ser professores. A menos que a sociedade mude a sua perspectiva mesquinha, hipócrita e ingrata em relação ao Ensino e aos docentes, esta profissão indispensável não tem futuro em Portugal.

(0)
Comentários
.

0 Comentários

Deixe um comentário

Artigos Relacionados

Empate com o Amora mantém o Caldas em segundo lugar

Amora FC e Caldas SC disputaram no passado sábado, no estádio da Medideira, uma partida a contar para a jornada 8 que terminou com igualdade a uma bola. Com este resultado, o Caldas soma 18 pontos e mantém-se em segundo lugar, mantendo tudo em aberto para as últimas duas jornadas na Série 2 de manutenção na Liga 3.

caldas2

Rampa Foz do Arelho

O cenário deslumbrante da Foz do Arelho, no último domingo de abril (dia 28), vai ser palco de uma das mais tradicionais provas de Regularidade Sport Plus de Rampa, que integra o calendário da Series by NDML, organizada pelo Núcleo Desportos Motorizados de Leiria.

rampa

Apresentado livro “Doce Viagem”

A Escola de Hotelaria e Turismo do Oeste (EHTO), no âmbito do Festival “Latitudes – Literatura e Viajantes”, organizado pela Câmara Municipal de Óbidos, realizou no dia 12 de abril uma sessão de apresentação e lançamento do livro “Doce Viagem – Um roteiro dos doces de Natal na América Latina”, um projeto que resultou de uma parceria entre a Casa da América Latina (CAL) e a EHTO.

doce