A propósito, importa clarificar alguns aspetos referidos. Nos Pavilhões do Parque, defendo a entrada principal na zona da antiga Parada e sou contra um parque de estacionamento subterrâneo, aliás, ilegal, sob o Céu de Vidro, edifício que deve manter uma utilização pública facilitada, designadamente, a ligação entre o Largo e o Parque. Se for possível a inversão da lógica funcional prevista pelo promotor e pelo investidor, ganhamos a relação próxima entre as entradas do futuro hotel e do desejável balneário construído de raiz, na antiga Parada, para além de que, a curto prazo, se pode utilizar o estacionamento de superfície já existente. Isto para além de outros aspetos essenciais, como sejam a preservação da textura original do edifício e dos pés-direitos mais altos.
Não podemos considerar o investimento no hotel como se este fosse concretizado num local sem constrangimentos ambientais e valores patrimoniais. As cidades e as estâncias termais, com as suas características próprias, são espaços intrinsecamente de saúde e lazer e um sistema com valores naturais e culturais, cujo modelo de desenvolvimento se suporta num recurso essencial – a água –, e numa atividade económica e cultural que deve ser importante para a cidade – que é o termalismo. Espero que se possa recuperar este estatuto para as Caldas da Rainha, mas para tal é preciso saber conquistá-lo e fazer da cidade um todo tendencialmente harmonioso.
Um livro pode ser uma ferramenta do percurso pessoal do seu autor, mas não deve ser só isso, deve ser um veículo de cidadania e cultura junto da comunidade e um valor promocional de uma localidade, designadamente em termos internacionais, quando for feito num idioma mais abrangente, como é o caso deste último.
Não creio que os livros das Caldas tenham sido suficientes para conseguirmos intervenções cultas face ao surto construtivo nas áreas de expansão e pontualmente no centro. E, por isso, uma outra pergunta se impõe – Será que não foram feitos livros suficientemente bons?
É que boas cidades são como os bons livros. E os bons livros são como as cidades mais amigas dos cidadãos. Se os bons livros não são, talvez, suficientes para termos boas cidades, boas cidades são, por certo, indutoras de uma melhor escrita e estimulantes de melhores livros.
O que desejo é que possamos fazer uma melhor cidade, não uma cidade perfeita, porque não as há, nem tão-pouco há pessoas e livros perfeitos.
Este novo livro traz com ele imagens de história (irrepetível) – o tempo e o espaço (o lugar das termas, à volta das termas e o desenho das termas) –, mas também de esperança. E, muito importante, de comunhão, como na imagem antiga da capa. Hoje, a comunhão é necessária entre a comunidade caldense, para se (re)construir uma cidade verdadeiramente termal.
Jorge Mangorrinha
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