Ana Paula Harfouche não avançou datas para início das obras do Serviço de Urgência da unidade das Caldas, num investimento de 1,7 milhões de euros, esclarecendo apenas que “está agora dependente de visto do Tribunal de Contas”. A presidente do Conselho de Administração do CHO disse, perante uma plateia de cerca de 200 profissionais de saúde desta região, que a Urgência de Pediatria da unidade das Caldas vai ter um “novo layout que vai permitir melhorias e novos comportamentos de atender os doentes”.
Quer que o CHO se torne diferenciador no serviço de pediatria, nomeadamente na“área da pedopsiquiatria” e lançou o repto a Luísa Preto, diretora do Serviço de Pediatria da Unidade de Caldas da Rainha: “Tanto nos fala dos problemas da saúde mental e dos comportamentos suicidários que chegam às nossas urgências e nós com pouca capacidade em termos de especialidade, daí o repto de criar uma área de pedopsiquiatria”.
Deixou o trabalho de organização para os especialistas na área, garantindo que o Conselho de Administração será o facilitador, lutador e promotor da execução “evitando que os jovens e crianças com dificuldades emocionais tenham que ser encaminhados para Lisboa”.
Formação na área da pediatria
Na sessão de abertura das Jornadas a administradora do Conselho de Administração do CHO anunciou ainda que para 2018 foram aprovadas, no âmbito do programa comunitário, sete áreas de formação (com duração de 55 horas) no âmbito da pediatria: diabetes na criança, obesidade infantil, ventilação pediátrica, reanimação cardiorrespiratória pediátrica, comportamentos aditivos, saúde mental e comportamentos suicidários.
No final da sessão Ana Paula Harfouche desvalorizou aos jornalistas o processo de passagem do CHO de uma unidade do setor público administrativa (SPA) a entidade pública empresarial (EPE), revelando que “as virtualidades e grande flexibilidade do contexto EPE pertencem ao passado e hoje em dia as regras são convergentes”. Apesar da contratação ser uma facilidade, alega que a “tramitação é muita idêntica ainda que se possa fazer o contrato individual de trabalho, instrumento a que uma instituição pública administrativa pode recorrer”. Considera importante clarificar esta questão, porque “há expetativas que depois não são correspondidas e durante dois anos o Conselho de Administração tem gerido “especificidades do setor que sofrem alterações que às vezes são diárias”.
Apesar de referir que a passagem do CHO para EPE está em andamento, Ana Paula Harfouche disse que para o Conselho de Administração o hospital ser EPE ou SPA “é completamente indiferente” e o que deveria haver “é um concurso nacional para podermos ter os médicos que necessitamos sem recorrer a esta modalidade de prestador de serviços, porque não há aquela cultura organizacional de pertença”.
Falta de pediatras no CHO
Odiretor clínicodo CHO, António Curado,que também discursou na sessão de abertura destacou a dinâmica do serviço de pediatria, apesar de ter um défice de recursos humanos. Revelou que em 2017 não houve concursos nacionais de colocação de novos médicos especialistas. Segundo a rede de referenciação, o CHO deveria ter 19 pediatras para assegurar sete dias por semana as urgências pediátricas a funcionar em Caldas da Rainha e Torres Vedras e existem doze pediatras e dois estão fora, o que obriga a recorrer aos prestadores de serviço, que nem sempre estão disponíveis e depois “criam dificuldades de elaboração das escalas”.
Segundo o diretor clínico, o Conselho de Administração pediu para 2017 um total de 50 médicos especialistas na área da pediatria, pedopsiquiatria, psiquiatria, medicina interna, entre outros, e “não veio nenhum”.
Vincou que no caso concreto das contratações, os hospitais EPE “contornaram o facto de não haver concurso nacional fazendo contratos individuais de trabalho, o que nós não conseguimos fazer por não sermos EPE”, apontou.
A abertura das XXIV Jornadas de Pediatria de Leiria e Caldas da Rainha contou ainda com a presença de BilhotaXavier, diretordoServiço de Pediatria,do Centro Hospitalar Leiria-Pombal(CHLP), que destacou o tema dos cuidados paliativos pediátricos, lamentando que o plano estratégico para esse serviço em Portugal para o biénio 2017/2018 “exclua a pediatria dos cuidados paliativos”. Já que a nível nacional não há esta preocupação, desafiou os dois centros hospitalares, CHO e CHLP, a desenvolverem as estratégias necessárias para que as crianças que “nascem com doenças crónicas possam ter as equipas profissionalizadas que lhe prestem os melhores cuidados e ter pessoas de referência para apoiar as famílias”.
Hélder Roque, presidente do conselho de administração do CHLP, destacou que a vigésima quarta edição das jornadas “representa a afirmação de ambos os serviços de pediatria”.
A vereadora Maria da Conceição, que representou a Câmara das Caldas, falou da importância da saúde e do projeto da autarquia para a reabertura das termas.
Mais adolescentes que recorrem ao CHO por tentativa de suicídio
A criança com necessidades paliativas, as terapêuticas complementares e as novas tendências em saúde infantil foram alguns dos temas das XXIV Jornadas de Pediatria de Leiria e Caldas da Rainha, que tiveram como lema: “Um novo olhar sobre a Pediatra”.
Luísa Preto, presidente do evento e diretora do Serviço de Pediatria da Unidade de Caldas da Rainha do CHO, fez um balanço muito positivo das jornadas, afirmando que a Comissão Organizadora “orgulha-se de apresentar um programa científico que pauta pela inovação dos seus temas, abordando temáticas interessantes e, por vezes, polémicas”.
Relativamente aos Cuidados Paliativos Pediátricos, tema de uma das mesas redondas, a médica recordou que estão a dar os primeiros passos no nosso país e destinam-se “a acompanhar a criança e a sua família durante a doença considerada potencialmente fatal ou limitante e com um elevado risco de a criança morrer antes da idade adulta”. “É importante que desde o diagnóstico da patologia sejam integrados com os cuidados curativos, ajudando esta família ao longo do seu percurso e enquanto for necessário”, adiantou.
Outro dos temas abordados na reunião foi o das Terapêuticas Complementares, onde foram debatidas a acupuntura, osteopatia e homeopatia na população pediátrica. Segundo a especialista, uma vez que estas terapêuticas “suscitam cada vez mais interesse e procura por entre os pais, torna-se premente conduzir uma discussão informada e com sustentação científica de qualidade”. Afirmou que a Ordem dos Médicos reconhece como especialidades médicas algumas terapias alternativas, como é o caso daacupuntura e osteopatia.
As unhas de gel, extensão pestanas e tatuagens que perigos?, foi outro tema abordado no evento.
Aos jornalistas a responsável reconheceu a falta de pediatras no CHO, revelando que interromperam as jornadas de pediatria durante um ano por causa dos recursos humanos nesta área serem escassos.
Quanto ao repto da administradora do CHO para a criação de uma área de pedopsiquiatria, Luísa Preto disse que a “contratação de um pedopsiquiatra não depende do diretor de serviço de pediatria”. No entanto, sublinhou a “lacuna de não ter um especialista para crianças na saúde mental porque cada vez mais os adolescentes vão ao serviço de urgência por tentativa de suicídio”. Revelou que a tentativa de suicídio tem aumentado “potencialmente nos últimos cinco anos” e que se tem feito “pouco em prol disso”.
Luísa Preto faz ainda questão de salientar “o papel fulcral” da ASICAL – Associação de Saúde Infantil das Caldas da Rainha na realização das Jornadas de Pediatria, que contou com o patrocínio científico da Sociedade Portuguesa de Pediatria.
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