Desde meados do século XIX que inúmeras fábricas locais começaram a produzir azulejos de alta qualidade e estes a serem aplicados nas frontarias de diversas edificações na região central da cidade.
Mesmo após o descalabro arquitetural, que violentou o centro histórico a partir dos anos 80 do século XX, Caldas da Rainha ainda possui diversos espécimes valiosos, daquelas “Casas de Loiça” que tanto encantaram os turistas em remotos períodos balneares.
O que é necessário para salvar todo o património que ainda resiste ao tempo e à sanha descabida da construção desordenada é, apenas e só classificar todas as construções que possuem fachadas azulejadas, impedir que se façam alterações no traço, cuidar da sua recuperação e efetuar uma regular manutenção.
O que podemos fazer para salvaguardar aquela herança passa por tratar da Criação e Fundação do Museu do Azulejo. Ideia que poderá ter duas vertentes: A da proteção afetiva daquele património e o incentivo para o ressurgimento de um grande polo industrial relacionado com a arte da azulejaria.
Como a maioria dos caldenses deve saber, nem todos os azulejos de Caldas da Rainha são de autoria de Rafael Bordalo Pinheiro, mas, mesmo assim, é urgente que se classifiquem os existentes, para não cometermos o risco de autenticar património de modo erróneo.
O nome e o produto “azulejo” vem do árabe, e ganhou tradição em Portugal há mais de quinhentos anos. É encontrado em casas comuns, casas senhoriais, igrejas, palácios, conventos, jardins e estações de caminho de ferro, e, naturalmente, foi renovando o panorama citadino. Os primitivos modelos e padrões (os “hispano mouriscos”) trazidos para o país, chegaram de Sevilha, ao encerrar do século XV, e foram diretamente para as paredes de inúmeras igrejas e palácios. Em solo lusitano sofreram de uma benéfica inspiração por parte dos artesãos e suas artes decorativas, que enxamearam-nos de padrões têxteis, de gravuras, de imagens relativas às viagens dos portugueses ao Oriente, e ainda da rendilhada filigrana ornamental da ourivesaria. Como resultado, temos inúmeros painéis que preenchem as mais diversas paredes, cada um com a sua marca cenográfica, característica furtada do Barroco, com diversos fundamentos geométricos, perfeitas temáticas alegóricas e manifestações riquíssimas de uma flora e fauna, que raiam o exótico.
Em Caldas da Rainha, ainda temos tempo de salvaguardar toda a riqueza azulejar existente, por isso, a criação e fundação de um organismo – em moldes similares ao de Lisboa – é essencial. Esse instituto de preservação da memória do azulejo teria por missão classificar, conservar, divulgar, documentar, estudar, inventariar, investigar, recolher e restaurar os exemplares representativos da sua expansão no concelho, permitindo, inclusive, que se venha a trabalhar a mentalidade popular, no sentido de incentivar o surgimento de novos edifícios, com características arquitetónicas e históricas que não nos envergonhem, e que possuam o azulejo como principal atrativo turístico, firmando, em definitivo, o nome de Caldas da Rainha no rol das localidades mais importantes do planeta, no que trata à preservação de tão esplêndido, estético e distinto componente.
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