Nasceu no reinado de D. Carlos, a 15 de fevereiro de 1906, em Monte Frio, no concelho de Arganil. Viveu a implantação da República, as duas guerras mundiais e a revolução dos cravos.
O JORNAL DAS CALDAS foi ao seu último aniversário e encontrou-a ainda bastante lúcida. A incomodá-la estavam os problemas de audição, visão e de locomoção.
“Sinto-me bem. Um dia melhor, outros dias pior”, relatava na ocasião, explicando que chegara a esta idade porque “é Deus que me quer cá…Deus quer-me aqui”.
Dois anos antes de nascer era fundado o Benfica. Um clube que ficou no seu coração. “Sou do Benfica desde que nasci”, frisou Benvinda Matias.
Tinha dez irmãos e como acontecia com as crianças das famílias humildes e numerosas, começou a servir desde muito cedo. Primeiro, na casa da tia, depois junto de uma família de Valbona (Arganil), e viria a conhecer Luís Matias, com quem se casou, em outubro de 1930.
Viajou para Lisboa à procura de melhor vida, começou por carregar fruta no mercado, mas ficou viúva aos 34 anos, com um filho para criar. Em sociedade com um cunhado, estabeleceu-se numa mercearia, durante alguns anos. Viveu sempre com seu único filho, Manuel Matias, inclusivamente nos oito anos em que este residiu em Lourenço Marques (Moçambique).
O filho morreu primeiro que ela, que aos cem anos ainda cuidava de si sozinha e fazia a lida da casa. Cozinhava, engomava, limpava a casa e tomava banho sem ajuda. Sempre com desenvoltura e uma genica invejáveis. Só que depois teve a infelicidade de cair, fraturou o fémur, e nunca mais ficou bem. Limitada nos movimentos, teve de ser internada num lar para idosos.
Ainda assim a boa disposição era algo a que já estavam habituados quem com ela convivia. “Apesar da idade e das dificuldades que tem, ainda tenta fazer quase tudo por ela própria. A alimentação é ela que faz sozinha. É uma pessoa muito divertida”, apontou no dia do 111º aniversário Eva Vardasca, funcionária do Lar da Misericórdia de Alfeizerão.
Helena Neto, diretora técnica do Lar, manifestou que “é um grande orgulho para todos nós tê-la nesta casa. É bom ter uma pessoa com esta idade, com esta vontade, com esta boa disposição, é realmente um marco para todos nós”.
Tinha saudades das cantigas populares e apesar da voz arrastada ainda era capaz de cantar alguns versos. O principal desgosto foi nunca ter aprendido a ler e escrever, porque os pais eram pobres e não podiam pagar. Benvinda Matias tinha dois netos e quatro bisnetos.
O funeral realizou-se no passado domingo, tendo o corpo sido cremado em Barcarena, no concelho de Oeiras.
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