“Este edifício é fantástico”, comentou Fernando Costa, ex-presidente da Câmara Municipal das Caldas da Rainha. Foi no seu mandato que foi iniciado o processo de construção e daí ao antigo autarca foi dada a palavra na cerimónia de inauguração do Museu Leopoldo de Almeida.
A vereadora da cultura, Maria da Conceição, recordou os passos dados. Começou por lembrar que em 1985, abriu o museu António Duarte. Em 1994, na inauguração do Museu João Fragoso, um familiar de Leopoldo Almeida, na presença do então Presidente da República, Mário Soares, “manifestou interesse na concretização do museu”. O presidente da Câmara na altura era Fernando Costa e “disse que assumia a construção e mais tarde o Governo também reconheceu a necessidade desta obra”. Primeira surgiria o Museu Barata Feyo, cujo processo estava em andamento. A 15 de maio de 1997, na presença do presidente da República Jorge Sampaio, foram assinados os termos de doação do espólio ao município caldense.
E porque é que só vinte anos depois é que o museu foi inaugurado? O presidente da Câmara, Tinta Ferreira, relatou que “a empresa de construção que fez 85% da obra, muito devagar, faliu e a obra parou”. “Foi muito difícil ter uma empresa disponível para assumir a responsabilidade dos 15% que faltavam”, referiu o edil, que elogiou, por isso, a empresa que acabou a obra – a Construções Severo & Fialho Lda, de Santa Catarina.
“É uma obra magnífica, que valoriza ainda mais o nosso Centro de Artes”, sublinhou.
Tinta Ferreira fez também um agradecimento à presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro, Ana Abrunhosa, já que “porque ultrapassámos os prazos, teve de ter paciência para podermos manter fundos comunitários (mais de 650 mil euros), para uma obra que, com equipamentos, custou um milhão de euros”.
Dado tratar-se de um escultor ligado a Lisboa, onde nasceu, parte do espólio de Leopoldo de Almeida já tinha sido doada à Câmara de Lisboa no século passado, o que fez com que a Câmara das Caldas estabelecesse um protocolo com aquela autarquia e com a Direção-Geral das Artes para que algumas peças fossem para o museu caldense.
José Antunes, diretor do Centro de Artes, destacou a “figura ímpar da história da arte portuguesa, atestada pela capacidade de trabalho que demonstrou ao longo de seis décadas”.
Nas Caldas da Rainha é possível ver “um lado mais escondido da produção do escultor, etapas que foram preservadas pela família”.
Ao todo são 290 esculturas, modelos e esbocetos e 800 desenhos dispostos ao longo de dois pisos. O escultor Leopoldo de Almeida foi muito ativo no período do Estado Novo e pertenceu à segunda geração de artistas modernistas portugueses. Entre as suas obras conta-se o Padrão dos Descobrimentos ou a estátua de Calouste Gulbenkian, em Lisboa, e a estátua de Ramalho Ortigão no Parque das Caldas da Rainha.
As circunstâncias particulares da génese deste museu levaram a que a coleção doada pelos herdeiros de Leopoldo de Almeida seja apenas uma parte do vastíssimo conjunto de esculturas que o escultor produziu, entre os anos 20 e os 70 do século passado.
Segundo a autarquia, “damos mais um passo firme na constituição do maior núcleo museológico de escultura portuguesa existente em Portugal”.
“O Centro de Artes cumpre mais um passo com o objetivo de reunir o património dos principais escultores do século XX, o que só ficará concluído com a recuperação da Casa Amarela, onde será instalada a receção, zona de vendas do Centro de Artes e onde ficará localizada a coleção de arte de Vítor Santos”, divulgou Maria da Conceição.
Família comovida
A inauguração do Museu serviu também para a entrega, a título póstumo, da medalha de honra a Leopoldo de Almeida (morreu a 28 de abril de 1975, com 76 anos).
“A família está toda muito comovida”, desabafou Helena Almeida, filha do escultor e também ela uma artista plástica de referência.
O ministro Adjunto, Eduardo Cabrita, presente no evento, não deixou de sublinhar que a filha “é uma das maiores artistas portuguesas”.
O membro do Governo mostrou-se satisfeito com a inauguração do Museu, vincando que Caldas da Rainha “alia a cultura à afirmação do território, como um elemento fundamental da estratégia de desenvolvimento”, esperando que seja um espaço vivo e animado, e não só de homenagem”.
Eduardo Cabrita despediu-se das Caldas da Rainha recebendo como oferta do Município uma obra do mestre Ferreira da Silva.
Francisco Gomes
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