Descobrimos depressa que andar à boleia não seria um problema, nem tão pouco difícil, mesmo que no centro da cidade; tanto que à chegada e depois de atravessada a fronteira, parou para nós um americano, que nos levou à nossa primeira cidade.
Na Malásia, viajámos por dez dias e três cidades: George Town, Kuala Lumpur e Malaca. Cada uma com o seu encanto e registo próprio, mas todas muito especiais pelas gentes que por lá habitam. São de toda a parte do mundo, inclusive Síria, Iraque ou Irão: o que nos fez viajar mais ainda! E vivem, também por entre as suas diferentes religiões, em paz e harmonia, com sorrisos no rosto e generosidade na alma. Isso, sentimo-lo por toda a parte e por entre todos aqueles que marcaram os nossos dias.
Todos falam inglês, bem ou mal e, independentemente das suas origens, chega até esta a ser a primeira língua de muitos – o que pudemos perceber depois de conhecermos três malaios, fruto de três diferentes famílias chinesas, a falar entre si em inglês! Assim, foi fácil para nós comunicar pela Malásia e deixarmo-nos apaixonar por todas as histórias que conhecemos.
Em Malaca, no sul, encontrámos ainda intacta a aldeia portuguesa. Com vários restaurantes com pratos que nos são familiares, com porto piscatório e comunidade católica, percebe-se que vai já longe o tempo de Portugal, mas pudemos sentir ainda de perto as nossas origens. E por entre inúmeras indicações, ruas, ruelas e esquinas, lá descobrimos a mercearia do Senhor Alcântara – bisneto de uma Algarvia, já por certo falecida. Ali o encontrámos, sentadinho, já curvado, na sua cadeira de rodas e falando ainda o nosso tão estimado português, tendo mantido até hoje o amor à língua. Entre partilhas, confessou-nos o seu sonho de um dia conhecer o nosso (e também seu) país! E mais em tom de segredo, falou sobre a sua vida pela Malásia e o que mais e menos gosta desse mundo. O governo é o que mais desgosto lhe causa, nomeadamente por ser corrupto e muçulmano. A descriminação religiosa é algo existente e sério, na medida em que a pressão para que todos se convertam ao Islão é grande, por entre benefícios sociais, comida gratuita ou apoio na compra de casa; oferta de terrenos e vagas nas escolas públicas para crianças são também algumas das regalias.
Religiosidades à parte, a vida continua, por entre as crenças de cada um. E a vida, apesar de tudo, é acessível a todos. A moeda é o Ringgit e o país é no geral barato e convidativo. Mais ainda para quem o visita, havendo por exemplo autocarros na cidade de Kuala Lumpur, visitas guiadas e até espetáculos de dança, todos gratuitos. E tendo em conta a beleza do país, as paisagens e praias, as boas infraestruturas, estradas, os magníficos edifícios e deslumbrantes torres, somos uns sortudos por mais esta experiência.
Joana Oliveira e Tiago Fidalgo
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