Ainda de olhos em bico, mas de pele mais escura, falam rápido e sem que possamos entender o que querem dizer, a não ser quando abanam a mão como que a enroscar uma lâmpada – significando “não”. Face à comunicação, foi nos mercados que a início nos víamos mais aflitos: não se mostravam muito simpáticos quando hesitávamos em comprar ou demorávamos a fazer a conversão para a nossa moeda: estão habituados a que os turistas, de pele clara e olhos redondos, comprem tudo e sem hesitar, por acharem barato. Mas embora barato para quem vem da Europa ou até mesmo dos Estados Unidos, é mais caro para quem passou pela Ásia Central e acabou de sair da China. E embora andemos com grandes mochilas, ao contrário daquilo que todo e qualquer comerciante julga, não estão cheias com dinheiro.
Vendem de tudo pelas ruas, espalhado pelo chão nos seus cestos de verga ou empilhado nas suas bicicletas. Maioritariamente, frutas e legumes; entre mangas e bananas, cocos ou lichias, são os tons tropicais e os cheiros que nos atraem!
Não tão atraente é o trânsito, louco. São motas, carros, bicicletas, mais motas, triciclos, bicicletas com cestas de verga, carrinhos turísticos, galinhas e mais motas, tudo misturado e se preciso for em contramão. Vale tudo, ao som de buzinas frenéticas e o caos entre as pessoas que tentam deslocar-se a pé. As ruas são ora estreitas ora largas, mas sempre sem passeios e com muito lixo à mistura em cada berma. Palmilhá-las não tem grande essência, exige só resistência à poluição ambiental e sonora e ao stress vivido. Não vale a pena pensar muito, só atravessar, seguir, andar. Desviam-se todos de nós, por entre manobras tresloucadas e mais umas quantas buzinadelas.?Mas nos nossos corações soou mais forte a pobreza, o subdesenvolvimento e as condições inexistentes. Soou mais forte a quantidade de ratos por cada berma ou esgoto, a quantidade de resíduos alimentares em cada canto e o mau cheiro. Soou mais forte a falta de condições urbanas e logísticas. Soou mais forte a vida que por aqui se vive.
Mas esta vida tem história, uma história de guerra recente. E é também por isso que do norte para o sul sentimos uma grande diferença, por mais pequena que esta seja. Estradas mais desenvolvidas, pessoas a falar inglês. Outras frutas, outros petiscos. E muito mais turístico, muito mais arranjado. Muito mais bonito e paradisíaco. Mas quantos aos hábitos, esses mantém-se os mesmos, ainda assim temos tido direito a mais uns quantos sorrisos, a mais simpatia.
Pelo sul, usam-se mais os típicos chapéus em bico “Nao la”, veem-se ainda mais flores à venda e ainda mais estrangeiros pelas ruas. As praias ganham o seu encanto, repletas de coqueiros e chapéus de palhota, espalhadas pelo areal.
Espalhados também são os arrozais: esses há-los um pouco por todo o lado, de Sapa a Ho Chi Minh, sendo o arroz o acompanhamento mais comum. A cozinha típica é muito minuciosa e saborosa, mais para o picante e colorida. Aqui já encontramos pão, mas na base da baguete: papo-seco ou caseiro, nem vê-lo!?E embora não se tenha tornado num dos nossos países de eleição, tem a sua beleza e as suas seduções. Foi onde praticamente só apanhámos boleias de autocarros e onde começámos a trocar trabalho por noites em hotéis. E assim entrámos na famosa rota do Sudeste Asiático, seguindo-se pois em breve o Cambodja!
Joana Oliveira e Tiago Fidalgo
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