Q

Previsão do tempo

9° C
  • Wednesday 13° C
  • Thursday 14° C
  • Friday 12° C
9° C
  • Wednesday 13° C
  • Thursday 14° C
  • Friday 12° C
8° C
  • Wednesday 14° C
  • Thursday 14° C
  • Friday 13° C
“De Mosul a Alfeizerão”

Livro conta tormentos de refugiado para fugir à guerra e à morte

EXCLUSIVO

ASSINE JÁ
Daud Al Anazy, trabalha na Casa do Pão de Ló de Alfeizerão e se não fosse pelo seu português arranhado, “ninguém diria que não é português”. A vida dele desde que fugiu dos radicais do Daesh, na cisterna de um camião e naufragou no mar Egeu, conta-se em 6.000 palavras no livro “De Mosul a Alfeizerão”, que foi apresentado na passada quinta-feira no café concerto do CCC das Caldas da Rainha. A assistir à apresentação do livro esteve uma família da Síria que está a viver nas Caldas desde 28 de setembro.

Um jovem com 25 anos tem a história de vida relatada num livro de 6.000 palavras, intitulado “De Mosul a Alfeizerão”, que foi apresentado no dia 14 de outubro no Café Concerto do CCC.

A ideia do livro partiu de Helena Lopes Franco, da associação SoroptimistInternational, professora que no último ano tem ensinado português ao grupo de refugiados e autora da obra escrita, cujos lucros revertem integralmente para ajudar Daud a refazer a sua vida.

Chegou a Lisboa a 17 de dezembro de 2015, “num voo cheio de esperança” e vontade de “encontrar um sítio seguro”, “com muita vontade de apenas ser feliz”.

Depois de uma viagem de milhares de quilómetros e cheia de adversidades, para “fugir à guerra e à morte”, encontrou paz e segurança em Alfeizerão, onde foi alojado com mais um iraquiano e um jovem vindo da Eritreia.

Daud Al Anazy, o mais novo de nove filhos de um talhante de Mossul, esteve presente no Café Concerto e com a ajuda da coautora apresentou o livro, relatando a sua história, que não deixou ninguém indiferente, e respondeu às questões do público.

O refugiado, o mais novo de nove filhos de um talhante de Mossul, no Iraque, começou por relembrar a sua infância feliz, “sem sobressaltos nem contrariedades” até que os radicais do Daesh tomaram Mosul e fizeram-na capital do seu autoproclamado Califado, em junho de 2014.

Aos 18 anos iniciou o seu negócio como taxista e, dois anos depois, em 2011, com os lucros, abriu um café.

Dos irmãos de Daud, três eram polícias (dois dos quais foram mortos pelo Daesh), o que fazia com que o café fosse frequentado por “polícias, membros do Governo e muitas pessoas importantes”, recorda o jovem, a quem quiseram “obrigar a dar os nomes e moradas dos clientes”.

“Disse-lhes que não” porque não “podia entregar os amigos, os seus irmãos e os que nos tentavam defender daquela morte negra que caíra sobre nós”, contou. Acusado de ser “fumador e vestir à ocidental”, foi condenado a 80 chicotadas que o deixaram “sem pele das costas e uma semana num estado de inconsciência completa”, relata no livro. A essa prisão seguiram-se mais três e o “café fechado e o táxi parado”.

Quando o pai lhe ordenou que partisse porque não queria “chorar a morte de mais filhos”, Daud comprou, por mil dólares, a fuga para a Síria. A viagem foi feita no depósito de um camião cisterna, apinhado de adultos e crianças, intoxicados com o cheiro do petróleo, da urina e das fezes “pelas pernas abaixo”, ao longo de nove horas em que, recorda, “não éramos seres humanos, apenas carga”.

Depois, teve de correr durante muitos e longos minutos debaixo de fogo de militares para atravessar a fronteira para a Turquia e, finalmente, tentou chegar à Grécia num barco lotado que, “a pique”, naufragou “em menos de um minuto”. “Paguei 1.700 dólares ao dono de um barco para me levar até à ilha de Lesbos, na Grécia. Eram 300 pessoas num barco de oito metros e dois andares que, ao fim de meia hora, se afundou no mar Egeu”, contou.

Um colete de 10 dólares que comprou na Turquia e uma boia a que se conseguiu agarrar (com duas crianças de dois e quatro anos) foram a sua salvação durante as mais de quatro horas que esperou para ser resgatado. “Não éramos muitos os que restavam, se comparados com os que tinham partido de Esmirna no barco de esperança e agora da tragédia”, diz no livro.

Depois de quatro horas em águas geladas, Daud e os sobreviventes do naufrágio foram resgatados pela guarda costeira grega e chegaram à ilha de Lesbos, local que recebe milhares de refugiados vindos de várias partes do Médio Oriente.

Daud foi “o último a ser salvo” e naquele mar deixou “os documentos, o dinheiro, o telemóvel com fotos e vídeos, tudo o que tinha”, recordou.

Já em solo da União Europeia, o iraquiano foi abordado sobre a possibilidade de ser acolhido em Portugal. Apesar de o destino inicial ser “a Suécia, Alemanha ou Holanda”, Daud não hesitou em aceitar.

Trabalha na Casa do Pão de Ló de Alfeizerão e se não fosse pelo seu português arranhado, “ninguém diria que não é português”. “Sou uma geração que se habituou a ter o mundo ao seu alcance através da Internet, em que as diferenças culturais se foram esbatendo e em que os princípios e objetivos na vida são cada vez mais comuns, independentemente do sítio onde nasces ou vives”, relata no livro”, acrescentando que “um jovem de Mosul com 20 anos tinha muito mais em comum com um outro de Lisboa, Istambul ou Toronto do que possa imaginar. Os sonhos eram os mesmos e a vontade de os concretizar também”.

Questionado sobre se acredita que voltará a haver paz em Mosul, Daud tem esperança de que daqui a um ano a questão “será resolvida”.

Família da Síria vive nas Caldas

Uma família oriunda de Damasco, na Síria, que percorreu mais de 6 mil quilómetros arriscando a vida até chegar a Portugal e que está a viver nas Caldas da Rainha, esteve presente na apresentação do livro. É um casal com uma menina de um ano, que chegou a esta região a 28 de setembro, sendo acolhido pela Fundação João XXIII- Casa do Oeste, que arrendou uma casa para eles na cidade das Caldas. Ainda não têm autorização para trabalhar, mas estão a ambientar-se e aprender a falar português, com uma professora voluntária. O sírio era chef de cozinha no seu país.

A vereadora Maria da Conceição, que esteve presente nesta sessão, disse que a Câmara das Caldas já manifestou a disponibilidade para acolher mais famílias. A Cruz Vermelha – Centro Humanitário LitoralOesteNorte também acolheu três refugiados da Eritreia que estão a residir nas Caldas. “A autarquia também já se disponibilizou a apoiar as instituições que acolheram refugiados”, adiantou a autarca.

Marlene Sousa

(0)
Comentários
.

0 Comentários

Deixe um comentário

Artigos Relacionados

Talhos Bressan abre nas Caldas e traz carne premium da marca Novilha D’Aire

Foi no passado dia 10 que Caldas da Rainha recebeu um novo espaço dedicado aos apreciadores de carne premium de qualidade. Talhos Bressan, localizado na Rua Cardeal Alpedrinha 66A, no Bairro dos Arneiros, abriu as suas portas trazendo para a cidade a referenciada carne da marca Novilha D'Aire.

Talho 1

Acidente de autarca cria polémica

O presidente da Câmara Municipal do Cadaval, José Bernardo Nunes, está envolvido numa polémica criada em redor de um acidente que teve quando dirigia o seu carro e embateu numa motociclista.

Suspeito de agressões indiciado por três crimes

Um homem de 39 anos que é suspeito de ter agredido um sobrinho, a sua mãe e uma militar da GNR, na noite da passagem de ano, no Cadaval, está indiciado por crimes de violência doméstica, ofensa à integridade física qualificada e de resistência ou coação, revelou a Procuradoria-Geral da República (PGR) à agência Lusa.