É de paisagens soberbas e fascinantes que o Quirguistão se faz, com lagos e lagoas, de águas azuis cristalinas e verde transparente. Pelas montanhas fora vêm-se yurts, pequenas tendas de forma redonda e acolhedora, onde famílias tradicionais optam por viver. E é também das cidades para as montanhas que se pode sentir a oscilação das temperaturas, dos 40 para os 10 graus num dia de verão. Mas é de inverno que se sente o verdadeiro frio, chegando os termómetros a medir 40 negativos.
Pelo país fora pudemos assim recordar os Açores e a sua beleza, com a surpresa, porém, de que existem mais cavalos que vacas e é deles que se alimentam. Do leite de cavalo fermentado fazem uma bebida, alcoólica e muito afamada. Diz quem tem coragem para beber, que é boa, muito forte e tradutora dos seus hábitos ancestrais enquanto nómadas.
Também dos hábitos das famílias que conhecemos fazem parte as já nossas conhecidas tradições matrimoniais, tradições essas que existem e sobrevivem ainda por mão daqueles que têm medo de as enfrentar. São várias, e delas fazem parte os casamentos na mocidade, com mil convidados no mínimo. O dinheiro investido é estrondoso e não importa se faria falta. As prendas são obrigatórias e variam, podendo ir dos eletrodomésticos a um animal; da mesma forma que é obrigatório aos pais do noivo pagarem um certo valor pela noiva. Mas tudo isto, uma das couchsurfers que nos hospedou revogou, sem receios. Da mesma forma que sem receio nos contou a sua história. Ainda assim foi com alguma apreensão que descobrimos que em tempos se raptavam as mulheres. Desta forma, aos homens já não caberia pagar por elas. E perdida a virgindade mais ninguém as queria, aceitando assim as raparigas ficar entregues a quem as havia raptado.
Hoje, os tempos dizem-se outros, ainda que com base no antigamente. Vivem já em democracia, com boas ligações ao mundo exterior. A Internet funciona bem e é acessível, existindo em locais públicos de forma aberta e até em autocarros urbanos ou bombas de gasolina, o que já não víamos acontecer desde há muitos países. Já as estradas, acreditamos ter sido das piores, recheadas de curvas e contracurvas, impróprias para quem enjoa. Ainda assim, foi pelas estradas fora que encontrámos também pessoas a vender os seus bens alimentares, e desde o Irão, sempre com uma caminha de ferro ao lado: na ausência de clientes, era deitados ou a dormir que os víamos.
Também nos bazares encontrámos vendedores adormecidos sobre as suas bancas, e sem fugir à regra, foi no principal bazar da capital, Bishkek, que nos deixámos deslumbrar: pela variedade e imensidão, pelos cheiros, sabores e gentes. Mas foi lá que pela primeira vez nos tentaram roubar, abrindo-nos a mochila pequena por duas vezes. De ambas demos por isso e impedimos o feito, porém, temos pena do sucedido.
Por fim, foi no Quirguistão que tivemos a nossa melhor experiência em viagem: o “banho”, como lhe chamam. Trata-se de uma sauna e um banho em conjunto, feito de uma forma muito tradicional! Com uma salamandra com um grande depósito de água, aquecem-na até fervilhar e todo o ambiente estar verdadeiramente quente. As paredes, revestidas a madeira aquecem também e é impossível não começar a suar lá dentro. Depois, com um alguidar, mistura-se a água a ferver com água fria vinda de uma torneira à parte, e o duche faz-se assim mesmo! Dizem que a tradição é russa, que faz bem a tudo e especialmente à pele, permitindo que os poros abram com o calor e que todo o corpo fique limpo. E assim o fizemos, numa noite fria, mas muito quentes depois de um dia inteiro de praia, num dos famosos lagos do país. Também na praia pudemos assistir a de tudo um pouco, por entre escorregas aquáticos e parapentes; mas o mais engraçado, num país maioritariamente muçulmano, uma senhora de “burka” a espalhar creme numa senhora em topless. Serão decerto as exigências dos tempos modernos.
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