Na sua intervenção, Ana Paula Harfouche, expressou a sua admiração por Adriano Moreira: “ao longo da nossa vida passam pessoas que nos marcam de tal forma que nunca mais as esquecemos”, disse a autora. A “originalidade e a singularidade do pensamento” do Professor “ajudaram-me a acreditar na esperança e também me ensinaram que os sonhos e a Lei dos Compromissos morais não custam dinheiro”.
Recordou que na crise académica de 1969, em que contrariamente aos diretores de todas as outras Universidades, o Professor Adriano Moreira tomou o partido dos estudantes e todo o corpo docente o acompanhou. Pagando, todavia, posteriormente a fatura politica com a sua demissão”.
Este livro tem muito do pensamento do Professor Adriano Moreira, essencialmente o que se encontra no seu livro Ciência Política, obra obrigatória para as muitas gerações de alunos que não se esquecem do que dizia na primeira aula”.
Segundo, a autora, este livro resulta de vários trabalhos e estudos científicos efetuados desde 2003 e que vão “ganhado forma e gerando conhecimento abrindo o pensamento a formas alternativas de gerar conhecimento”. “Procura concretamente a verdade com recurso à informação próxima do momento das reformas realizadas”, adiantou, a administradora do CHO.
“Não esperem encontrar soluções mágicas neste livro, mas esperem que vos ajude a tomar decisões informadas porque se exigem fundamentadas, enquadradas, obviamente pelas margens da política que as enforma”, disse, Ana Paula Harfouche.
O livro está estruturado em quatro grandes dimensões: Fundamentação; prioridade e opções; resultado da avaliação destas prioridades e opções; e conclusões e reflexões sobre estes acontecimentos.
No capítulo três, encontram-se os “primeiros modelos inovadores nos hospitais após a criação do SNS. No capítulo quatro, é detalhada a empresarialização dos Hospitais e a filosofia que a enquadra dando, pela primeira vez, aos gestores e administradores hospitalares oportunidade para utilizar as regras e instrumentos do setor privado. “E especifica-se as diversas vagas de empresarialização até à 6ª vaga ocorrida em 2011/2013, as quais incluíram o modelo de fusão de unidades hospitalares, curiosamente, sendo o CHOeste objeto dessa fusão o único que permaneceu no regime filosófico e administrativo anterior”.
As políticas de maiores financiamentos prospetivas que acompanharam “estes novos modelos organizativos e a evolução do C.P. subjacente a estas políticas orçamentais, governativas e culturais” são também analisadas.
Francisco Gomes começou por explicar que a obra chama a atenção para a necessidade da política ter em conta outras áreas transversais. “A economia, por exemplo, é uma referência para a eficiência e otimização dos recursos. As expetativas dos cidadãos para com os deveres do Estado, em função dos impostos que pagam, justificam a gestão fundamentada – mas ao mesmo tempo também explicada e transparente – da saúde, simultaneamente uma preocupação individual, uma preocupação política (até pelo cumprimento da Constituição) e uma preocupação ligada ao bem-estar e coesão social. Daí a necessidade da conceção de modelos de prestação de cuidados eficientes e sustentáveis”.
Ao abrir este livro encontramos uma frase enigmática: O Serviço Nacional de Saúde “tem muito passado pela frente por descobrir”. O jornalista deu a sua interpretação: “Por vezes vemos algo enraizado no passado como desadequado aos dias de hoje e como algo negativo. Contudo, o que importa é saber tirar proveito e dar o devido valor de cada experiência no passado.
Já se deram conta do quanto as dúvidas nos levaram para a frente? Quando temos dúvidas, somos levados a descobrir novos caminhos, aceitar desafios, explorar, procurar conhecimento, aprender com a experiência dos outros”.
É um livro prático – relata até o ex-diretor do Serviço de Anestesiologia do Instituto Português de Oncologia de Lisboa, José Manuel Caseiro, que na sua despedida de funções fez do título desta obra a sua mensagem para o futuro dos que iriam continuar no serviço.
Este estudo sobre a eficiência contemplou 39 hospitais, 22 dos quais foram transformados em SA, e os restantes 17 são do Setor Público Administrativo.
Há uma análise da atividade de internamento, de consultas, das urgências e do hospital de dia.
Os gráficos publicados mostram os consumos e gastos com pessoal e gastos totais por doente saído, por consulta externa, por urgência, por área de atividade clínica e por região.
Os resultados de eficiência e conclusões poderão ler no livro.
Mas fica esta ideia, deixada pela autora, para reflexão: “A inovação e a dinâmica da organização hospitalar, continuam a ser vistas como elementos facilitadores de maior eficiência, mas é a orientação do financiamento o grande potenciador desse objetivo. Em suma, o conceito eficiência é um objetivo crucial para a sustentabilidade do setor da saúde, só conseguido com a inovação e evolução dos modelos de financiamento”.
Para o desenvolvimento de novas políticas públicas de saúde é defendida a valorização do interesse público, a aposta no longo prazo, e não nos interesses de curto prazo, a medição da eficiência e adoção de uma metodologia que permita conhecer os gastos por doentes, por trajetória de doença, as soluções alternativas de como evitar os desperdícios, a prestação de contas transparentes e percetíveis por todos públicos, e, finalmente, a integração dos vários níveis de cuidados de saúde, para conhecer e acompanhar os resultados em saúde associados.
Professor Adriano Moreira
“Multa de Bruxelas anda à volta de duas décimas”
Depois da apresentação do livro por Francisco Gomes, Adriano Moreira mobilizou a atenção das dezenas de pessoas presentes mostrando orgulho em participar nesta iniciativa. Destacou a evolução da vida universitária um período importante, no século XIX, que era a “autonomia das disciplinas, completamente incomunicantes”.
Considera o livro de Ana Paula Harfouche uma grande contribuição e “um grande orgulho para a escola onde ela obteve o seu doutoramento”.
Lembrou que o Estado português tem uma grande “tradição de preocupação com a saúde, e teve um grande instrumento de intervenção, que foi o instituto de Medicina Tropical”. “A maior parte da população ignora que esse instituto conseguiu o domínio da lepra. Conseguiu dominar a doença do sono. Mas foi um instrumento que fomos deixando esquecer na nossa gestão atual”, apontou Adriano Moreira.
O Professor Catedrático falou na crise, do Estado Social, revelando que apesar do avanço inacreditável na investigação científica, e tecnológica, os analistas dizem que “os pobres morrem mais cedo porque não têm capacidade para receber os avanços da ciência, da técnica, da ética, da dedicação dos profissionais desta área”.
O Professor diz que é importante “meditar sobre a crise no Estado Social e pensar que tem antecedentes muito grandes, e que não são “apenas motivados pela Igreja Católica. Também tem contribuições do marxismo, nas divisões internas que teve”.
Chamou a atenção para uma questão que considera ser das mais problemáticas, porque “estamos a ser objeto de exame de Bruxelas, para saber se vamos ou não ser punidos com uma multa, que anda à volta de duas décimas”.
“Finalmente, que Inglaterra resolveu sair da Europa”, sublinhou, Adriano Moreira questionando sobre os recursos para “colmatar a saída dos ingleses”.
Marlene Sousa
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