Foi Sandra Santos, diretora pedagógica da escola, quem revelou a todas as pessoas que estavam presentes que não iam poder abrir nenhuma turma do 5.º, 7.º e 10.º ano.
O anúncio foi recebido com indignação pelos pais e alunos, o que transformou a marcha numa manifestação até à escadaria da Câmara, onde exigiram ser recebidos pelo presidente da autarquia caldense.
Os pais protestam por não terem sido ouvidos pelo Governo antes de ser anunciado o número de turmas financiadas e temem “pelo que vai acontecer nas escolas públicas que terão que receber os alunos”, e que poderão “ficar sobrelotadas” face ao risco de “com o CRDL fechar também o Colégio Frei Cristóvão (CFC)”, na freguesia de A-dos-Francos, a cerca de 20 quilómetros.
No caso do CSC, propriedade do mesmo grupo que detém o CRDL, o Estado manteve o financiamento das seis novas turmas previstas, mas “os donos podem entender não ser viável manter apenas um dos colégios”, afirmou Paula Salvador, presidente da Associação de Pais.
Nesse cenário, as escolas públicas do concelho teriam que aceitar 1.500 alunos que frequentam os dois estabelecimentos com contrato de associação.
“O que está em causa agora é todo o projeto educativo das Caldas da Rainha, que vai ter menos qualidade”, sublinhou Paula Salvador, questionando quais “vão ser as metodologias aplicadas para receber todas as crianças e jovens”.
Margarida Varela, presidente do CDS-PP das Caldas, e João Diniz, do Grupo Municipal do mesmo partido, preocupados com a situação do colégio, juntaram-se ao protesto junto à Câmara.
“Os jovens não são números e o que está em causa é a qualidade do ensino”, sustentaram, fazendo notar que na Assembleia da República o CDS-PP solicitou um “estudo independente que a esquerda chumbou”, o que os leva a crer que “os números apresentados pelo Ministério sejam falsos e que de fato as escolas públicas representem um benefício económico relativamente aos colégios”.
No final de uma reunião com os pais, que se prolongou quase até à uma da manhã, o presidente da câmara, Tinta Ferreira, afirmou aos jornalistas discordar “da forma como o processo foi conduzido”, defendendo que a redução do financiamento “deveria ser gradual e equilibrada”.
O autarca manifestou ainda “preocupação” com os impactos do eventual fecho do colégio, argumentando que “a escola pública não tem capacidade para receber em condições as atuais 35 turmas” do CRDL. “Ficámos mais aliviados quanto à questão do CFC, dada a sua localização geográfica e a dificuldade dos alunos terem que voltar a fazer viagens mais de uma hora para as Caldas”, disse o autarca.
Tinta Ferreira afirmou estar preocupado com os estudantes que vão fazer os exames e também mostrou alguma inquietação quanto aos alunos das outras escolas, temendo a degradação do ensino nas Caldas.
Aos jornalistas revelou ainda já ter pedida uma audiência ao Ministro da Educação, para solicitar “que a rede possa ser ajustada”.
Pais indignados
A associação de pais do CRDL comentou que uma escola com “contrato de associação é uma escola que presta um serviço público, que surgiu para colmatar as necessidades da rede escolar pública, à data em que foi criada, e, ao contrário do que é divulgado, não existe duplicação de custos, tendo em consideração que o custo inerente a cada aluno só se verifica na escola que frequenta”.
“Se a meio do 3.º período letivo fossem confrontados com a informação relativa à publicação de um despacho normativo que vem colocar em causa a continuidade do projeto educativo que escolheram para os vossos filhos, como reagiriam? E se a meio desse mesmo período letivo soubessem que haveria a possibilidade de não abrir turmas iniciais de ciclo numa escola com autorização de funcionamento para todos os anos de escolaridade e que isso implicaria que o vosso filho de 10 anos pudesse continuar, mas que o de 14 anos teria de mudar de escola?”, questionam os pais.
“Se o único estudo de custos, feito pelo Tribunal de Contas, e datado de 2011, mostra que o contrato de associação para os 2.º e 3.º ciclos do ensino básico e ensino secundário é mais barato, não havendo outro estudo para nos baseamos, quem é que sai beneficiado com esta medida?”, interrogam.
Alegam que esta nova medida do Governo “irá criar uma grande desigualdade entre os pais do concelho”. Deram o exemplo de “duas vizinhas, uma com o filho na escola estatal e outro na escola com contrato de associação. A primeira pode escolher a escola para o seu filho, já a segunda tem que inscrever o seu na escola que o Ministério da Educação escolher para ele. De facto, para todas as escolas estatais, o critério de prioridade de matrículas coloca a área geográfica de residência no 5.º lugar. Para a nossa escola, com contrato de associação, esse critério passa a ser prioritário, colocando em segundo plano todos os outros critérios, como a existência de irmãos a frequentarem o mesmo estabelecimento de ensino”.
“Não queremos saber de partidos políticos, de esquerda ou de direita, o que está em causa é a estabilidade e o bem-estar dos nossos filhos, que se sentem felizes, envolvidos num projeto educativo que poderão ter de abandonar contra a sua vontade”, afirmam os pais.
Para a associação de pais o concelho das Caldas da Rainha deve congratular-se com a “diversidade dos projetos educativos, de todas as suas escolas, com resultados de excelência demostrados e reconhecidos a nível nacional”.
Com a possibilidade de encerramento, a muito curto prazo, das duas escolas com contrato de associação existentes, alegam que “a rede escolar será inundada com cerca de 1500 alunos para as quais não tem capacidade. Voltaremos às turmas sobrelotadas e aos horários absurdos, do que resultará, inequivocamente, uma redução da qualidade do ensino que, com tanto esforço e em conjunto, conseguimos alcançar”.
Centenas de professores e pais dos alunos do CRDL irão participação na manifestação nacional agendada para o dia 29 de maio, em Lisboa.
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