Acreditamos que nestes últimos dias tenhamos descoberto e aprendido coisas maravilhosas. E muito marcantes. No ocidente ouvimos sempre dizer que “ninguém dá nada a ninguém”. Aprendemos, intuitivamente, a ser desconfiados. Vivemos assim sem nos questionarmos; mas questionamos todos os que nos rodeiam e as suas ações. E chamamo-nos cuidadosos. Durante esta viagem talvez não tenhamos oportunidade de mudar aquilo que somos, mas aprendemos a ser mais alguma coisa. Mais que não seja, generosos.
Na nossa passagem pela Turquia, com um total de 29 dias, vivemos momentos muito intensos e experienciámos a bondade do ser humano. Aconteceu-nos um pouco de tudo, dentro do que há de bom para acontecer. Foram-no dadas boleias em várias situações inacreditáveis; apanhámos também boleia de um taxista e de um autocarro. Foram também vários os camionistas que nos ajudaram, e na sua maioria, todos pararam pelo caminho para nos oferecer um chá. Quando não o fizeram, pararam para nos levar a almoçar num restaurante, ou deram-nos da sua comida pelo caminho.
Em turco, a nossa comunicação fluía – melhor ou pior, permitia-nos comunicar. Riam-se e sorria-lhes o olhar sempre que utilizávamos uma expressão popular. E era tão bom quando acontecia! Também as pessoas que nos hospedaram fizeram destes uns dias muito especiais. Sem qualquer tipo de presunção, sabemos que nos deram tudo o que tinham ao seu alcance.
Vivemos situações indescritíveis, que só vividas podem ter a verdadeira intensidade; mas tivemos uma família que deixou o seu próprio quarto, dormindo na sala, para nos darem as suas camas. Até mesmo os jovens que nos acolheram, deram-nos sempre as suas camas, lençóis lavados e toalhas de banho. Prepararam-nos pratos típicos ou levaram-nos a experimenta-los no sítio certo. E ofereceram-nos sempre tudo de coração cheio. E aprendemos também que temos de fazer como vemos: na nossa cultura, mesmo quando somos convidados, cabe-nos ajudar – mais que não seja a levantar o nosso prato. Pela Turquia, a cultura é diferente. Se tentarmos ajudar, interpretam-nos mal – como se estivéssemos a dizer que estamos a ser mal recebidos. Chama-se cultura. Há medida que nos vamos afastando de casa, vamos sendo confrontados com mais e mais diferenças. Melhores ou piores, fazem-nos questionar. Fazem-nos pensar. Fazem-nos ser mais e melhores.
Na Geórgia experimentámos também novos sentimentos. Novos hábitos. Ruas e ruas sem alcatrão, esburacadas e sujas. Prédios e prédios, metade betão, metade chapas de zinco. Prédios e prédios com andares construídos e habitados, e tantos outros completamente abertos e por construir. Uma pobreza escondida em cada esquina. Visível na forma de estar, de andar, de vestir, de ser. Muito difícil de descrever e muito fácil de sentir. Mas, junto ao mar, uma riqueza de fachada: mesmo por entre a descrição acima, grandes hotéis e um casino.E por entre tudo isto, pessoas doces e amáveis, disponíveis e muito generosas.
Já na Arménia, o país transborda factos históricos: depois do colapso da União Soviética, embora independente, vive-se nas ruas o abandono. Por entre montanhas e muita natureza, sentimo-nos em cidades fantasma. Esquecimento, desleixo e miséria. Não se vê um edifício recuperado; vê-se sim o que havia outrora, agora em estado de degradação. Parques infantis enferrujados, fábricas em ruínas, casas degradadas. Mas se nos perguntarem se vale a pena visitar, a nossa resposta é sim. O confronto entre o passado e o presente tem muito para nos ensinar. Tal como o mundo, e o que nos falta dele percorrer. Por agora, temos muito para aprender: Olá Irão.
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