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Inaugurado nas Caldas Roteiro Turístico Ferreira da Silva

Francisco Gomes

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Um conjunto de dez trabalhos desenvolvidos entre 1989 e 2010 pelo mestre Ferreira da Silva e que se encontram em vários espaços públicos das Caldas da Rainha, constituem o roteiro turístico que presta homenagem ao artista cerâmico, recentemente falecido.
Ferreira da Silva no mural de azulejaria do viaduto sob caminho-de-ferro

Desta rota fazem parte o Jardim da Água, junto ao Hospital das Caldas da Rainha, um obelisco a D. Leonor (fundadora da cidade), em frente ao edifício da Expoeste, um mural dedicado a Orpheu e Eurídice, instalado no viaduto sob a linha do caminho-de-ferro junto ao Lidl, e ainda obras instaladas nos edifícios da Câmara, da Comunidade Intermunicipal do Oeste e do Centro de Formação Profissional para a indústria Cerâmica (Cencal), na Escola Secundária Raúl Proença e em alguns estabelecimentos comerciais.

A apresentação do roteiro realizou-se no dia 5 de abril, na galeria do novo Espaço Turismo, onde estiveram familiares, amigos, entidades ligadas às artes e à cerâmica. O lançamento integra o conjunto de iniciativas da “Festa da Cerâmica”, projecto recentemente divulgado pela Câmara Municipal das Caldas da Rainha, e que deverá conduzir à apresentação, em 2020, de uma candidatura ao título de cidade criativa reconhecida pela Unesco.

João Serra, responsável pelo projecto “Festa da Cerâmica”, descreveu que os trabalhos que constam do roteiro, produzidos no Cencal e na fábrica Molde, “formam instalações de grandes dimensões, por onde perpassa a dimensão escultórica, painéis azulejares, por vezes com recursos a diferentes materiais, como o ferro e o vidro. Combinam fragmentos cerâmicos resultantes da actividade regular de produção cerâmica, azulejaria de forte coloração e frequente alusão a temas da mitologia clássica, da poesia e da história da ciência”.

“O feminino é presença frequente, sendo especialmente assinalada a figura da rainha Leonor, fundadora das Caldas moderna”, adiantou.

Segundo João Serra, “poucas serão as cidades no mundo que ostentem uma tão profusa obra plástica em espaço de acesso público. Caldas da Rainha tem uma marca profunda deixada pelo artista. Não seria a mesma cidade sem essa presença forte e desafiadora”.

O responsável recordou que na edição da “Festa da Cerâmica de 2009” foi realizada uma grande exposição de trabalhos novos do artista, sob o título “Ofélia II”, e editado um livro denominado “Colecção Municipal Ferreira da Silva: Primeiras Aquisições”, contendo uma biografa e uma bibliografia extensas e documentação fotográfica relevante. A Câmara anunciou então o propósito de prestar a maior atenção à preservação da obra de Ferreira da Silva e de patrocinar novas criações do artista. Foi igualmente mencionado o projecto de constituir um “Centro de Documentação” dedicado aos seus trabalhos e, genericamente, à história da cerâmica caldense no século XX. Na mesma altura, um primeiro passo foi dado, com a realização de um “Encontro sobre Ferreira da Silva”, no qual foram recolhidos mais de uma dezena de depoimentos sobre o ceramista.

“Vamos agora prosseguir este trabalho, com meios mais consistentes e um enquadramento institucional reforçado. Ainda este ano publicaremos o 2º volume da “Colecção Municipal Ferreira da Silva” dedicado à sua obra em espaço público e editaremos o DVD com as gravações do Encontro de 2009. O Centro de Documentação está a funcionar na sede da Associação PH e esperamos que todos aqueles que disponham de elementos sobre a sua obra, bem como da de outros ceramistas caldenses dos séculos XX-XXI, nos cedam esses elementos ou permitam que deles façamos registo digital”, revelou João Serra.

“Gostaríamos de em breve poder organizar uma mostra dos cartazes que elaborou para diversas organizações da cidade e da região. Ferreira da Silva foi operário fabril e essa condição marcou todo o seu modo de fazer ao longo da vida. Não por acaso, foi sempre em contexto fabril (no Cencal e na Molde) – e não de ateliê – que produziu a obra artística”, acrescentou.

Câmara disponível para guardar espólio na posse da família

Nascido no Porto em 1928 e falecido a 8 de março deste ano, Ferreira da Silva é um dos nomes maiores das artes plásticas portuguesas, com uma obra que abarca o desenho e pintura, a gravura e a escultura, o vitral, a azulejaria e a cerâmica.

A vasta obra do artista, recentemente falecido, distribui-se por todo o país e abarca diversas modalidades de trabalho – desde a pintura ao design, desde a modelação de peças artísticas à produção de cerâmica utilitária – mas tem uma particular concentração nas Caldas da Rainha e região envolvente, onda passou a trabalhar desde os 16 anos.

“Despedimo-nos do seu corpo mas a sua obra e o seu espírito continuam a vaguear pelas Caldas”, disse o presidente da autarquia, Tinta Ferreira, que espera que as dez peças do mestre que se encontram em espaços públicos sejam uma atração turística, “à semelhança da Rota Bordaliana”. Um folheto explicativo das obras permitirá vê-las “de uma forma diferente”, ficando-se a conhecer “a ideia que tinha sobre as peças”. “Não tenho dúvidas que será mais reconhecido no futuro do que em vida”, manifestou.

Além da marca impressa em várias intervenções no espaço público, a Câmara pretende desenvolver diversas iniciativas no sentido da preservação da obra do artista, apontado como uma das maiores referências da cerâmica portuguesa dos séculos XX e XXI, com um percurso multidisciplinar nas áreas da cerâmica, pintura, escultura, desenho, gravura e vitral.

A juntar às peças já adquiridas, a autarquia “está disponível para ficar com a guarda do espólio na posse da família”, com cerca de 350 peças, com vista a reunir acervo para a criação, no futuro, de uma casa museu.

Nesta sessão foi exibido um documentário de 40 minutos acerca da obra do artista, produzido pela Câmara Municipal, através da TV Caldas, em 2013, onde Ferreira da Silva surge a falar do seu trabalho. O cd do documentário foi oferecido por Tinta Ferreira a um elemento da família.

Fernando Costa critica

Para o ex-presidente da Câmara das Caldas, Fernando Costa, o roteiro “é uma ofensa à dimensão artística do Ferreira da Silva”, porque ele “não é só ceramista, também é pintor e escultor”.

O que indigna Fernando Costa é “a dimensão redutora do roteiro”.

“É impensável fazer um roteiro sobre ele sem a Quinta do Pinheiro [em Valado dos Frades, na Nazaré, onde estão pinturas, esculturas e cerâmicas], e que está aqui tanto perto”, indica.

Por outro lado, “há um painel dentro do hospital que é uma coisa fantástica e que é uma pena não estar no roteiro”.

“Mas grave é não incluir o Museu da Cerâmica, onde está um vasto conjunto de esculturas e de peças cerâmicas de interior”, manifesta, apontando ainda que faltam “as peças de interior que estão no Cencal”.

Fernando Costa sustenta também que um filme de Miguel Costa feito em 2009 sobre Ferreira da Silva “poderá ser o verdadeiro roteiro e não aquele que à pressa foi apresentado. É ofensivo à sua memória. Espero que arquivem o documentário”.

Critica igualmente que a Câmara não tenha ficado na posse do Jardim de Água, aquando da passagem do património termal do Estado central para a autarquia.

Peças da rota

Viaduto Eurídice (passagem inferior do caminho de ferro que dá acesso à rua Professor Manuel José António, junto ao Lidl) – Nesta obra encomendada pela Câmara, Ferreira da Silva compôs um extenso mural de azulejaria, com recurso a pratos e outros objectos da produção industrial. Há uma sucessão de altos e baixos relevos e variação de paleta de cores. Sobre esta produção, o mestre afirmou que se inspirou no mito de Orfeu e Eurídice, centrado no amor de um poeta por uma bela mulher que morreu cedo.

Obelisco Leonor (Rua Infante D. Henrique, em frente ao edifício da Exposte) – Trata-se de uma torre quadrangular revestida a azulejos. “Preocupei-me sobretudo com a verticalidade do monumento, das suas linhas, e foi em função dela que desenhei o revestimento azulejar”, explicou o artista.

Jardim da Água/As quatro estações do ano (nas traseiras do Chafariz das 5 Bicas, junto ao Hospital) – É uma obra de grande complexidade, que combina fragmentos de construções antigas com criações contemporâneas em ferro, vidro, cerâmica e azulejaria. A instalação é suportada por estruturas em cimento armado. A construção teve início em 1993, não se encontrando ainda concluído. É o mais importante exemplar de arte pública contemporânea na cidade. “Quis celebrar a água, fonte de vida e motivo da criação da cidade. Naquele local passava o aqueduto que abastecia o grande Chafariz das 5 Bicas. No subsolo corre o aquífero termal”, descreveu Ferreira da Silva.

Painéis “É o sol que peca quando em vez de criar seca”/”Em teu corpo meu corpo” – Átrio do edifício da Comunidade Intermunicipal do Oeste, na avenida General Pedro Cardoso – visitável de segunda a sexta-feira, das 9h às 13h e das 14h às 17h – Painéis escultóricos em técnica mista, combinando peças cerâmicas, aço, azulejaria e vidro.

Painel azulejar “A ciência e a arte” – Fachada da piscina da Escola Secundária Raul Proença, na Rua Pêro Vaz de Caminha – A técnica decorativa recorre ao pontilhismo, inspirado na pintura impressionista.

Mural “Isgrafito” – Galeria de arte Tertúlia, na Rua das Montras – visitável de segunda a sábado, das 10h às 13h e das 15h às 19h – É um mural trabalhado com massa por camadas, onde o autor esculpiu letras e símbolos numa composição harmónica.

Muro e monobloco cerâmico – Edifício do Cencal, na avenida Eng. Paiva e Sousa e Rua Luís Caldas – Painéis azulejares nos muros exteriores, onde é possível descortinar as preocupações ecológicas do autor, e painéis que sublinham a dinâmica do desenho e da cor. No monobloco de homenagem ao rei D. Luís, trata-se de uma peça cerâmica inicialmente destinada ao Palácio da Ajuda, em Lisboa, elaborada para evocar o centenário da morte do rei (1889). É um trabalho escultórico tecnicamente complexo, que exigiu a construção de um forno dedicado, que também pode ser observado no local.

Painel “O ciclo mágico da água” – no átrio principal do edifício da Câmara Municipal, na praça 25 de abril – visitável de segunda a sexta-feira, das 9h às 18h – É um painel azulejar que alude a dois temas centrais na obra pública caldense de Ferreira da Silva: Leonor, a rainha fundadora da localidade, e a água, razão da fundação.

Painel escultórico “Orgósmico IV” – no átrio principal do edifício do Centro Cultural e de Congressos, na rua Dr. Leonel Sottomayor – visitável todos os dias, das 10h às 24h – Usa técnica mista, combinando cerâmica, aço, vidro, acrílico e papel.

Painel azulejar e baixo relevo “Leda e o Cisne” – no café-restaurante Raízes, no Parque D. Carlos I – Ferreira da Silva inspirou-se no mito clássico que remete para os raptos e violações cometidas por Zeus, um deus transformista, que se disfarçava de animal para surpreender mulheres que o rejeitassem. Assim sucedeu no caso de Leda, seduzida por um cisne a quem dera proteção sob o seu manto.

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