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Crónica

Casal caldense dá a volta ao mundo

Joana Oliveira e Tiago Fidalgo

EXCLUSIVO

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Nestas duas últimas semanas o tempo voou. O tempo ou o mundo. Completámos um mês de viagem, mais de 60 boleias, mais de 4000 quilómetros. Completámos um mês sem relógio, sem mil pares de sapatos ou luxos.
Fotografia na Macedónia

Na verdade, agora que o escrevemos, sentimos que luxos temos tido muitos: caminhas, casas maravilhosas, pessoas fantásticas, boleias inesquecíveis. Comida boa, roupa lavada. É ou não um luxo?

Quando saímos de Portugal sabíamos que queríamos atravessar a Europa com alguma rapidez. A Europa podemos voltar a visitar a qualquer momento, está perto de casa e à distância de um curto voo, normalmente a preços acessíveis. E, não só por isso. O desejo de abraçar culturas diferentes, ambientes novos, é grandioso.

Mas na Europa temos também muitos amigos, o que nos fez atrasar nesta travessia. Um atraso bom para a alma, bom para o coração. Mas, de repente, num abrir e fechar de olhos, tínhamos atravessado Espanha, França, Itália, Eslovénia, Croácia, Servia e tínhamos chegado à Macedónia.

Chegar à Macedónia foi uma aventura. Não maior que todas as outras até então, mas foi muito rica em novas experiências. Saímos de Belgrado, na Sérvia, bem cedo. Afastámo-nos do centro da cidade e, depois de uma pequena caminhada, estávamos à entrada da via rápida, que nos levaria à autoestrada na direção da Macedónia.

Skopie era o nosso objetivo, e portanto ali ficámos até parar o primeiro carro. Conduzia-o um senhor iluminado. Tão simpático, sorridente e prestável. Feliz por nos conhecer, partilhou que fez muitas viagens à boleia com a nossa idade. Deixou-nos depois nas portagens, onde se daria início a autoestrada. Ali fizemos várias apostas entre nós: por brincadeira ou para passar o tempo, vamos balbuciando de tudo. E ali dissemos que “a segunda boleia seria de um camião” e que “a probabilidade de apanhar boleia de um carro italiano nesta travessia seria de 0%”. Apostas feitas, foi a vez de parar um camionista. Ficou assim encerrada a primeira aposta, certeira e com rumo direto para Skopie!

No camião a comunicação era rudimentar. Umas palavras em croata, outras em polaco e mais umas em inglês. Gestos e sorrisos, conseguíamos entender-nos. E o mais engraçado no momento, tínhamos wifi “a bordo”. Pelo caminho, comprou-nos comida e ofereceu-nos água. Mas foi também pelo caminho que percebemos que não nos poderia levar exatamente até à cidade. Aliás, não poderia levar-nos até à Macedónia sequer. E o pior, foram 5 horas para fazer 200 quilómetros. Mas valeu a pena. Porque conhecer pessoas assim vale sempre a pena! Quando nos deixou em plena autoestrada, estávamos receosos. Na Europa, pedir boleia numa autoestrada não é permitido e é perigoso. Olhámos em volta e havia uma tasca! Sim, uma tasca na berma. Percebemos então que ali valia tudo. Mas foi quando nos voltámos que vimos um polícia. Estremecemos. Mas logo nos passou: o polícia estava também à boleia em plena autoestrada! E claro, com a sua bela farda de vantagem, desenvencilhou-se primeiro que nós. Agora sim, valia mesmo de tudo ali.

Este primeiro contato com as diferenças foi muito interessante. Interessante porque à medida que nos afastamos de cidades europeias o choque não é grande, mas existe. Mais ainda para quem se afasta lentamente, à boleia e por terra. Mas dali conseguimos uma boleia de um outro carro. Nesse, o caminho decorreu com pouca comunicação. Não havia margem além do servo-croata e portanto a barreira era grande. Em pouco tempo, estávamos os dois quase a dormir ou mesmo a dormir. Mas foi uma boleia rápida: e fomos novamente deixados (literalmente) em plena autoestrada.

Em qualquer outra parte percorrida por nós até então, diríamos que era uma péssima ideia. Mas não foi. Mostrámos a nossa placa com “Skopie” escrito e o segundo carro que passou por nós parou. Acontece que o carro tinha matrícula italiana. Sim, uma boleia de um carro italiano. Sim, foi essa a segunda aposta, em 0%. Pois é, o mundo é uma graça de tão imprevisível. E, sem exageros, foi uma boleia muito querida. Deu até tempo para bebermos um café e trocarmos fotografias das nossas famílias.

Por fim, a última boleia do dia, foi já para o centro de Skopie. Essa, foi um casal macedónio que nos deu. Falavam inglês (o que começa a ser pouco comum!) e sorriam-nos e olhavam para trás sempre que nos faziam mais perguntas, e mais perguntas, curiosos e fascinados. E nós, gratos! E assim chegámos à Macedónia. Encontrámos um país muito diferente. À chegada, pudemos avistar muitas crianças sozinhas pelas ruas. Soubemos que por aqui um salário usual são 200 euros, o que mal permite suportar a alimentação. Encontrámos uma cidade suja e cheia de contrastes. Acreditamos ter começado a assistir a diferenças culturais. Mais que diferenças sociais.

Pela cidade encontrámos pessoas a vender no chão ou em cima de caixotes. Encontrámos crianças abandonadas, a pedir e completamente desmazeladas. Muita gente a mendigar. Muito mais miséria. Muito mais confusão.

E também em Skopie encontrámos dois lados dentro da mesma cidade: um mais europeu, chamemos-lhe chique e cuidado, ainda que sujo e confuso: outro mais asiático, chamemos-lhe pobre e desleixado.

Também o fato de tudo se encontrar em cirílico nos tenha feito sentir já longe das nossas origens. Por palavras é difícil descrever, mas convidamos todos os que queiram a acompanhar o nosso blogue, havendo por lá algumas fotografias. Ainda assim, nem mesmo as fotografias são suficientes. Porque não há nada como sentir o cheiro das ruas. A hospitalidade da gente. Pela rua, querem oferecer-nos ajuda. A troco de um sorriso. Talvez seja esta a melhor moeda de troca do mundo. A mais poderosa. E a mais bonita. O sorriso.

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