Vinte peças espalhadas por uma das salas da ex-Casa de Cultura tinham o objetivo de ser “um circuito, onde um cosmo é teletransportado para o espaço físico com passaporte para o infinito. Uma proposta para abrir e conectar o inconsciente, os sonhos e a mente”.
As autoras conheceram-se durante a licenciatura na ESAD.CR e realizaram Eramus na Academia de Belas Artes de Veneza. “Após quatro anos a viver em Itália, decidi partilhar com a Marisa o meu desejo de fazer uma exposição na minha cidade”, explicou a caldense Daniela Ferreira, de 27 anos, sublinhando que “apesar de serem trabalhos diferentes, ambos conectam-se”.
”A luz, a escultura e a instalação são três elementos muitos importantes nesta mostra”, disse a caldense, pois tudo gira à volta do “positivo e do negativo, da morte e da vida”.
As suas dez peças possuem uma variedade de matérias, com elementos animais, como cornos e vertebras, juntamente com elementos arqueológicos e do quotidiano (madeira, pedra, metal), inserido num espaço grotesco, “bem diferente de um espaço museológico, que reforça a questão arqueológica e mitológica”. Cada intervenção tem uma leitura artística específica, onde existe “uma relação entre o natural e o que não é natural, a relação entre a vida e o universo, o antes da vida e depois da vida”.
A caldense é licenciada em Design de Cerâmica e Vidro pela ESAD.CR e pós-graduada em Escultura pela Accademia di Belle Arti di Venezia. Atualmente vive em Veneza, local onde colabora com vários projetos fotográficos e performativos e ainda trabalha na Bienal de Arquitetura de Veneza, que se realiza no mês de maio. Além disso, conta com a publicação individual do livro Retalhos e diversas participações coletivas em parceria com a Chiado Editora, Punto Marte e Moleskine.
“Quando terminei a licenciatura inscrevi-me no mestrado de Artes Plásticas, mas apercebi-me que precisava de mais e decidi sair”, disse ao JORNAL DAS CALDAS a caldense, que optou por “pegar nas malas” e ir fazer vida para Veneza, “cidade que já conhecia”. Agora a artista sente-se satisfeita com a decisão, pois “foi um ato muito importante a nível profissional, que abriu-me diversas portas”.
“Todos os trabalhos que já realizei deram-me as bases e um upgrade fundamental para investir no meu trabalho”, sublinhou Daniela Ferreira, que tem um atelier em Veneza onde faz as suas esculturas.
O facto de colaborar com grandes artistas internacionais deu-lhe bagagem. ”Um dos objetivos foi esse, quis ir para fora para crescer como pessoa e como profissional”, relatou a artista, que sublinhou que neste momento, apesar das saudades da família, não tem a intenção de voltar a viver em Portugal. “Existem muitas coisas boas e diferentes lá fora, que ia ser um pecado ficar só naquilo que conheço”, adiantou. Como tal, aconselha a todos que querem trabalhar como artistas a fazer “um portfólio, de modo a criar nome e conotação num mundo real”. “Em Veneza consegui isso, que era a parte mais difícil, e continuo a acreditar nos meus trabalhos como acredito na minha vida a cem por cento”, concluiu a artista.
Artista residente nos Silos
Marisa Tavares, natural de Aveiro, é a outra artista responsável pela exposição, sendo formada em Artes Plásticas na ESAD.CR. Atualmente vive e trabalha nas Caldas da Rainha, onde é uma artista residente nos Silos Contentor Criativo.
Preferiu apresentar peças de instalação, feitas com raízes, tijolos, vidros, pedras e tecidos, de modo a retratar o momento do nascimento, complementado com luzes negras e cores fluorescentes. “As peças abordam a questão do nascimento, através da ligação aos cosmos”, explicou. Além disso, também apresenta um vídeo alusivo à criação de um microcosmos.
A artista também tem participado em outras mostras. No seu entender, “é importante haver espaços públicos onde possamos expor os nossos trabalhos, de modo a sair da zona de conforto, e seria importante levar esta exposição a outros pontos dos país e levar o nome da cidade para outros sítios”.
Nicola Henriques, responsável pelo projeto Silos – Contentor Criativo, também esteve presente na inauguração da exposição, e fez noar que a mostra pretende ser o início de um ciclo de exposições. “Há cinco anos que os Silos produzem conteúdo criativo, e este ano tem como mote a extensão à comunidade”, afirmou, acrescentando que os Silos são uma área “pouco explorada pelo cidadão comum”.
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