A reunião, que teve lugar no Caldas Internacional Hotel no passado dia 30, serviu para “saber o que cada associação conhece de problemas de saúde e de integração social dos antigos combatentes, havendo situações muito dramáticas de traumas de guerra que impediram a integração na sociedade, e graves problemas familiares”, manifestou Joaquim Coelho, do Movimento Cívico dos Antigos Combatentes, com sede em Vila Nova de Gaia.
De acordo com este responsável, “a maior parte não é acompanhada e os poucos mecanismos e apoios do Estado – que tem apenas a Associação de Deficientes das Forças Armadas que só trata de deficientes físicos -, e observações nos centros de saúde, levam a ser encaminhados para psiquiatras, mas não atinge sequer um terço do que é necessário”.
As associações pretendem que seja realizado um rastreio nacional “para saber quem tem deficiências psicológicas graves”, defendendo que seja dado um “complemento de remuneração, porque são pessoas sem trabalho estável e com pensões mínimas”.
Em relação aos sem-abrigo, Joaquim Coelho indicou que um levantamento efetuado em diversas cidades do país revelou a existência de “1700 ex-combatentes a viverem amargurados nas ruas, de onde não querem sair por terem vergonha”.
“Temos um projeto para aproveitar aquartelamentos militares que estejam vazios e instalações desocupadas para acolher estas pessoas, que terão de fazer a sua própria faxina e as camas”, anunciou o responsável do Movimento Cívico dos Antigos Combatentes.
Outra preocupação tem a ver com os corpos de cerca de 900 militares que morreram nas colónias portuguesas. “As campas em Angola e Moçambique estão abandonadas e em risco de serem vandalizadas. É cada vez mais difícil encontrar as ossadas. Temos um levantamento que diz que em 60 cemitérios em Angola e em especial no cemitério novo em Luanda existem mais de 600 campas destruídas, e em Moçambique, nomeadamente em Maputo e no norte do país, 300 campas em dois cemitérios, onde as ossadas são vendidas como troféus”, descreveu Joaquim Coelho, que quer que sejam tomadas medidas rápidas para resgatar os restos mortais dos combatentes que ficaram em África e trasladados para Portugal em vez de apenas se exumar as campas abandonadas no interior do território e trazê-las para as cidades, pois “tem havido abandono dos cemitérios e destruição dos mármores das campas em Angola, e tráfico de ossadas em Moçambique”.
“Devíamos trazer toda a gente para Portugal e a grande maioria das juntas de freguesia não se importa de ter um talhão para as ossadas dos naturais dessas terras, mesmo que as famílias não as queiram, porque hoje em dia essas famílias estão desestruturadas. Se não houver uma ação urgente, daqui a pouco não haverá nada para resgatar”, referiu.
Um dos grandes objetivos da atividade do Movimento Cívico dos Antigos Combatentes é “dignificar os vivos e resgatar os mortos”, que é acompanhado nesta missão pela Associação dos Veteranos Combatentes do Oeste (Lourinhã), Associação Portuguesa dos Veteranos de Guerra (Braga), Associação Nacional de Combatentes do Ultramar (Tondela), Associação Social e Cultural dos Vilacondenses Ex-Combatentes do Ultramar (Vila do Conde), e Núcleos da Liga dos Combatentes das Caldas da Rainha e de Leiria, tendo já recolhido o apoio da Associação Nacional de Sargentos e da Associação de Apoio aos Ex-combatentes Vítimas do Stress de Guerra.
Neste encontro nacional foi constituída uma comissão de defesa e acompanhamento do estatuto dos combatentes, que em breve será entregue na Assembleia da República.
0 Comentários