Nascido em Cabanas de Viriato em 1885 e falecido em Lisboa, em 1954, Aristides de Sousa Mendes foi cônsul de Portugal em Bordéus durante a II Guerra Mundial. Contra as ordens de Salazar, em 1940, passou mais de 30 mil vistos a judeus perseguidos, para poderem abandonar a França ocupada em direção a Portugal, salvando-os de uma condenação à morte.
Esta ação valeu-lhe um processo disciplinar, instaurado por Oliveira Salazar, que o afastou definitivamente da carreira diplomática.
O trabalho realizado por Aristides Sousa Mendes foi considerado como a maior ação de salvamento realizada por uma só pessoa durante o holocausto, sendo mesmo considerado um herói da II Guerra Mundial.
A iniciativa presta homenagem ao diplomata e também a muitos refugiados que estiveram nas Caldas nos anos 40 e que tinham obtido o visto de Aristides Sousa Mendes, que pretendia salvar todos os que podia do holocausto nazi.
A inauguração da exposição decorreu na passada quinta-feira, com a presença da embaixadora de Israel em Portugal, Tzipora Rimon, e António Moncada de Sousa Mendes, neto do cônsul Aristides de Sousa Mendes. Irene Pimentel, autora científica do respetivo catálogo, fez uma visita guiada à mostra.
A exposição divide-se em cinco módulos: “Biografia | Salazar e o Estado Novo | Guerra Civil de Espanha”, “Alemanha Nacional – Socialista e início da II Guerra Mundial”, “Portugal, o fecho das fronteiras e a II Guerra Mundial”, “Aristides e os refugiados em Portugal”, e “A punição | Situação Europeia até ao final da Guerra | Tardia reabilitação póstuma de Aristides”.
A iniciativa de trazer esta mostra às Caldas é do Conselho da Cidade – Associação para a Cidadania, com o apoio da autarquia e do CCC. A presidente da associação, Júlia Carvalho, visitou no verão de 2014 a Casa das Memórias, em Viseu, e teve a “agradável surpresa” de conhecer esta exposição sobre “este português que salvou milhares de judeus”, e pensou como “seria bom trazê-la às Caldas dada a ligação nos anos 40 do século XX da cidade com os refugiados vítimas daquele drama”.
“Durante a II Guerra Mundial, muitos refugiados maioritariamente judeus, vindos de outros países da Europa, permaneceram durante algum tempo nas Caldas da Rainha, onde exerceram forte influência, entre outras, na área social, cultural e desportiva, o que contribuiu para que os caldenses ainda hoje recordem com nostalgia esse período da história local”, disse Júlia Carvalho, acrescentando que a “exposição parece-nos muito pertinente neste momento da história da Europa e do mundo”. Segundo esta responsável, “a história pode dar intuições profundas que nos ajudem a equacionar o nosso comportamento como cidadãos no presente e no futuro”.
O neto do cônsul mostrou-se muito satisfeito com a exposição, revelando que é sua obrigação representar a memória do seu avô.
Para o presidente da Câmara das Caldas, Tinta Ferreira, foi um prazer colaborar com o Conselho da Cidade para recolher esta exposição, porque “nunca é de mais registar e homenagear os valores de uma grande pessoa”, agradecendo o apoio a Câmara de Viseu.
Tzipora Rimon recordou que Aristides de Sousa Mendes é um dos “justos das nações do mundo”, o título dado por Israel a cidadãos não-judeus que ajudaram judeus a escapar ao Holocausto. Destacou a importância dos jovens visitarem a exposição e a necessidade de terem conhecimento sobre o holocausto.
Referiu ainda que 71 anos após o fim da II Guerra Mundial, no dia 27 de janeiro, terá lugar em várias partes do mundo a evocação do Dia de Memória do Holocausto.
Depois da inauguração da exposição decorreu no foyer do CCC a primeira palestra de uma série de conferências, sob o título “Ser cidadão do mundo, hoje!”, que teve a participação de António Moncada de Sousa Mendes, Irene Pimentel e Ricardo Silva, investigador e colaborador na revista Visão História e no semanário Expresso.
O Conselho da Cidade pretende chamar a atenção da comunidade para a problemática dos refugiados através de vários eventos em agenda.
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