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Exposição de Aristides de Sousa Mendes recorda os 30 mil vistos passados a judeus perseguidos

Marlene Sousa

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“Coragem em Tempo de Medo” é o nome da exposição retrospetiva da vida e obra de Aristides de Sousa Mendes,  patente no Centro Cultural e Congressos nas Caldas da Rainha (CCC) até 14 de fevereiro.
Maria Júlia Carvalho, presidente do Conselho da Cidade, Tzipora Rimon, embaixadora de Israel, Tinta Ferreira, presidente da câmara das Caldas, Maria da Conceição vereadora, e António Moncada de Sousa Mendes, neto do cônsul

Nascido em Cabanas de Viriato em 1885 e falecido em Lisboa, em 1954, Aristides de Sousa Mendes foi cônsul de Portugal em Bordéus durante a II Guerra Mundial. Contra as ordens de Salazar, em 1940, passou mais de 30 mil vistos a judeus perseguidos, para poderem abandonar a França ocupada em direção a Portugal, salvando-os de uma condenação à morte.

Esta ação valeu-lhe um processo disciplinar, instaurado por Oliveira Salazar, que o afastou definitivamente da carreira diplomática.

O trabalho realizado por Aristides Sousa Mendes foi considerado como a maior ação de salvamento realizada por uma só pessoa durante o holocausto, sendo mesmo considerado um herói da II Guerra Mundial.

A iniciativa presta homenagem ao diplomata e também a muitos refugiados que estiveram nas Caldas nos anos 40 e que tinham obtido o visto de Aristides Sousa Mendes, que pretendia salvar todos os que podia do holocausto nazi.

A inauguração da exposição decorreu na passada quinta-feira, com a presença da embaixadora de Israel em Portugal, Tzipora Rimon, e António Moncada de Sousa Mendes, neto do cônsul Aristides de Sousa Mendes. Irene Pimentel, autora científica do respetivo catálogo, fez uma visita guiada à mostra.

A exposição divide-se em cinco módulos: “Biografia | Salazar e o Estado Novo | Guerra Civil de Espanha”, “Alemanha Nacional – Socialista e início da II Guerra Mundial”, “Portugal, o fecho das fronteiras e a II Guerra Mundial”, “Aristides e os refugiados em Portugal”, e “A punição | Situação Europeia até ao final da Guerra | Tardia reabilitação póstuma de Aristides”.

A iniciativa de trazer esta mostra às Caldas é do Conselho da Cidade – Associação para a Cidadania, com o apoio da autarquia e do CCC. A presidente da associação, Júlia Carvalho, visitou no verão de 2014 a Casa das Memórias, em Viseu, e teve a “agradável surpresa” de conhecer esta exposição sobre “este português que salvou milhares de judeus”, e pensou como “seria bom trazê-la às Caldas dada a ligação nos anos 40 do século XX da cidade com os refugiados vítimas daquele drama”.

“Durante a II Guerra Mundial, muitos refugiados maioritariamente judeus, vindos de outros países da Europa, permaneceram durante algum tempo nas Caldas da Rainha, onde exerceram forte influência, entre outras, na área social, cultural e desportiva, o que contribuiu para que os caldenses ainda hoje recordem com nostalgia esse período da história local”, disse Júlia Carvalho, acrescentando que a “exposição parece-nos muito pertinente neste momento da história da Europa e do mundo”. Segundo esta responsável, “a história pode dar intuições profundas que nos ajudem a equacionar o nosso comportamento como cidadãos no presente e no futuro”.

O neto do cônsul mostrou-se muito satisfeito com a exposição, revelando que é sua obrigação representar a memória do seu avô.

Para o presidente da Câmara das Caldas, Tinta Ferreira, foi um prazer colaborar com o Conselho da Cidade para recolher esta exposição, porque “nunca é de mais registar e homenagear os valores de uma grande pessoa”, agradecendo o apoio a Câmara de Viseu.

Tzipora Rimon recordou que Aristides de Sousa Mendes é um dos “justos das nações do mundo”, o título dado por Israel a cidadãos não-judeus que ajudaram judeus a escapar ao Holocausto. Destacou a importância dos jovens visitarem a exposição e a necessidade de terem conhecimento sobre o holocausto.

Referiu ainda que 71 anos após o fim da II Guerra Mundial, no dia 27 de janeiro, terá lugar em várias partes do mundo a evocação do Dia de Memória do Holocausto.

Depois da inauguração da exposição decorreu no foyer do CCC a primeira palestra de uma série de conferências, sob o título “Ser cidadão do mundo, hoje!”, que teve a participação de António Moncada de Sousa Mendes, Irene Pimentel e Ricardo Silva, investigador e colaborador na revista Visão História e no semanário Expresso.

O Conselho da Cidade pretende chamar a atenção da comunidade para a problemática dos refugiados através de vários eventos em agenda.

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