“Imbuída de espirito biográfico, a exposição de Umbelina Barros apresenta obras do universo artístico e singular da ceramista. São peças que giram à volta da figura de vulto, que apresentam uma mulher como o ser pleno do eu, geradora de vida por analogia à ceramista criadora da obra singular”. Palavras de Álvaro Silva, responsável pela empresa Eurostand, que marca presença com pequeno texto sobre a exposição, na folha de sala.
A ceramista trabalhou apenas temas relacionados em torno da personagem do eu, do seu posicionamento no mundo, da matéria e do ser, que levam o visitante a ter uma narrativa sobre as peças. Segundo Umbelina Barros, a exposição é o “reflexo de um ano de trabalho em torno do eu”.
Esta mostra encontra-se inserida na tese do doutoramento que a caldense está a tirar, em Educação Artística, na Faculdade de Belas Artes do Porto. Durante quatro anos, Umbelina Barros optou por trabalhar com quatro artistas – o mestre Herculano Elias, o Ferreira da Silva, o mestre Velhinho de S. Pedro do Corval e João Oliveira, de forma a “beber as quatro técnicas diferenciadas dos mestres e, por fim, transpô-las para a contemporaneidade”.
“São quatro artistas e quatro técnicas diferentes, que aprendi e durante um ano decidi aplicá-las. Como tal, estas peças são o reflexo disso. São a minha linguagem e a minha maneira de pensar, misturada com essas técnicas”, explicou a ceramista, adiantando que não deu para colocar todo o seu espólio, pois “as peças precisam de respirar e de espaço para que as pessoas possam ladeá-las”.
“Achei que era preferível mostrar menos, para dar a noção do trabalho que eu bebi na fonte dos quatro artistas, com quem tive o prazer trabalhar”, disse a caldense, acrescentando que as peças têm a característica de não ter legendas, de forma a permitir que “os espectadores possam fazer a sua própria leitura, sem ter a influência da minha parte”.
Para a ceramista, “cada peça tem para mim um desabafo, uma prosa, uma poesia ou uma memória descritiva. Como tal, colocar legendas, para mim não fazia qualquer sentido”. Assim, desta vez não “há palavras escritas mas palavras que saíram de mim e se redimensionaram, transformando-se em palavras de barro”.
Carlos Coutinho, diretor do Museu da Cerâmica e José Malhoa, mencionou que as peças da artista têm um pouco de Álvaro de Campos, heterónimo de Fernando Pessoa, que é o poeta das sensações. Como tal, “temos que nos abrir à criatividade e sentir essas sensações que as peças transmitem”. Disse, igualmente, que as peças retratam “um trabalho característico da Umbelina Barros, em soma com outras fontes”. Já Maria da Conceição, vereadora da cultura, afirmou que “é sempre bom sentir que existem cada vez mais pessoas como a Umbelina, que estão a fazer o seu percurso profissional e as suas cerâmicas de autor, de modo a deixarem a sua marca identificadora”.
A exposição ficará patente na sala temporária do Museu José Malhoa até 13 de dezembro.
Mariana Martinho
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