O órgão de tubos da Igreja de São Pedro, data do século XVIII e estava parado desde a década de 40 do século passado, a aguardar restauro. A recuperação deste órgão secular está integrada no âmbito da parceria para a regeneração urbana na candidatura liderada pelo Município de Peniche ao Programa Operacional Centro, para as obras de reabilitação da Igreja de São Pedro, reaberta ao culto no passado mês de novembro.
De acordo com Fernando Engenheiro, em artigo publicado na edição nº 1192 da “Voz do Mar” de 24 de outubro de 2006, “desde os fins do século XVIII, mais propriamente na sua última década, a Igreja de São Pedro passou a ser possuidora de um grande órgão, instrumento musical de teclas com sons por tubos construídos em estanho. No interior daquele templo, ao levantarmos a vista para a altura do coro, na época também designado por coreto, os nossos olhos prendem-se, no seu velho órgão que, pela imponência, nos maravilha com a sua caixa, ensamblamento e toda a composição onde encerra os tubos e a sua maquinaria”.
Ainda segundo este historiador local, “não se conhecem as suas origens nem como foi adquirido, nem tão pouco a sua classificação, embora as suas características apontem para que seja classificado como “Órgão Ibérico” ou, simplesmente, como “Órgão Português”. Também não se pode dar como certo o seu construtor, embora na época, entre 1756-1828, tenha existido em Lisboa o célebre e famoso organeiro António Xavier Machado e Cerveira, que construiu mais de uma centena de órgãos, colocados em diversos pontos do país e até do Brasil. Machado e Cerveira construiu órgãos por encomenda própria, enviando todas as peças para os locais onde seriam montados por um dos seus oficiais ou por alguém do local”, refere Fernando Engenheiro.
Na altura, este instrumento musical foi adquirido com “a colaboração dada pelas Confrarias das Almas e de Nossa Senhora do Rosário, aprovadas pelos seus Juízes, Oficiais e Mordomos, com assento na Igreja de S. Pedro, sendo assim possível ajudar a compartilhar nas despesas da sua aquisição, a cargo da Irmandade do Santíssimo Sacramento da Igreja de S. Pedro”, pode ler-se no artigo.
O novo órgão teve “a sua solene inauguração na festa anual que se fazia naquele templo em louvor de Nossa Senhora do Rosário, a cargo da sua Confraria, cuja imagem se venerava no altar onde hoje se rende o culto a Nossa Senhora da Boa Viagem. A partir de então e até à abolição das Ordens Religiosas (que ocorreu a partir de 1834), foi a manutenção do órgão entregue aos cuidados do Convento do Bom Jesus de Peniche até porque ali existiam elementos competentes para o desempenho de funções de organista.
Nessa época “aqui vivia José Leal Moreira, mestre da música da então Vila de Peniche, com o partido de quarenta mil réis em cada um ano pagos pelo “Cofre dos Sobejos das Sisas” da mesma Vila sendo o dito mestre obrigado a ensinar de graça os moradores de Peniche por provisão da Rainha D. Maria I, de 5 de dezembro de 1778. Pensa-se que, talvez a ideia da aquisição do órgão para a Igreja de São Pedro se deva ainda que de uma forma indireta àquele professor de música, habilitado a formar alunos organistas”, explica o historiador.
Desde então, por longos anos ecoaram naquele templo os sons do velho órgão, “enchendo a alma” e acompanhando celebrações solenes como “Te Deum Laudamos”, ou Ações de graças a Deus, especialmente cantados quando em Peniche eram recebidos membros da realeza, altos eclesiásticos e militares de alta patente. Fernando Engenheiro acrescenta ainda que “outros organistas exploraram as capacidades deste majestoso órgão de tubos, mas não há memórias da sua atuação até aos primeiros anos do século XX, aquando das solenidades litúrgicas que assinalavam os dias do Corpo de Deus, de S. Pedro, Orago do Templo, da Cadeira de S. Pedro, de Nossa Senhora do Rosário, ou ainda o Domingo de Páscoa e o Natal”.
Mais tarde, já em pleno século XX e já depois da Implantação da República, pela mão do mestre José Cândido de Azevedo Mello, o velho órgão continuou a encher de sonoridade musical a Igreja de São Pedro. José Cândido de Azevedo Mello, figura ímpar na arte musical em Peniche, fez realçar aquele instrumento em momentos litúrgicos de grande esplendor. Alguns alunos seus também o usaram, como os organistas Joaquim Desidério Júnior e sua nora D. Romana Ester Caldas Pereira Fausto de Mello”, explica o artigo de Fernando Engenheiro.
No entanto, alguns anos antes da morte do mestre José Cândido, ocorrida a 1 de outubro de 1950, mergulhou aquele grande instrumento musical num silêncio profundo, até aos dias de hoje.
0 Comentários