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Suicídios continuam a aumentar nas Caldas e na região

Marlene Sousa

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A mortalidade por suicídio sofreu um grande aumento na região de 2008 para 2013, tendo-se mantido superior ao valor nacional. No ano passado suicidaram-se 25 pessoas na região e no primeiro semestre de 2014 morreram 16 pessoas. No período de 2008 a 2013 a Viatura Médica de Emergência e Reanimação (VMER) das Caldas da Rainha registou 253 saídas por comportamentos suicidários e suicídios. Desses 253 casos, 182 não morreram e 71 indivíduos (homens:59/mulheres:12) mataram-se. Estes dados foram apresentados pelo enfermeiro Nuno Pedro, da VMER das Caldas, no passado dia 16, no auditório na Escola de Sargentos do Exército, no âmbito do XV seminário promovido pelo Núcleo de Intervenção na Área da Saúde Mental (NIASM), com o tema Suicídio & Alteridade – Vidas sem rede. “Este ano já temos mais de 30 casos, porque no mês de julho, agosto e setembro tivemos muitas saídas de ativações quase sempre por arma de fogo ou por enforcamento”, adiantou o enfermeiro. A VMER tem uma abrangência de cerca de 120 a 150 mil pessoas, de Caldas da Rainha, Óbidos, Bombarral e Peniche. No entanto sempre que é solicitado desloca-se a Alcobaça, Nazaré, Cadaval, Nazaré, Rio Maior e Torres Vedras.
Seminário sobre suicídio promovido pelo Núcleo de Intervenção na Área da Saúde Mental

O estudo retrospetivo de distribuição por concelho no período 2008-2013 dos comportamentos suicidários e suicídios (total 253) demonstra que em Caldas da Rainha houve 121 casos, Alcobaça 51, Óbidos 27, Bombarral 20, Cadaval 15, Nazaré 9, Peniche 5, Rio Maior 1, Torres Vedras 1, e 3 não têm o local especificado.

Relativamente à causa dos suicídios, ou seja, patologias antecedentes, 72% (51) dos casos não tem patologia identificada, 16 pessoas tinham depressão (23%), 3 casos de toxicodependência (4%) e uma pessoa tinha patologia psiquiátrica (1%).

Os métodos mais utilizados foram a intoxicação medicamentosa (104 casos), enforcamento (39 casos), fitofármacos (39 casos), abuso de substâncias (29 casos), arma de fogo (17 casos), submersão (8 casos) e queda de altura (6 casos).

Segundo Nuno Pedro, os números que apresentou estão “abaixo da realidade porque há muitas situações que não conseguimos identificar se é suicídio ou não”. Deu o exemplo de um incidente que ocorreu há cerca de três meses, quando uma senhora que andou cerca de 15 quilómetros em sentido contrário na A15, até chocar contra um carro e falecer. “Quando cheguei a senhora estava morta, nunca iremos perceber se foi uma tentativa de suicídio”, sublinhou o enfermeiro.

O seminário decorreu durante todo o dia, e contou com a participação de diversos especialistas das áreas da psicologia e saúde mental, assim como representantes de diversas entidades nacionais e locais.

Decorreu ainda um workshop satélite sobre Síndromes Metabólicas e Saúde Mental.

Lista de espera para consultas de psiquiatria “passou de vergonhosa a pornográfica”

Ana Paula Carvalho, responsável pelo NIASM, explicou que o tema do suicídio surgiu porque é uma situação problemática na região com um “aumento anormal” e que “põe muito em evidência as carências de recursos humanos que nós temos porque estava a aumentar e é um tema que envolve toda a comunidade”.

A coordenadora do Serviço de Psiquiatria e Saúde Mental do Centro Hospitalar do Oeste (CHO) diz que continuam com a falta de médicos psiquiatras e que a lista de espera para consultas “já não é vergonhosa”, mas sim “pornográfica”.

Segundo as redes de referenciação, o serviço de psiquiatria do CHO deveria ter cerca de dez psiquiatras e há 1, 45. “Sendo que 0,45 é um colega que se integrou muito bem mas faz só consulta externa. Tem um contrato de prestação de serviços”, sublinhou Ana Paula Carvalho.

Apesar de terem uma excelente rede de articulação comunitária, com envolvimento da saúde e de outras estruturas como a segurança social, escolas, GNR e os cuidados primários, a psiquiatra diz que faltam “recursos especializados, porque a partir de uma certa altura não dá mesmo para fazer omeletas sem ovos”. “Precisamos de médicos psiquiatras para se encaixarem nesta rede para as coisas puderem funcionar e nós darmos resposta à população”, adiantou Ana Pala Carvalho, lembrando a apresentação que foi feita pelo enfermeiro da VMER que comprova que os “números de suicídio dispararam”. “Nós precisamos de ter respostas rápidas e eficientes e isso não é possível sem termos pessoas suficientes para o fazer”, apontou.

Os seis psicólogos que integram as equipas comunitárias a nível do serviço de psiquiatria e saúde mental do CHO que trabalham nos centros de saúde continuam a viver uma situação “muito instável”, sem saber quanto tempo vai durar a sua articulação dos cuidados de saúde primários com o hospital. “Sem estas seis profissionais era completamente impossível fazer o serviço. Nem quero pensar o que iria acontecer”, afirmou a coordenadora do Serviço de Psiquiatria do CHO, explicando que estes psicólogos correm o risco de um momento para o outro o centro hospitalar psiquiátrico de Lisboa dizer que não tem condições para os manter porque “são eles que pagam”.

Segundo a psiquiatra, os seis psicólogos eram para ser incorporados no mapa de pessoal do CHO, que na altura ainda era o CHON, com um projeto de financiamento de 24 meses, após os quais a administração se responsabilizava a ficar com esses recursos. “Entretanto mudou a administração, veio a troika, e quando acabaram os 24 meses não houve a tal inclusão das equipas no mapa de pessoal de CHO. Ficámos durante seis meses sem as equipas comunitárias, as pessoas foram para o desemprego e nós numa instabilidade do que ia acontecer. Graças à colaboração da direção do programa nacional de saúde mental, o envolvimento de Luís Pisco, como vice-presidente da ARS de Lisboa e Vale do Tejo e a presidente do conselho de administração do CHPL Júlio de Matos, conseguimos a equipa”, explicou, Ana Paula Carvalho, que não sabe o que vai acontecer em janeiro de 2015 com estes profissionais. “No início de 2013 fomos confrontados com uma redução de horário porque eles disseram-nos que não tinham orçamento para continuar a pagar as 35h semanais de trabalho”, adiantou.

Marlene Sousa

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