O convidado foi Francisco José Viegas, 52 anos, professor, escritor, jornalista e editor. O ex-secretário de Estado da Cultura, que permaneceu durante 18 meses no Governo, considera que existem três momentos relevantes na cultura em Portugal. Em primeiro lugar a criação de bibliotecas públicas. “Foi um processo revolucionário e original da década de 80. As bibliotecas públicas não existem em todos os países da Europa, por isso acho que o caso português será estudado historicamente”, disse.
Em segundo lugar, o mais importante dos acontecimentos pós 25 de abril para Francisco José Viegas, foi a passagem da programação cultural para o universo das autarquias. “65% da programação cultural é feita ao nível das comunidades e autarquias locais, de museus, associações, instituições, entre outros. A descentralização da vida cultural permitiu mais envolvimento das comunidades locais no que diz respeito às escolhas culturais”, salientou. Por outro lado, e apesar de ter havido um corte de subsídios para a cultura na década de 80, “Portugal não sentiu o efeito negativo dessa medida, pois foi exatamente nessa altura que cresceu. Esta fase foi essencial para a democracia na cultura se evidenciar, no fundo a cultura escapou às mãos do Estado e passou para várias entidades”, afirmou.
Francisco José Viegas considera que o Estado deve criar prioridades no que diz respeito à cultura. “Apoiar o que é essencial, como o património, sendo esta uma fonte de rendimento, a língua portuguesa, alimentar uma rede de teatros e apoiar a leitura e o livro, devendo o restante ser entregue à sociedade civil”, declarou. Contudo, o escritor alertou que “sem público para a cultura não existe cultura”. Para tal defendeu um projeto educativo orientado para a cultura como o plano nacional de música, de cinema, tal como existe o plano nacional de leitura. Nesse sentido Francisco José Viegas manifestou que “o Estado deve abrir caminho para a cultura e educação para a arte, motivando os mais novos”.
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