A escola de Peniche realizou aulas de surf enquanto atividade terapêutica com duas instituições durante cerca de mês e meio e com onze instituições durante um dia.
Dispõe de uma equipa multidisciplinar constituída por técnicos ligados às áreas de educação especial e simultaneamente à modalidade de surf. Trabalha regularmente nas praias de Peniche, principalmente na praia do Baleal (Prainha – Lagido). Porém, apresenta uma natureza móvel deslocando-se as praias da zona da Grande Lisboa (costa da Caparica, Carcavelos e Guincho).
A Special surf 78 está registada no Turismo de Portugal, com o seu objeto social focado na terapia para as populações especiais. Em contexto de surf terapia, com atividades regulares oito a dez meses por ano, todos os fins de semana e com maior frequência no verão, a Special surf 78 desenvolveu competências através do surf com 18 alunos com necessidades especiais (idades entre 6 e 27 anos).
Os professores responsáveis pelo projeto, Nuno Jesus e Edgar Jesus, destacam que “o objetivo é que o aluno seja mais interveniente e autónomo na realização das tarefas, resultado do aumento das suas competências que acontece com naturalidade, num ambiente de grande estímulo sensorial a que se associa o grau de prazer e motivação que são próprios da modalidade do surf”.
A atividade de surf para os alunos com necessidades educativas especiais são realizadas em ambiente inclusivo não apenas por se desenvolverem no “cenário” de praia e no oceano/mar, constituindo um ambiente “outdoor” rico em estímulos e sendo um local aberto a todos, mas também porque os grupos de alunos das aulas de surf são heterogéneos, ou seja, têm alunos com e sem deficiência.
No universo de alunos foi escolhido ao acaso um deles, designado por “Super P”, para demonstrar a organização do trabalho desenvolvido pelo projeto.
“Baseámo-nos nos relatórios de avaliação periódicos, utilizados como recurso na averiguação das evoluções dos nossos alunos com a prática desportiva do surf”, relatam.
O “Super P” apresenta perturbação do espectro do autismo, tem 10 anos e está inserido num ambiente familiar facilitador e bem informado relativamente à problemática do seu filho.
Nem sempre compreende e utiliza as regras do comportamento social, conforme o contexto. Sempre que necessita manifesta desejos e necessidades com gestos e ou palavras, recorre sobretudo a linguagem oral, principalmente nas situações que apresenta maiores índices de ansiedade.
Aceita melhor o “não” e tem superado as reações de irritabilidade frente a situações de frustração.
Participa em atividades de grupo com os seus pares, embora na maior parte das vezes apresente dificuldades na partilha de interesses com os mesmos. Reage ao contacto físico de um seu par, assim como capacidade para desenvolver amizades em especial com os adultos.
No domínio da autonomia – aquando da entrada e saída do mar – o aluno veste licra e o fato de surf integralmente sob supervisão passiva, à exceção do fecho do fato, onde necessita de supervisão ativa. O aluno coloca corretamente o leash da prancha com ajuda parcial do professor.
No meio aquático, transporta a prancha sozinho corretamente e eleva a prancha quando a onda se aproxima e realiza viragem da prancha preparando posição para apanhar a onda, e deita-se na prancha com a ajuda parcial do professor.
Nem sempre executa a remada com sincronização dos membros superiores, mas consegue apanhar a onda através da sua remada e com ajuda parcial do professor no controlo da estabilidade da prancha.
O aluno deitado na prancha executa extensão dos braços quando está na onda de acordo com as indicações dadas. Deitado na prancha realiza avião embora sem oscilações para ambos os lados.
No domínio da motricidade global – o Super P aumentou as suas capacidades condicionais e coordenativas, resultado das solicitações motoras que atividade física e desportiva desenvolve, em particular na modalidade do surf.
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