Uma investigação da revista Sábado faz agora luz sobre esse tempo, em que, segundo indica, “cerca de mil alemães” que estavam em território nacional em 1916 “foram feitos prisioneiros e internados em campos de concentração em Portugal”.
Durante a 1ª Guerra Mundial, que começou há cem anos, o governo “juntou os alemães que se encontravam no país e obrigou-os a viver aprisionados em Peniche, Caldas da Rainha e Angra do Heroísmo”. Este é o assunto em destaque na última edição da revista Sábado, que revela documentos inéditos que descrevem o dia-a-dia dos “inimigos” que ficaram no País.
Relata a revista que “depois da entrada de Portugal na 1ª Guerra Mundial, o governo decidiu expulsar do país a maioria dos alemães, para reduzir o que considerava uma ameaça à segurança nacional”.
“Ficaram os que tinham entre 15 e 45 anos, por estarem em idade militar e por haver o risco de serem reintegrados no Exército inimigo. Foram todos obrigados a apresentar-se às autoridades militares. Colocaram-nos num navio e enviaram-nos para a ilha Terceira, para o castelo de São João Baptista, em Angra do Heroísmo”, descreve a Sábado.
Durante três anos chegaram a viver naquela fortaleza mais de 700 prisioneiros. A Sábado baseou-se na investigação efetuada por Yolanda Corsépius, filha de um telegrafista da companhia de cabos submarinos na ilha do Faial que foi feito prisioneiro.
A dada altura, já não cabiam todos nos Açores e o governo ordenou então a abertura de mais dois campos – em Peniche e nas Caldas da Rainha.
De acordo com a Sábado, no forte de Peniche foram colocados 14 militares alemães capturados em África. Viveram também ali, pelo menos, 15 famílias com 16 crianças e nasceu um bebé, filho de um casal de prisioneiros. Eram constantes as queixas em relação à falta de condições higiénicas e uma das prisioneiras chegou a denunciar à Cruz Vermelha os sofrimentos de ordem moral por que passavam as nove mulheres que ali viviam, no meio de 250 homens solteiros. As tentativas de fuga eram frequentes, conta a revista.
Nas Caldas da Rainha, o campo de concentração funcionou nos Pavilhões do Parque, onde entre 1918 e 1926 existiu um regimento aquartelado que chegou a utilizar a denominação “Regimento de Infantaria nº 5”, antes de dar lugar ao Batalhão de Ciclistas nº 2 e voltar a usar a designação inicial.
Em 1918, nas Caldas da Rainha, chegaram a viver 168 prisioneiros, indica a Sábado, que publica algumas raras fotografias tiradas na época e que mostram os alemães no comboio que os transportou até à cidade, as condições de uma camarata, o campo de futebol em que jogavam e a caserna onde muitos deles dormiam.
A maior razão de queixa era a alimentação. Os prisioneiros chegaram mesmo a pedir que os deixassem confecionar os pratos.
Alguns meses depois de chegarem a este campo de concentração, a 1ª Guerra Mundial terminou. Os alemães ainda ficaram retidos mais um ano e só no fim de 1919 é que regressaram a casa. Francisco Gomes
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