Não só foram embaixadores das Caldas e do seu bordado como foram oradores no encontro cultural trans-nacional dedicado à história e à comparação e semelhanças entre o ponto italiano “Ponto Umbro de Sorbello ou Português da Marquesa Romeyne Ranieri de Sorbello” e o Bordado das Caldas.
O convite para estarem presentes no certame foi feito pela organização do evento através da antropóloga Geneviève Porpora, diretora da revista italiana Cora, que veio às Caldas em junho procurar semelhanças e possíveis influências entre o ponto italiano “Punto Umbro” de “Sorbello ou Portughese” e o Bordado das Caldas. “Através de contato da diretora do Museu José Malhoa, Matilde Couto, a diretora da revista Cora de Perugia, expert italiana em artes decorativas, deslocou-se ao museu das Caldas com o objetivo de encontrar explicações para as semelhanças que reconheceu existirem entre o referido bordado daquela região da Itália e o bordado das Caldas”, explicou Mário Tavares, salientando a importância desta pesquisa e a troca de conhecimento com Itália.
Foi um folheto datado do início dos anos vinte do século passado da escola de Pischiello, fundada em Passigmano, no Trasimeno, em 1904, pela Marquesa Romeyne Ranieri de Sorbello, que o Ponto Umbro aparece também denominado como “português”. Foi a partir daqui que nasceu a pesquisa iniciada há alguns anos e que trouxe a especialista italiana a Portugal e às Caldas, onde depois de vários encontros com historiadores, especialistas têxteis e bordadoras de algumas associações de bordados portugueses, emergiram algumas semelhanças.
O historiador e professor caldense Mário Tavares e Idalina Lameiras, especialista em bordados e rendas e formadora na Escola Rafael Bordalo Pinheiro trocaram impressões com a diretora da revista italiana acerca das aproximações de estilos e técnicas. Segundo o historiador, sugeriram que “entre aquela região italiana e as Caldas, no século XIX, possivelmente, poderá ter havido contatos justificativos da difusão de gostos e saberes que correlacionaram ambos os bordados”. Mário Tavares revelou ainda que a antropóloga italiana colocou ainda a hipótese da “Marquesa de Sorbello ter frequentado as termas caldenses e tomado conhecimento do bordado local, importando a sua influência para Itália. Daí a denominação de punto portughese”.
De acordo com Idalina Lameiras, quanto à composição dos projetos “são, na sua maioria, semelhantes aos nossos: em irradiação, alternância, simetria e em certas composições, por exemplo, o aparecimento e a estilização de pássaros”. Também diz encontrar muita similitude com o nosso bordado antigo. “Na finalização dos trabalhos, os bordados italianos são muito mais variados, enquanto que nos das Caldas surgem as franjas de diversas texturas, executadas em tear manual, rendas de bilros e bainhas dos próprios trabalhos”, adiantou a especialista em bordados.
Os resultados da pesquisa de Geneviève Porpora foram publicados num pequeno livro que foi apresentado durante o certame em Panicale. Esta publicação, cuja introdução foi escrita por Mário Tavares, traz imagens das Caldas da Rainha e dos seus bordados e explica de que forma o ponto italiano se cruz com o bordado das Caldas e com a própria história das Caldas da Rainha.
Caldenses mostram bordados das Caldas em Itália
Os caldenses fizeram um balanço muito positivo da sua participação no evento, destacando a sua importância na partilha de conhecimento cultural e na promoção da cidade das Caldas. Ficaram encantados com a beleza de Panicale, uma comuna italiana da região da Umbria, província de Perugia, com 5.332 habitantes.
O encontro cultural teve lugar no dia 21 de setembro, no Museu de renda tule em Panicale. Mário Tavares falou sobre da origem e história do bordado das Caldas, partilhando ainda algumas palavras sobre o seu renascimento. O historiador disse que foi devido à Escola Rafael Bordalo Pinheiro que “esta bela manifestação de cultura popular se manteve e tem passado de geração a geração, pela realização de cursos profissionalizantes, promovidos por entidades competentes”. “É possível incrementar a feitura do Bordado das Caldas, dentro de uma produção artesanal, bem organizada, porque é economicamente viável através de uma instituição própria que coordene e promova a sua peculiaridade – fazendo escola e que o divulgue e comercialize”, concluiu Mário Tavares.
“O renascimento dos bordados das Caldas, a confeção, preservação e difusão”, foi o tema que Idalina Lameiras levou ao evento.
A bordadeira caldense Liseta Pereira, da Capelista das Termas, falou da sua experiência formativa. Liseta Pereira foi ainda a responsável pelo expositor dos bordados das Caldas no certame. Levou vários trabalhos que estiveram expostos durante os dias do evento.
Mário Tavares destacou a colaboração da Câmara das Caldas da Rainha, que lançou a segunda edição do livro “O Bordado das Caldas ou Bordado da Rainha D. Leonor”, que foi divulgado no certame internacional de bordados e rendas na Itália. A obra estava esgotada e a autarquia editou mais 150 exemplares.
Os caldenses especialistas nos bordados das Caldas vieram encantados com o certame que decorreu em Panicale. Gostavam de realizar um evento semelhante nas Caldas com a presença da antropóloga cultural italiana, Geneviève Porpora. “Numa versão mais pequena estamos a pensar realizar para o ano que vem, provavelmente em julho, um certame com conferências sobre o bordado das Caldas, Óbidos e Peniche”, disse Mário Tavares, confiante de que terá o apoio das Câmaras Municipais para a realização do evento.
Marlene Sousa
0 Comentários