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A independência é algo secundário. A decência, não.

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De tudo aquilo que singulariza estas autárquicas, há um fator que sobressai com particular clareza. Não é a circunstância de crise e o regime de soberania parcelada em que vive o país: quem era eleitor em 1982, recorda-se bem do que foi escolher o seu autarca enquanto em Lisboa se esboçava uma intervenção do FMI. O que diferencia o ato eleitoral de dia 29 dos anteriores é a notória determinação dos cidadãos em revogar o regime de monopólio participativo que outorgaram às máquinas partidárias. Se até aqui os portugueses – e, por isso, os caldenses – confiavam numa elite de profissionais da política para determinar-lhes o amanhã, esse tempo aparenta ter terminado. A profusão de movimentos independentes, nas Caldas como no resto do país, mostra exatamente isso. E ainda bem.

Mesmo tardio, o desabrochar dos movimentos de cidadania é um sinal positivo. Constitui evidência da maturidade de uma democracia que viveu agrilhoada aos partidos políticos durante demasiado tempo. E isso é tão verdade no Porto como nas Caldas. Por serem movimentos espontâneos, circunstanciais, e não organizações permanentes, as candidaturas independentes têm normalmente a virtude de conhecer problemas – e apresentar-lhes respostas – a que os partidos nem sempre logram chegar. Na generalidade dos casos, são compostas por pessoas determinadas em encontrar soluções práticas para dificuldades concretas – e para quem o serviço à comunidade não constitui um emprego vitalício.

Nem sempre, contudo, isso sucede. Por vezes, a independência corporiza uma fachada eficaz – e muito conveniente – para os derrotados do xadrez partidário. É assim em Gaia e Sintra. Noutros, assume contornos de oportunismo imediatista e transforma-se numa cruzada antipartidos. Infelizmente, parece ser esse o caso da candidatura protagonizada por Maria Teresa Serrenho. Por cá, as listas independentes partilham poucos dos benefícios que normalmente definem os movimentos de cidadania: a espontaneidade foi substituída por um processo de implementação que transformou o MVC num verdadeiro micropartido; a opção pela clareza, por réplicas exatas para dilemas precisos, diluiu-se numa vagueza eleitoralista que impossibilita o debate e descredibiliza a política local.

Aí reside o carcinoma que arrasa um movimento que tinha tudo para transformar – e, note-se, para melhor – a política caldense. Incapaz de afirmar-se como uma alternativa, quer ao atual executivo autárquico, quer às restantes candidaturas, o Movimento Viver a Cidade passou a alimentar-se do sentimento antipartidos que se apoderou da sociedade portuguesa. E isso não se limita a ser infeliz: o extremismo exibido pelo Movimento excede, por vezes, limites éticos que cidadão algum deveria aceitar transpor. A associação, esboçada há tempos por um candidato do MVC, entre o sistema partidário que coloniza a nossa democracia e os horrores do regime nazi é bem mais que uma monstruosidade lógica. É um insulto a todos os homens e mulheres que, revendo-se no ideário de forças políticas já existentes, tomaram a iniciativa de fazer parte do processo democrático.

Se há contexto em que as palavras importam, é o do confronto de ideias. Nessa circunstância, não pode existir distinção entre a realidade e a aparência, entre o que se profere e aquilo em que se crê. Para os missionários do MVC, isso exprime uma encruzilhada. Ou são obrigados a reconhecer-se como parte de um burlesco ultrajante, em que tudo serve para conquistar a atenção dos eleitores, ou admitem ser sinceros quando vilificam gerações de caldenses para quem os partidos do sistema foram uma ponte para a cidadania. Verificando-se ser verdadeira a segunda possibilidade, porém, torna-se importante fazer a observação: não é – nunca é – de apelos à diferença que brotam os monolitismos. Enquanto se esquiva ao debate e dirige uma cruzada contra os partidos políticos com presença nas Caldas, Teresa Serrenho reabilita o discurso dos tiranos. Seria infeliz se muitos a ouvissem.

Rafael Borges

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