Perante cerca de 120 pessoas, os assuntos focados abordaram principalmente questões ligadas direta ou indiretamente com o comércio. Os moderadores, Paulo Agostinho e Isabel Castanheira, salientaram que o objetivo “não é saber quem vai vencer este debate, mas saber o que cada candidato tem para nos esclarecer”.
A associação comercial chamou a si as primeiras perguntas, começando pela limpeza da cidade, campanha antigraffitis recentemente lançada pela Câmara e o lixo deixado no mercado semanal.
Oportunidade para as primeiras críticas à Câmara e a Tinta Ferreira. Para Manuel Isaac, do CDS-PP, a ação de limpeza que incluiu militares do Exército “é uma chico-espertice e um aproveitamento político do momento”. Enquanto José Carlos Faria, da CDU, e Teresa Serrenho, do MVC, falaram de ações de sensibilização e formação cívica nos cuidados a ter com a limpeza e com os graffitis, Rui Correia foi direto: “Não há rotina nem preocupação de limpeza”. Lino Romão, do BE, na ausência do candidato do seu partido à Câmara que se encontrava noutra ação, considerou “lamentável terem envolvido o Exército”. Tinta Ferreira defendeu-se: “Solicitei ao Centro de Emprego e a instituições para colaborarem e fizemos um protocolo com a PSP para reforçar a vigilância à noite”.
Passou-se então à situação dos edifícios degradados e inacabados na cidade. “A Câmara tem um levantamento e obrigação de contatar os proprietários e incentivá-los a fazerem obras. Quem não quiser deve manter as fachadas limpas e fechadas. Mas tem de haver incentivos e isenção de licenças para proprietários encetarem regeneração”, defendeu Manuel Isaac. Quanto aos prédios inacabados, “deve ser feito um esforço junto da banca para, em parceria, acabarem os prédios”.
“Ao contrário do que o Manuel Isaac disse, não foi feito um levantamento sério, foi feito de forma amadorística. É preciso um plano de pormenor concluído, sem isso não é possível fazer qualquer recuperação”, manifestou Rui Correia.
Tinta Ferreira admitiu a necessidade de “constituir uma área de reabilitação urbana para candidatura a fundos comunitários e para que proprietários tenham benefícios. Temos de concluir o plano de pormenor do centro histórico”.
Para Teresa Serrenho, “é urgente a reabilitação com incentivos fiscais”, apontando que “houve desertificação do centro histórico”
Lino Romão sustentou que “deve ser lançado um plano de reabilitação de edifícios degradados, com bolsa de arrendamento para habitação social e criativa. Nos que não forem recuperados, colocar lonas com imagens do património natural”. Quanto aos edifícios inacabados, “alguns a Câmara devia assumir a sua demolição”.
José Carlos Faria considerou que a cidade “sofre um défice crónico de planeamento”, criticando o “modelo de desenvolvimento do betão nas Caldas”.
Que eventos vão realizar?
“Planeiam a realização de eventos que possam mediatizar a cidade como destino turístico e cultural e em torno da cerâmica?”. À pergunta, Rui Correia começou por focar “a completa ausência de política de planeamento”. “Temos eventos sem modernidade. O sucesso tem sido da sociedade civil que organiza eventos”, sublinhou. “Quero criar o Parque Bordalo, de animação para descobrir a cerâmica, e a feira da cerâmica”, adiantou.
Tinta Ferreira divulgou a intenção de, em parceria com os municípios de Óbidos e Alcobaça, “candidatarem-se a apoios que permitam iniciativas de relevo com impato nacional. Os candidatos do PSD têm falado sobre isto”. Voltar a realizar no Parque a feira da fruta e hortofruticultura, ao nível das grandes feiras, e a Festa da Cerâmica, são alguns dos eventos que prevê realizar.
Teresa Serrenho apontou a necessidade de desenvolver o “Turismo de negócios”, com congressos no CCC, para atrair gente com capacidade económica”.
“Caldas já teve grandes eventos e foi este executivo quem os tirou do parque e os levou para a Expoeste, onde foram morrendo. A grande medida será devolver ao parque e ao centro histórico a feira da fruta e da cerâmica, mas o melhor evento que podemos ter é a reabertura do hospital termal, que tem um potencial diferenciador”, destacou Lino Romão.
José Carlos Faria falou em promover uma iniciativa gastronómica relacionada com os sabores da lagoa e um festival de teatro vicentino.
Manuel Isaac indicou como prioridades a feira nacional da fruta e da cerâmica, e um projeto bordalino para o parque.
O Hospital Termal
O Hospital Termal foi outro dos temas abordados. Teresa Serrenho defendeu que “tem de ser mantido com serviço público”. O mesmo disse Lino Romão, que pretende que o Hospital Termal esteja “no Serviço Nacional de Saúde com tratamentos comparticipados e se mantenha a integridade do património, mas não nos opomos que haja concessão para viabilizar projetos turísticos”.
Manter as Termas públicas e no Serviço Nacional de Saúde, assim como a unicidade do património hospitalar, é a ideia de José Carlos Faria.
Manuel Isaac assumiu a “cedência do património e água à Câmara, porque assim temos o poder de decisão”.
“Há todas as razões para os caldenses desconfiarem desta entrega do património termal à Câmara. Sempre que alguma coisa foi entregue à Camara foi enterrada em betão”, comentou Rui Correia.
Tinta Ferreira retorquiu: “Vou continuar a não responder às críticas negativas e falar do futuro. Se o governo não investe e o hospital está fechado, os caldenses têm de assumir. Temos de projetar e candidatar a requalificação do parque, mata e casino a fundos comunitários, em parceria com privados”.
Planos para o comércio
Para Lino Romão, relançar o comércio tradicional passa por um “plano de regeneração urbana e rede de reabilitação urbana, para que a cidade tenha outra imagem, condições de ida e atratividade”, a que acrescenta “um plano de ação cultura e animação permanente da cidade”.
O alargamento do horário do parque gratuito no CCC foi uma das medidas apontadas por José Carlos Faria.
Teresa Serrenho falou no ordenamento da cidade para facilitar a circulação, a limpeza e tratamento de ruas.
Manuel Isaac pretende implementar “lugares de estacionamento com parquímetros, para permitir a rotatividade”. Uma das suas grandes obras será um túnel entre o largo da Rainha e a rua junto ao Chafariz das 5 Bicas, para que a Praça da Fruta só tenha trânsito para vendedores. E no subterrâneo da Praça, um parque de estacionamento.
Rui Correia preferiu acusar a Câmara: “Tem falta de trabalho, zelo, entusiasmo e ideias. Há aqui alguém que nasceu subitamente, interrogo-me se algum de nós gastaria dinheiro a visitar Caldas como ela está, com estas belezas desprezadas, é uma terra feia”.
“Vou continuar a resistir às farpas e às críticas e seguir o objetivo do debate”, respondeu Tinta Ferreira, que apontou as suas medidas: “Promover a marca Caldas no contexto nacional, criar uma brigada de pequenas intervenções para alindar o espaço em articulação com a associação comercial, requalificação da praça da fruta mas não é possível fazer parque subterrâneo, porque isso matava a praça, melhor animação e sinalética urbana, guardas noturnos e passagem dos parques de estacionamento de 45 minutos para uma hora gratuita”.
A falta de iluminação foi outro assunto. Manuel Isaac defendeu “vídeo-segurança” para que “os cidadãos possam andar em segurança”.
Teresa Serrenho manifestou que “a iluminação da cidade reflete o descuido, de um modo geral, na cidade, e a Câmara não pode ficar à espera que sejam colocadas as questões, tem de estar atenta e atuar”.
José Carlos Faria gracejou: “O PSD apela a um voto no escuro”. E prosseguiu: “O que é feito do Conselho Municipal de Segurança, para fomentar a interação entre polícia e cidadãos?”
“Não querem saber, não gostam mas não fazem nada, são muito buliçosos e zero de resultados. Tenho a minha sede num edifício maravilhoso que está completamente às escuras numa rua com candeeiros novos. É por isto que quero que votem mim. Querem resolver ou falar da possibilidade de resolver? A grande distinção entre PS e PSD nas Caldas é “quem ama, cuida”, e não tenho o pelouro do amor pelas Caldas, mas tenho a certeza: Não se cuida, será que se ama?”, declarou Rui Correia.
“Há o falar e há o fazer. Acho que nestes três meses demos provas do que somos capazes de fazer”, respondeu Tinta Ferreira, ouvindo reações no público. Mas ainda adiantou medidas: “Requalificar a iluminação pública, para torná-la melhor e a mais baixo custo. Quanto à vídeo-vigilância, só se for a PSP a vigiar”.
“Vir dizer agora que se começou a fazer há três meses o que não se fez nos últimos 27 anos, é digno de uma merecida gargalhada”, comentou Lino Romão.
Foi a altura de maior animosidade, em que Rui Correia insistiu “a Câmara só existe para atrapalhar. Não atrapalhem quem quer desenvolver-se, saiam da frente”. “Nós queremos fazer, o resto é conversa”, argumentou Tinta Ferreira. “Todos querem mudar, mesmo aqueles que estão cá há muito tempo. Há que acabar com esta conversa eleitoralista. Os programas são idênticos e o fato é que as coisas não são alteradas”, frisou Teresa Serrenho.
A indústria
“Temos de ir atrás das empresas, adquirir terrenos e criar condições de apoio à zona industrial. A Expoeste podia ser deslocalizada para a zona industrial para se fazer gestão de condomínio das empresas, proporcionar formação e realizar feiras de outro nível”, disse Tinta Ferreira.
Para Teresa Serrenho, a zona industrial “devia ser transformada em parque empresarial”. “O regulamento dizia que a Câmara podia expropriar terrenos em que não se construísse para fins industriais. Estranho que haja terrenos em que este mecanismo contratual não foi utilizado. Mas falta uma nova dinâmica”, afirmou.
“Onde está o célebre Parque Tecnológico das Caldas? Deve ter empresas de nanotecnologia, tão pequenas que ninguém as vê”, ironizou Lino Romão.
“Quem quer investir na zona industrial? Está abandonada”, exclamou Manuel Isaac, que garantiu que criará o “Gabinete Positivo” para dar resposta em dez dias a pedidos de instalação na zona industrial.
Rui Correia defendeu que “deve haver um fundo para financiar empresas até um teto de 45 mil euros, com 20% de investimento municipal”.
Antes do encerramento do debate, houve lugar a uma curiosa questão sobre a possibilidade de fusão entre Caldas e Óbidos. Para Lino Romão, “não traz vantagens e haverá outras formas de colaboração”. José Carlos Faria sustentou que “não é prioridade, mas sim haver articulação”. Manuel Isaac considerou que “os dois municípios têm de se entender”. Teresa Serrenho disse que “devem fazer-se parcerias e não se ganha com fusões”. Tinta Ferreira garantiu que “Óbidos e Caldas vão melhorar as suas relações e vou propor a realização de cimeiras entre os dois municípios”. Rui Correia declarou que “não vejo nenhum problema na fusão sem perda de identidade”.
Mensagem final
“Não podemos correr o risco de Caldas se transformar num dormitório, alheio aos poderes de decisão, estamos cá para fazer tudo pela vida da cidade”, deixou como última mensagem o candidato da CDU.
“Vamos fazer investimento na indústria, na agricultura, no termalismo, no turismo e na cultura. Temos de ser uma cidade termal. Decidam se quere algo para mandar ou para ser mandado”, declarou o candidato do CDS-PP.
“Precisamos da experiência do PSD para quê? Para um arquivo municipal que não foi criado? Uma estrada para Santa Catarina zero? Conclusão da primeira circular zero, canil/gatil municipal zero, habitação jovem zero, plano do centro histórico zero, recuperação de imóveis degradados zero, zona industrial zero, incubação de empresas zero, lagoa de Óbidos zero, termalismo zero, hospital novo zero…vamos votar nestas pessoas, uma clientela assustada com a possibilidade de se afastar do poder? Vamos continuar na mediocridade?”, interrogou o candidato do PS.
“Ao contrário do candidato zero, nós apresentamos propostas concretas para benefício do concelho e não precisamos de um discurso negativista. Podemos ser realistas na gestão e manter os impostos baixos. O nosso espírito está a perturbar alguma oposição. Acreditamos na nossa capacidade de execução e estamos a iniciar um novo ciclo para imprimir uma nova dinâmica no concelho”, afirmou o candidato do PSD.
“A nossa candidatura não é contra os partidos políticos mas defende que a democracia não se limita aos partidos políticos. Daí que a voz dos cidadãos possa ter valor para uma mudança de paradigma necessária e urgente que se faça no concelho. Fizemos o primeiro programa eleitoral participativo e tivemos milhares de propostas de caldenses”, referiu a candidata do MVC.
“Todos queremos ser felizes onde vivemos. A realidade é que é uma cidade em decadência, o comércio tem fechado e o que está aberto tem sérias dificuldades, a indústria desapareceu e a agricultura não é muito valorizada. Temos propostas nesta matéria. Caldas devia ser uma cidade de saúde e de bem-estar. Temos de romper com essa cidade do imobilismo, e isso faz-se a votar à esquerda e não nos partidos que têm deputados na Assembleia da República e aqui dizem uma coisa e lá votam outra”, manifestou o candidato do BE.
Francisco Gomes
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