“Um momento para analisar as condições em que a insensibilidade da Câmara Municipal colocou este relevante trabalho social e para debater as respostas possíveis à pobreza e exclusão social”, apontou o BE, fazendo notar que “a Câmara Municipal desalojou a Associação Volta a Casa neste seu mandato”.
O encontro aconteceu no passado dia 13. “Passava um pouco das 21h00 quando veio ter connosco. O Joaquim Sá já tinha passado duas vezes por nós e pedido mais alguma paciência, enquanto terminava as tarefas que habitualmente o ocupam àquela hora. Finalmente lá nos sentámos na escadaria mais próxima do sítio onde o Joaquim Sá habitualmente faz a distribuição noturna de pão, na Avenida 1.º de Maio”, relatam Carlos Carujo, candidato do BE à presidência da Câmara e Lino Romão, candidato do BE à presidência da Assembleia Municipal.
“O Quim, como toda a gente o conhece e como os seus “utentes” o tratam e sempre trataram, apoia pessoas com carências alimentares em Caldas da Rainha vai para 30 anos. Durante muito tempo foi confundido com os que apoiava, e igualmente vítima do preconceito e do estigma. Mais tarde veio algum reconhecimento e com o apoio de mais pessoas de boa vontade constituiu-se uma associação. Durante nove anos, com esta cobertura institucional, ocupou um espaço cedido pela autarquia para fazer o que até aí sempre fizera na rua”, recordam.
Os bloquistas fazem notar que “a população ajudada pelo Quim Sá transporta consigo todos os problemas inerentes à exclusão, marginalidade, desemprego, adições de vária ordem, famílias disfuncionais, períodos de detenção prisional, doenças mentais. Durante nove anos, apesar das dificuldades, desde a inadequação à localização das instalações, à falta de acompanhamento técnico e institucional que a autarquia também deveria ter garantido, o essencial parecia garantido: havia um espaço a coberto da intempérie onde era possível fazer uma refeição, sem mais perguntas desnecessárias; fazer a higiene pessoal; lavar a roupa e vestir uma muda lavada”.
“A Associação de Volta a Casa foi despejada em 2010 das instalações do município. Num processo inenarrável, onde além de se meter em assuntos que deveriam estar no âmbito da autonomia associativa, a autarquia montou autênticas armadilhas para legitimar aquela medida desumana. O Joaquim Sá, pouco impressionado com as artimanhas da burocracia e com o cinismo do poder que se faz despercebido, continuou a fazer na rua o que antes fazia numa casa que lhe foi tirada por motivos fúteis. Afinal o essencial é alimentar quem tem fome”, vincam os candidatos.
“De lá para cá, apesar de todas as instituições que distribuem alimentos, das juntas de freguesia, às congregações religiosas, uma cantina da misericórdia, e outras entidades, como a Cruz Vermelha, por exemplo, o Quim continua a ser procurado por 60 a 70 pessoas diariamente, que valem por cerca de 100 se contarmos com os que ficam em casa à espera da comida. Continua a ser a primeira linha de resposta à pobreza, que se manifesta na sua forma mais atroz – a fome. Continua a alimentar aqueles que não são aceites, ou “aceitáveis” pelas “respeitáveis” instituições, talvez porque nem tenham papéis de identificação, ou porque o turbilhão de problemas em que vivem não lhes permite cumprir regras e regulamentos, quais bons alunos, premiados a pratos de sopa e sacos de alimento”, sublinham Carlos Carujo e Lino Romão.
“Agora já nem se nota a flutuação das campanhas agrícolas de verão que faziam baixar o número de refeições. O aprofundamento da crise fez com que as pessoas a alimentar agora sejam mais do que quando existiam instalações. E os que têm crianças sentem ainda mais dificuldades nos períodos de férias”, indicam.
“Tantas vezes confrontado com o preconceito e acusado de ser o protetor dos toxicodependentes, Joaquim Sá tem consciência que essa acusação é cada vez mais vazia. A pobreza há muito se fez transversal e o melhor para a combater, bem o sabe, é a criação de empregos. Quanto às adições, a crise também tem ai o seu papel – agora ganha preponderância a droga dos pobres: cada vez há mais alcoólicos”, contam os candidatos do BE.
“Pelo meio da conversa Joaquim Sá confidenciou-nos ainda um sonho. Tão singelo, mas tão nobre, que cremos poder partilhá-lo: um dia gostaria de ter instalações onde pudesse trabalhar com independência, sem interferência institucional. Sentimos que uma nova maioria na Câmara Municipal teria aqui uma prioridade incontornável. Em nome de uma cidade solidária. Despedimo-nos cerca das 22 horas. O Quim tinha ainda algumas tarefas a cumprir com os seus utentes antes de dar o seu dia por terminado”, referem.
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