Num artigo publicado no portal da Ordem dos Médicos, o bastonário recorda a visita de trabalho que fez aos hospitais das Caldas da Rainha e Torres Vedras. “A visita resultou do indisfarçável mal-estar e descontentamento de muitos profissionais e população, pela decisão política de fundir os Hospitais daquela região, no pressuposto de uma melhor organização e obtenção de ganhos em saúde, melhor dizendo, corte esperada de alguns milhões. Mais uma decisão sem estudos conhecido. Para concretizar o propósito, nada melhor que nomear para a administração quem subscrevesse sem hesitações os objetivos traçados e decidisse “sem ouvir” de forma construtiva os principais interessados, apesar do jogo do “faz de conta que ouve”, que só resulta para mentes menos atentas e menos bem informadas ou mais subservientes”, refere.
“Por que razão terá a Assembleia Municipal de Caldas da Rainha pedido a demissão do presidente do CHO? Por razões políticas é que não foi. Certamente por defender as populações locais e por ter perdido a confiança e estar descontente com as atitudes do conselho de administração do CHO”, sublinha José Manuel Silva.
Para o bastonário, a gota de água que faz transbordar o copo foi a avaria do ar condicionado no bloco operatório, um problema que se arrasta há meses e que levou os cirurgiões a negarem fazer operações programadas.
“Após inúmeros alertas para os riscos que os doentes corriam, nomeadamente de infeções hospitalares graves, os médicos do Hospital das Caldas da Rainha não foram deixados com outra alternativa, vendo-se obrigados a manifestarem a sua indisponibilidade para continuar a trabalhar num bloco operatório com o ar condicionado avariado há meses. Na sequência desta necessária decisão médica, vem o presidente do CHO dizer que não foram adiadas quaisquer cirurgias e que das dez salas de operações do Centro Hospitalar só quatro é que estão avariadas. Curiosa e falaciosa manipulação das palavras, tipo esperteza simples, pois o Hospital das Caldas da Rainha não tem dez salas de operações, mas sim todo o CHO. Chama-se a isto deturpar a realidade e o contexto, a pretexto de tentar explicar o inexplicável, querendo seguramente confundir os menos informados”, sustenta o bastonário.
“Além do mais, as cirurgias só não foram adiadas porque não foram programadas, e, na realidade, os doentes da cirurgia geral não foram operados, nem o serão nas Caldas da Rainha até que o ambiente dessas quatro salas de operações se torne suportável para proporcionar adequadas condições de trabalho e segurança para os doentes e os profissionais. Logicamente, em defesa dos doentes, os cirurgiões não aceitaram, nem podiam aceitar, a peregrina sugestão de operar somente quando o tempo estivesse mais fresco ou programar apenas cirurgias “mais pequenas”. Teriam sido os percursores de uma nova e inusitada especialidade, a de “cirurgião Borda-d’água”, comenta José Manuel Silva.
A Ordem dos Médicos solidariza-se com os médicos do Hospital das Caldas da Rainha, considerando que é com atitudes como as que tomaram que se pode “evitar a destruição da qualidade do Serviço Nacional de Saúde”.
Francisco Gomes
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