A decisão ainda não foi tomada em reunião de Câmara, depois da medida ter sido exigida por uma centena de comerciantes, que entregou na autarquia uma petição a pedir para ser autorizada a circulação de veículos ligeiros.
As obras da regeneração urbana e a complicação que é circular pela cidade, nas zonas mais centrais, são o pretexto para se voltar a falar num assunto que não é consensual.
Os comerciantes sustentam que o centro da cidade tem ficado esvaziado, com reflexo na afluência às lojas, o que agrava a crise já existente.
Uma representação dos 110 comerciantes signatários foi à reunião de Câmara de 11 de março entregar a petição, onde apontam que “neste momento é extremamete difícil a circulação automóvel na cidade, devido às obras que estão a ser levadas a cabo nas suas mais diversas vias, o que acaba por afastar definitivamente os consumidores do centro da cidade”.
A Câmara ainda não aceitou reabrir o tráfego (até agora apenas permitido ao Toma, viaturas policiais ou em missão de emergência e veículos autorizados, e também a carros para cargas e descargas entre as 6 e as 10 da manhã e das 19 e as 22h). Na passada segunda-feira, a reunião camarária prolongou-se até à noite, sem que tivesse sido posto à votação o assunto.
Segundo os defensores desta medida, “diariamente circulam a qualquer hora e sem qualquer restrição, veículos camarários de recolha de detritos e de outros serviços, veículos de recolha de valores, muitos veículos a quem a autarquia liberalizou a circulação para mero estacionamento no Beco do Borralho e viaturas de todas as operadoras de telecomunicações e de energia, independentemente de as avarias ou os serviços se destinarem à artéria em questão ou a outras artérias circundantes”.
“Existe um agente gratificado, de segunda a sexta-feira, das 10h às 18h, e aos sábados, das 10h às 13h, que tenta impedir o trânsito a outros veículos”, indicam.
É sugerida a circulação “unicamente a veículos ligeiros, ficando vedadas a camiões, viaturas de transporte de passageiros (excepto o Toma) e a veículos de grande porte”, a menos de 30 kms/h, e que seja proibido o estacionamento, a paragem e a permanência de viaturas nas zonas destinadas aos peões, mantendo-se a possibilidade de paragem de veículos no período destinado a cargas e descargas.
A colocação de pinos limitadores entre a zona para peões e a zona de circulação automóvel, sinalética apropriada e bem visível das regras de circulação e estacionamento, sinalética informativa da existência do parque de estacionamento da Praça 5 de Outubro, junto ao edifício do CTT, no cruzamento da Rua Heróis da Grande Guerra com a Rua Henrique Sales, e desta com a rua Coronel Andrada Mendoça, são outras medidas solicitadas.
Os comerciantes querem também que seja solicitado às autoridades que “obtenham percursos alternativos, quando as ocorrências não sucederem na artéria ou nas circundantes, de forma a evitar acidentes, considerando as altas velocidades a que por norma circulam as viaturas de emergência”.
“Durante cerca de uma década parte desta via esteve encerrada ao trânsito. Tal solução veio a mostrar-se prejudicial à nossa actividade comercial. Pensamos chegar o momento de experimentar nova solução”, manifestam.
O assunto foi comentado no programa “Pontos de Vista”, na Mais Oeste Rádio, numa parceria com o Jornal das Caldas.
Manuel Nunes, do PS, declarou que “cortaram-se acessos, não se consegue circular e os que são de fora nem sabem como sair da cidade”. “A Rua Heróis da Grande Guerra é uma artéria fundamental de circulação e Caldas está completamente estrangulada. Se não se fizer nada a cidade fica asfixiada, pelo que concordo com a medida”, manifestou.
O socialista recordou que “mesmo com polícias pagos e dois sinais de trânsito proibido” há quem prevarique.
Duarte Nuno, do CDS-PP, comentou que “os comerciantes estão a passar por muitas dificuldades e pediram reuniões com os partidos políticos. As obras de regeneração estão a afastar os clientes do comércio tradicional. A malha mais antiga das Caldas tem um grave problema de mobilidade. Uma cidade precisa de ser atravessada nos dois sentidos e de norte para sul deixou de existir”.
Defendendo que “tem de haver um equilíbrio entre ruas pedonais”, Duarte Nuno explicou que pretende-se desta forma “ajudar a chegar a zonas de estacionamento”, apesar de não acreditar que a deliberação “resolva o problema do comércio”.
Vítor Fernandes, da CDU, sustentou que “a rua estava fechada ilegalmente porque a decisão tomada pela Câmara não foi levada à assembleia para ser ratificada”.
“Não há alternativas, as pessoas que vêm visitar as Caldas perdem-se no labirinto das ruas, só nós é que conhecemos. É um caos circular na cidade”, sublinhou.
Alberto Pereira, do PSD, é de opinião que “as zonas centrais sejam sobretudo pedonais, porque o comércio desenvolve-se mais”, reconhecendo que com a situação da crise “os comerciantes sentem dificuldades e isto é uma tentativa de encontrar uma solução”.
“As obras [de regeneração] causam sempre constrangimentos, mas não vejo que haja um caos tão grande”, alegou, sugerindo que a Rua Heróis da Grande Guerra permaneça fechada ao trânsito aos sábados de manhã, quando há mais movimento na cidade e “onde se pode fazer animação e melhorar a capacidade de vender”.
Pedro Amorim, do BE, considerou que “passando lá carros ou não, o volume de negócios vai ser o mesmo ou pior, da maneira como a crise está a aumenta”
“Os comerciantes ficavam melhor servidos se a Câmara organizasse programas de cultura na rua do que se passarem carros e não poderem parar. É a mesma coisa do que montar uma loja na autoestrada”, frisou.
Encerramento das Termas é “suspeito”
O deputado do CDS na Assembleia da República, Manuel Isaac, igualmente vereador na Câmara das Caldas, reuniu na passada quarta-feira com o secretário de Estado do Turismo, no sentido de se encontrar uma parceria público-privada para modernizar as termas caldenses, aproveitando fundos comunitários disponíveis para o turismo e lazer, e mantendo a ligação ao Serviço Nacional de Saúde, revelou Duarte Nuno.
O encerramento do Hospital Termal por causa de uma bactéria deixa “muitas dúvidas” a Vítor Fernandes. “Isto não é inocente, tem outras motivações por detrás”, manifestou. “Este hospital devia ter uma administração autónoma”, defendeu.
“Está na altura de tomar medidas locais que tenham impacto ao nível do Governo, de modo que se perceba de uma vez por todas que nós, caldenses, queremos o Hospital a funcionar. Na minha opinião, a Câmara devia ser chamada à gestão, de uma forma direta ou indireta, associada ou não a uma entidade vocacionada para a gestão de unidades de saúde”, manifestou Alberto Pereira
Pedro Amorim declarou que “não se consegue ter rentabilidade com o Hospital com ele sistematicamente fechado. Não se percebe e cada vez é pior, o que leva a suspeição de que há coisas escondidas. Não é só o Hospital que sofre, é a restauração, o comércio e a cidade. Concordo que devia haver uma administração autónoma da do hospital distrital”.
“Já nem consigo falar mais nisto. Há vários anos que digo que é importante para o desenvolvimento económico e não funciona, impedindo que haja pessoas a serem atraídas para a cidade”, afirmou Manuel Nunes.
Francisco Gomes
0 Comentários