“Quero agradecer ao professor Henriques Lopes, que deixou a promessa de apoiar quem tiver a iniciativa de dar o primeiro passo para a candidatura à certificação das termas das Caldas”, referiu António Curado, que vai entregar um documento ao Ministro da Saúde, com as conclusões do congresso relativamente à “necessidade” de colocar “o termalismo das Caldas da Rainha ao serviço do desenvolvimento desta região”.
O elemento da comissão organizadora destacou ainda a intervenção de Luís Campos, presidente do Conselho Nacional para a Qualidade em Saúde, que disse que “é mais rentável haver uma estrutura hospitalar nova do que sustentar cinco ou seis estruturas pequenas”.
António Curado lamentou a ausência no congresso de alguns órgãos tutelares mas espera que “as boas decisões aqui discutidas lhes cheguem e os sensibilizem, evitando consequências gravosas para as populações, como o possível encerramento de serviços hospitais, despromoção de urgências e valências, numa região já carenciada de cuidados hospitalares”.
Termalismo em destaque
Henrique Lopes apresentou um “business case” (estudo preliminar) sobre a forma como reforçando os cuidados de saúde por via do Termalismo é possível criar a médio prazo em Portugal 5500 postos de trabalho diretos e 2000 indiretos. “A atividade pode ser um criador de riqueza e exportação”, revelou o professor, acrescentando que “o primeiro passo a dar é certificar as Termas”.
Henrique Lopes salientou que “existe uma crescente procura internacional do termalismo” e que Portugal tem “um imenso potencial que não está a explorar, ao contrário do que acontece noutros países como Alemanha, Itália, entre outros”.
Este responsável apontou que é possível aproveitar recursos financeiros no âmbito do QREN para apoiar estes projetos, referindo que é “necessário” posicionar Portugal como destino de Wellness (cuidados de saúde), captando o “mercado externo”. Para isso revelou que é necessário duplicar o número de zonas termais em exploração, intensificar o número médio de hotéis de 4 para 6 por estância e associar algumas das estâncias a serviços de saúde curativa para cross-selling com o turismo de saúde. Referiu ainda que é importante “especializar algumas estâncias com outros segmentos wellness: controlo de peso, turismo de natureza, condições laborais, etc”.
O administrador termal João Almeida Dias é da opinião que “Caldas tem tudo o que é preciso para ser um caso de sucesso”, devido sobretudo às suas águas “que são um recurso natural com enormes potencialidades e que pertence ao país”. Não desvalorizando a importância da Rainha D. Leonor e o património associado ao termalismo das Caldas como o Hospital Termal, a mata, os pavilhões do parque para as Caldas da Rainha, João Almeida disse que a água termal, que tem efeitos benéficos para a saúde, é o fator que esta localidade precisa para se “diferenciar no mercado” e é “a motivação necessária para conseguir captar turistas”. Defendeu ainda “a captação em maior profundidade da água termal das Caldas”. Referiu também que a preservação e reabilitação do património cabe “à Autarquia”.
O termalismo suscitou um interessante debate entre o público e oradores. Jorge Mangorrinha, autor do livro “O que é uma cidade termal”, também esteve presente, lamentando “a forma como o termalismo tem sido tratado nas Caldas”, destacando a importância de todo o “património ligado ao hospital termal”. Várias opiniões foram dadas mas todos são unânimes em relação ao potencial da “água termal” e que é a resposta para o futuro do termalismo das Caldas.
Na cerimónia de encerramento do congresso, o presidente da Câmara, Fernando Costa, disse que fechar o Hospital Termal das Caldas era há uns meses atrás a primeira conclusão do Ministério, mas que hoje “a nossa sorte é que as águas termais são importantes e têm recursos próprios”.
Segundo o autarca, a despesa do hospital termal é de 700 mil euros por ano, porque os utentes neste momento são dois mil e geram uma receita na ordem dos 350 mil euros. “O hospital tem um prejuízo de cerca de 300 mil euros”, revelou, acrescentando que se o hospital tivesse quatro mil utentes era o suficiente para ser rentável”. Fernando Costa pediu aos intervenientes do congresso que o ajudem a convencer o Diretor Geral da Saúde, Cunha Ribeiro, que as águas termais devem servir para “fins de saúde e terapêuticas, nomeadamente nas doenças do foro osteoarticular, incluindo a artrose e não só na vertente de “spa e bem-estar”. Lançou um repto ao Ministério da Saúde que utilize os dinheiros comunitários para o relançamento do termalismo nas Caldas, que a Câmara comparticipará com o restante. “O património ligado ao Hospital Termal precisa a curto prazo de um investimento na ordem dos sete milhões de euros e o Hospital Termal em si precisa de um investimento de dois milhões de euros para se ver livre das bactérias e para ter uma nova dimensão. Se houver fundos comunitários a Autarquia está em condições de pagar até um meio e milhão de euros, porque esta é a grande matriz das Caldas”, afirmou o presidente da Câmara.
Reorganização dos cuidados de saúde na região
“Quais são os cuidados de saúde necessários e suficientes para a região? Reconhecendo os tempos de crise, qual a reorganização mais racional?”, foram algumas das questões discutidas.
Nuno Santa Clara, dirigente do Distrito Médico do Oeste da Ordem dos Médicos, falou da reorganização de cuidados hospitalares, onde evitou dizer o que “seria ideal” porque têm de trabalhar com “aquilo que já têm”. “Face aquilo que temos, o que me parece fundamental é a alteração dos estatutos de direito administrativo do Centro Hospitalar. Queremos uma capacidade de gestão racional dos recursos”, disse este responsável, apontando que “há uma reorganização interna dos serviços que tem de ser alterada para criar massa crítica e para criar critérios que possam melhorar a eficácia e a qualidade dos serviços que têm que funcionar de acordo com uma atividade seriamente contratualizada com responsibilização das lideranças e com a validação dos resultados de uma forma consequente”.
“Ouvimos falar do modelo das unidades de saúde familiar (USF) a nível dos cuidados primários e que funcionam tão bem, não se percebe porque é que esse modelo ainda não foi transposto para dentro dos hospitais”, questionou Nuno Santa Clara.
Quanto à fusão dos hospitais de Torres Vedras e Caldas da Rainha, o médico disse que até agora não “aconteceu nada e não se sabe o que é que vai acontecer”. “Depois de um ano e tal a falarem da fusão destes hospitais, parece que nunca se falou de nada. Agora andamos todos a assistir a auscultações, conversas, como estivéssemos completamente virgens de ideias a este respeito. Os profissionais andam desmotivados sem saber em que projetos vale a pena apostar”, manifestou.
Luís Pisco, vice-presidente da Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo (ARSLVT), abordou os cuidados de saúde primários, referindo que os “cidadãos esperam que o sistema de saúde lhes facilite acesso a cuidados de saúde com qualidade, equidade e segurança no momento e local onde deles necessitam”.
Indicou que a reconfiguração dos centros de saúde obedeceu a um duplo movimento: “Constituição de USF, pequenas unidades funcionais autónomas, que proporcionam maior proximidade ao cidadão maior qualidade de serviço e a agregação de recursos e estruturas de gestão (ACES), eliminando concorrências estruturais, e obtendo economias de escala”.
Segundo este responsável parece ser consensual que é necessário um maior investimento nos cuidados
de saúde primários, que permita cuidados de saúde de maior qualidade, com equidade, e a um preço que os cidadãos e a sociedade possam pagar. Revelou que “há alguma desigualdade na distribuição do orçamento de saúde do ARSLVT. “Cerca de 70% é gasto com os hospitais e 30% com cuidados de saúde primários e isto precisava de algumas alterações e ajustes”, explicou Luís Pisco.
Luís Campos, presidente do Conselho Nacional para a Qualidade em Saúde, revelou que fazer hospitais novos é um bom investimento e que deve ser deve ser “priorizado”. Disse ainda que a construção ou remodelação dos hospitais deve ter uma carta hospitalar coerente como termo de referência. O debate à volta da nova reorganização dos cuidados de saúde na região também suscitou uma conversa construtiva com algumas críticas ao seu funcionamento.
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